Um menino órfão de mãe, vendedor de verduras nas ruas de Patrocínio, chegou ao topo do empresariado nacional, mas sem esquecer a caridade cristã e sem perder a essência da humildade.
Neste dia 08/08, Sr. Nenê Constantino, celebra seus 90 anos. Uma data para ser condignamente celebrada. A história de vida, a visão empresarial, sobretudo, o coração generoso do Sr. Nenê, precisa chegar ao conhecimento de todos nesse país. É uma universidade de vida inspiradora para futuras gerações. Homens desta magnitude, não são fabricados por ai em série, surgem no máximo dois ou três em cada cem anos. Podemos citar um Roberto Marinho, Dr. Augusto Antunes, Antônio Ermírio de Morais, Samuel Klein e outros com trajetórias empresariais de cair o queixo. Mas, quantos deles se romperam do nada? Quantos deles vieram como aquela sementinha teimosa em terreno improvável. Quantos nasceram, creceram e deram frutos no chão duro da vida? O hoje, grande Constantino de Oliveira, foi essa sementinha em sua terra natal. (Aliás, para quem gosta de olhar um ser humano e julgar pelo que vê, uma pergunta: Quantas florestas poderão surgir de uma semente?)
Assim era. Quem visse um menino esguio e franzino empurrando um carinho de alface nas ruas de Patrocínio, poderia não dar muito pelo seu futuro. “ No máximo vai adquirir um pedacinho de terra, algumas cabeças de gado, casar e criar os filhos e viver uma vidinha para o gasto”. Mas esqueciam de notar que aquele menino, ás cinco da manhã já estava de pé, preparando um carrinho de mão de verdura para descer a rua, vendendo de casa em casa. Enquanto os outros brincavam, se divertiam, ele ajudava em casa, "ganhando uns cobres".
Sr. Nenê, perdeu a mãe, Ana Jacinta, aos 07 anos. Geralmente um lar sem a figura materna, tem tudo para se desmoronar. Sr. Joaquim Constantino, porém, assumiu as rédeas. Foi pai e mãe com louvor. Os cinco filhos homens tiveram no pai, zeloso e trabalhador, um grande espelho.
Poderia discorrer aqui sobre qualquer um dos filhos bem criados do Sr. Joaquim, seja Zezé, Zizinho Ildeu ou, Paulinho, mas nosso facho de luz hoje, é sobre aquele que neste dia 08/08/21, celebra seus 90 anos: Sr. Nenê Constantino.
Tive a honra de ser colaborador em uma de suas empresas durante 29 anos e 09 meses. ( Serviços Gráficos - Patrocínio - MG) Metade de minha vida para ser exato. Hoje aposentado, ás vezes penso, como teria sido minha vida, se o Sr. Nenê, não tivesse existido, ou se ele tivesse desistido lá nos primeiros obstáculos da vida empresarial. De minha parte: Gratidão. E lembro que foram milhões e milhões de empregos gerados em centenas de empresas, dirigidas pelo Sr. Nenê, ao longo de sua vida, ( Hoje Grupo Comporte, comandado pelos filhos) mas, quantos pensariam em lhe agradecer pelo emprego que tiveram - ou tem. Pois é. Desde os tempos bíblicos, 09 em cada 10 pessoas não tem o hábito da gratidão, né?
Avistei-o de longe algumas vezes, falei pessoalmente com ele, outras poucas; mas sempre acompanhei admirado sua monumental história de vida. Posso elencar alguns fatos que comprovam seu tino empresárial, sobretudo mostrar a sua grandeza humana. Eis um fiozinho de luz sobre a sua vida:
TRABALHO: Quando tinha 10 anos, Sr Joaquim Constantino, perguntou ao Sr. Nenê, se ele queria ir para Uberaba estudar, ou trabalhar. Escolheu trabalhar. Muito inteligente, estudou o básico na Escola Honorato Borges, tirou todas as lições de letra e foi ser Doutor Honoris Causa no trabalho duro da vida. Seu nome deveria ser Constantino (trabalho) de Oliveira.
HUMILDADE: Chegou ao topo máximo do empresariado nacional sem perder aquela humildade mineira. No cotidiano se veste como se fosse um motorista do Expresso União, sua primeira empresa. Não usa gravata, ( ou usa contrariado) guarda com carinho uma simples Caneta Bic que recebeu de presente, após avalizar com ela, a compra da Empresa Caxiense. Guarda com o máximo carinho uma carta em forma de prece, que recebeu da Irmã Maximiliana. Isto há 40 anos.
