Não dá para escrever sobre outra coisa hoje. Simplesmente, não dá.  O olhos ainda se encharcam, os pensamento se desalinharam, as ideias se engriparam todas...Perdi um amigo esta semana, precisamente na segunda- feira (24/07/17). Seu nome:  JOÃO FERNANDES DOS SANTOS – O João esposo da Soninha do BB; pai da Isabel e da  Guardênia; O João do Bar da Galera; O João impressor de Off-Set na Serviços Gráficos Expresso União; O João, atualmente, impressor da Roland Pratica na  Gráfica A3... O João amigos dos amigos...

Chegou de manhã na empresa, marcou o ponto para trabalhar, o batente por lá é acirrado e logo cedinho,  nem deu para cumprimentá-lo como de costume. Ele havia tomado um copo d’ água, passei, rapidamente em sua frente, daria no máximo, cinco, seis  passos levaria um serviço a uma máquina próxima e voltaria para saudá-lo e fazer uma brincadeira, qualquer como de costume para descontrair. Mas, ele se apoiava com as duas mãos em uma máquina de confeccionar agendas, achei aquilo muito estranho, e mais estranho ainda o jeito  que havia me olhado. Que olhar  Parecia querer me falar algo. Coisa de segundos, voltaria para saber a razão daquele intrigante olhar.  Quando voltei, a surpresa. Ele havia caído de costas sem consciência.  A Priscila, que fazia o café, gritava por ajuda, o colega, Gilberto, estava do lado, veio correndo. Aos poucos, todos atônitos o cercaram. O companheiro, Edvaldo, teve uma brilhante iniciativa, havia aprendido um procedimento  com um médico, depois que a esposa passou por alguns desmaios. Ergueu os pés do amigo, aos poucos, foi o correndo a oxigenação no cérebro e ele recobrava os sentidos, inclusive, voltando a cor normal no rosto. Vi que estava melhor retirei-lhe os óculos e perguntei-lhe se sentia alguma dor, me respondeu que não. Nisto com muita agilidade e presteza,  a ambulância do Corpo de Bombeiros, chegou, para conduzi-lo ao hospital. Estava praticamente lúcido. Perguntaram- lhe o nome, respondeu sem titubear. Ele próprio, pediu sua canteira com documentos. A pedido dos Bombeiros, se ajeitou na maca e rapidamente foi levado. A caminho teve outra crise na ambulância, sendo praticamente reanimado pela equipe que o conduzia. Sendo  atendido imediatamente na emergência do Hospital São lucas, mas, foi acometido por outra crise...lamentavelmente, não suportou. Veio a falecer com o diagnóstico de   embolia pulmonar (infarto)...Chegou a notícia, repassada entre soluços...

 Foi uma lasca do meu coração com ele. Falo da amizade de uma vida. Meu padrinho de casamento, daqueles que ao comer um doce, ou um biscoito, guardava sempre um pedaço pra mim. Preocupava com minha pressão, censurava meu cafezinho demais. "Cuidado Nilton Santos" (Sei lá por que Nilton Santos rs). Era pra mim o "Jhone Macdonald," pois era fera na cozinha. Minha carona no Fiat ‘piriquitin do reino’ todos os dias.

 Esta semana na Gráfica A3, portanto, pisarmos o chão duro da realidade. Tivemos que enfrentar a dor mais aguda da existência: o luto. Particulaarmente, estive anestesiado, vivendo a fase da negação, mas, um dia depois a ausência do amigo cravou meu peito sem dó nem piedade... O mundo ficou árido, tudo cinza, tudo vazio. Amigos são insubstituíveis. Com certeza, Amizade sincera é o maior valor desta vida.

Aprecio muito o velho livro "O Estradeiro" de Juvenal Arduini, uberabense, Sacerdote, Prof. Universitário, Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, assentua-nos que: “A palavra bíblica nos diz que encontrar um amigo fiel é encontrar um tesouro. Por isso mesmo, amigo fiel não se encontra com facilidade, como acontece também com os verdadeiros tesouros.” O autor nos diz ainda  que  na amizade, “conta-se com a pessoa e contar com o amigo não é contar com seu dinheiro, com seu prestígio, com seu serviço, com sua utilidade. Amizade não é investimento, não é crediário.” Concordo plenamente com o autor. "Contar com alguém significa contar com sua compreensão. E contar com sua compreensão não é contar com sua aprovação indiscriminada. O amigo pode discordar de nós, pode não fazer o que fazemos. Torcer por times diferentes. Ser amigo não é rubricar procedimentos. È ajudar a escrever vidas complexas e oscilantes. Contar com alguém é sentir que a pessoa tem a capacidade de entender nossa situação e de acompanhar nossos passos, de avaliar nossos acertos e desacertos, sem espantar-se. Contar com amigo é saber que não seremos abandonados somente porque somos o que somos. Contar com alguém é ver que a pessoa está do nosso lado, mesmo que não seja do nosso lado .Contar com o amigo é perceber que na pessoa, a capacidade de entender é maior do que a capacidade de rejeitar. A amizade não é apenas um recanto agradável. É um momento forte da existência, em que a pessoa ainda tem a capacidade de sentir-se homem entre os homens, irmãos entre os irmãos.”

Fabrico Carpinejar é o poeta mais  doido e lúcido que conheço, tem umas tiradas sobre a amizade que adoro: “O amigo é aquele que tem todos os motivos para desistir de você e não desiste. Você fez por merecer a separação. Exagerou. Afastou o abraço, gritou que ele não o compreende. Mas o amigo entende até na incompreensão. Aguarda entender.

Eu preciso de um amigo que não me renuncie quando já desisti. Que me lembre de não desistir. Que seja insistente como o esquecimento dos velhos. Que desperte o meu humor no desespero, que se desespere com a ausência de notícias...O amigo sempre volta. Pensando bem, não volta, nunca saiu do lugar. Ele é a rua que atravesso para chegar em casa.”

Morrem apenas aqueles que matamos dentro. Nem a morte com sua imponência pode matar aquele que vive em nós..Digamos que perdi um amigo especial, insubstituível. É tudo mistério, mas trago no peito a esperança cristã do reencontro na eternidade. A morte não tem a última palavra.  Essas verdades  adoçam e abrem para nós uma eterna fonte de consolação e conforto. ...Descanse em paz, eterno amigo...(Publicado 29/07/17. Coluna O Meio e Mais, Gazeta de Patrocínio.)