SOLIDARIEDADE: Muito antes de existir o conceito de “Reponsabilidade Social”, Sr. Nenê, longe da mídia, sem marketing, sem foto, sem registro em jornal, já praticava a “ Caridade Cristã”. Fazendo com a mão direita, sem que a esquerda soubesse. É próprio dele, comprar uma chácara e doá-la para a Apae de Patrocínio, “fazer renda”. É típico dele, doar um carro para a mesma entidade sortear e levantar recursos para sobreviver. É natural dele, vir passear na cidade natal, perguntar pelo Hospital do Câncer, ficar sabendo que, “ ainda nem saiu do papel”, entrar em cena e ajudar seus fundadores a botá-lo pra funcionar. É bem ele, passar perto de um motorista, mecânico, qualquer colaborador, que ele sabe que presta um bom serviço em sua empresa, colocar sutilmente uma gorjeta em seu bolso, dando uma cochichadinha: “É para o leite das crianças” Isto em Patrocínio. E lá em Brasília? e no Brasil todo? Quantas pessoas carentes, entidades assistenciais, foram beneficiadas por sua espontânea e anônima generosidade. Não foi manchete. Não teve self nas redes sociais. Ninguém ficou sabendo. Isto é prejuízo para a sua imagem? De maneira nenhuma. O homem de fé, descansa, sabendo que está tudo registrado nas páginas do Livro da Vida lá na Eternidade... É o que importa.
FÉ: Sr. Nenê, tinha uma santa tradição. Sempre que recebia nova frota de ônibus, fazia questão de reunir a família toda, com a presença de um Sacerdote, e ajuda de pessoas gradas da sociedade patrocinense, aspergiam água benta nos novos veículos. Era ações de graças e pedido de benção. Provando que seu negócio foi "dirigido por ele, mas foi sempre guiado por Deus".
OBSTININAÇÃO: Prosseguir como motorista e se manter empresário, foi sempre uma prova de fogo. 20 anos antes do asfalto na região, ou era poeira e buraco, ou era lama e atoleiro. Carros quebrados, carros tombados, eram rotinas em meio ao sertão a perder de vista. Os sócios lá do início, largavam-o de mão, deitavam com as cargas, Sr. Nenê, ele, pessoalmente ao volante , prosseguiu. E porque ele prosseguiu, eu tive um emprego um dia.
COMPROMISSADO: Está ai um homem que vai direto ao assunto. Nada de lesco - lesco e lero - lero. Papo reto nos negócios. Com o Sr. Nenê, não existe duas palavras. Marcou data, marcou horário lá está ele como bom mineiro. Somente uma vez deu uma atrasadinha básica. Digamos que foi para dar mais emoção na turma. Foi no dia do seu Casamento com a Dona Áurea. “ Dia mais feliz de minha vida”, costuma dizer. Data marcada para o dia 05 de Outubro de 1957, na Igreja Matriz de Patrocínio. Na véspera, o noivo estava, fazendo o quê? Tra-ba-lhan-do. E trabalhando em Goiás, num lugar isolado, sem contato telefônico. Dia 02, nada do noivo, dia 03, cadê o homem. "Será que ele vazou na braquiária?" Sabe como é a comicheira do povo, né? Mas, estamos falando do Sr. Nenê. Dia 04, de outubro de manhã, olha ele desfilando nas ruas de Patrocínio, pronto para vestir o terno e subir no altar. Chegou a tempo e a hora de honrar seu maior compromisso na vida.
ABENÇOADO: Sempre esteve no lugar certo na hora certa. Como naquele dia, Sr. Nenê, querendo trabalhar 24 por dia, encontrou alguém querendo trabalhar apenas 3 horas. Foi o seguinte. Indo de Patrocínio para São Paulo, viajou a noite inteira, chegando na cidade de Leme, varado de fome, como estava, parou para tomar um café. Um moço veio assuntando e rabiando por ali, chegou perto e perguntou se seu caminhão era a gasolina. Era. Disse que sabia de alguém que tinha um caminhão grande e queria trocá-lo por um menor. Boa prosa, catira feito. Alí nem foi um negócio, foi foi um salto na vida. Isto, ás 5:00 da manhã. Ele trabalhando até na madrugada e Deus o ajudando dia inteiro. Começou por ai a saga dos FNMs. Que Sr. Nenê, chamava de “Fábrica de Fazer nota de Mil”.
PERSPICAZ: Ao levar uma carga para o Recife, viagem sofrida, comendo pão com linguiça. Foram 3.270 Km na ida, e 400 Km, na volta. Chegando á capital pernambucana, descarregou a carga, sabendo que voltar com o caminhão vazio seria prejuízo. Conversando com um rapaz que o ajudava a descarregar e este, disse alguma coisa sobre “pau de arara”. O papo rendeu. Um falou em pernambuquês, o outro perguntou em mineirês: “Uai, sô, o que é esse trem?”- “ôxente, num sabi, é transporti di genti ni caminhão”. Sr. Nenê, descobriu, assim sua verdadeira vocação na vida: Transportar as pessoas com segurança e comodidade. Nascia, então, o Projeto Jardineira. O nome ‘Jardineira’ em francês significa “para todos”. Transporte para todos. (Qualquer semelhança com surgimento de uma empresa aérea inclusiva, não é mera coincidência).
VISIONÁRIO: 40 anos depois, quando chegou aos 69 anos, faixa etária em que muitos se aposentam, calçam chinelo e saem de cena, Sr Nenê, queria voar. Isto mesmo. E voar alto. Fundou a Gol em parceria com os filhos. De onde surgiu a ideia? Bem...certa feita, Sr Nenê, fez uma viagem aérea com uma concorrente, achou absurdo o valor daquela passagem. Quando reclamou com o dono daquela empresa, recebeu uma resposta um tanto atravessada: “Não tenho culpa se voce não tem dinheiro para viajar de avião”. “Sei... voce me paga”- Sr. Nenê, disse consigo mesmo. Mexeram com a pessoa errada. Ou melhor - com a pessoa certa. E assim, no dia 15 de Janeiro de 2.000, a Gol Linha Aéreas Inteligente, fazia seu voo inaugural do Aeroporto de Brasília em direção ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Sr. Nenê lá estava orgulhoso ao lado de Dona Áurea. ( Me perdoem o trocadilho a seguir) A satisfação era de um pai que havia deixado os filhos "na cara da Gol". A “ laranjinha voadora” democratizou as viagens de avião no Brasil e na América do Sul. Um case de sucesso no mundo. (Na foto, momento único:Sr. Nenê; o filho Júnior, lado a lado com o Presidente mundial da Boeing, Alan Mullaly - considerado o semideus da economia mundial.)
FAMÍLIA: A base sólida. Projeto divino. Ao lado de um grande homem, uma grande mulher; ao lado de um grande homem e uma grande mulher, grandes filhos. O enlace matrimonial com Dona Áurea, completa 64 anos. Foram dois diamantes que se encontraram pelos planos superiores. Dona Áurea é uma fortaleza de virtudes. MULHER CHEIA DE FÉ, SÁBIA, INTELIGENTE, SOLIDÁRIA, DISTINTA, GUERREIRA E HUMILDE. “Coisa feita de ouro", diz o dicionário, tentando descrevê-la. Companheira ideal, retaguarda forte para os propósitos de vida do Sr. Nenê. Um homem que, por vezes, chagava ás tres horas da manhã e saia ás 6 horas, para a labuta . Dessa sólida base familiar, nasceram os filhos: Aurivânia, Auristela, Ricardo, Joaquim, Cristiane, Júnior e Henrique, netos e bisnetos, todos honrando o sobrenome Constantino. É preciso ressaltar que há um caso raro no âmbito familiar, sobretudo no mundo corporativo: Todos filhos e filhas, do Sr. Nenê e Dona Áurea, herdaram o senso de responsabilidade, a visão empreendedora e o espírito solidário do pai e da mãe. O que mais o Sr. Nenê pode querer da vida?
90 ANOS: Com muito a comemorar. Um menino órfão de mãe, vendedor de verduras nas ruas de Patrocínio, chegou ao topo do empresariado nacional, isto é muito significativo, muito louvável. Mas, seu maior feito, foi, chegar lá entre "os maiores e melhores", sem esquecer da caridade cristã e sem perder a essência da humildade.
Sei que já solicitou ao Ronaldo Samuel, que lhe providenciasse, café, queijo e doces típicos de Patrocínio para comemorar a data com a família. Aliás, outra eterna atitude nobre de sua parte: Patrocínio nunca se afastou de sua mesa, de sua cabeça e de seu coração. Tanto que até rima: Patrocínio/Constantino.