O CANTO MODERNO DA SEREIA

Já ouviu o canto moderno que a sereia tem? Obviamente, mesmo que só de ouvir falar, você deve saber que este conto na vida real ganhou uma “nova roupagem”. Tudo começa com você, um barco e uma vontade por novas idealizações, seja na área profissional, como subir de cargo ou na área pessoal, como constituir uma família.

Velejando seu barco por águas tranquilas e guiado por uma bússola, você ouve uma melodia encantadora e é envolvido por ela. A perfeição idealizada, a oportunidade que procura, a chance que espera no compasso daquela linda melodia e numa figura exacerbadamente simpática. Como resistir? Agarra com todas as suas forças sem pestanejar. Está a um passo a frente na estreita linha tênue de quem era e de quem poderá ser.

Projetar o certo nesse novo incerto lhe parece desafiador e único. Afinal, remava para onde mesmo? Nem se lembra mais. E mesmo com os percalços e o mar revolto, sua escolha foi mergulhar. Só que ouvir de perto o canto da sereia, começa a soar estranho. Não dá para identificar se foi o tom da música ou o timbre da voz que mudou ou se distanciou,  uma coisa é certa... levou todo o encanto.

Você se pega remando, vira o dia, vira a noite, não descansa. Antes não estava perdido (a) e agora está. Não fazia parte de um ciclo vicioso, agora faz. Não era cego (a), agora é.  Nessa onda de clima tenso, confere o mapa, pensa e repensa, não acha saída. Se martiriza, se culpa, se entristece, coleciona calos nas mãos e não para o caminho. Nada há  mais importante do que ouvir o canto novamente.

A busca chega ao fim, os olhos até brilham com a figura e ao questionar o súbito distanciamento e estranhamento, a resposta logo vem em palavras ríspidas: “Vi em você potencial/ amor / crescimento/ companheirismo, por isso te escolhi. No entanto, somos diferentes não me parece bom, me parece pouco. Bem pouco. Sua ambição é baixa, a falta de atenção é perceptível, suas escolhas são erradas, sua risada é incômoda e a forma despretensiosa como se veste me irrita, tudo compactua com minha crença nas nossas diferenças e no convívio insuportável que trafegamos os dias”. Como diz a canção de Caetano: “De perto, ninguém é normal”

O canto moderno da sereia vem nos relacionamentos tóxicos, em várias esferas de diversas formas. A busca constante pela aceitação de alguém que ignora suas vontades, não reconhece seus esforços, te diminui, te afasta das pessoas, te faz perder a paisagem do caminho.  O ciclo vicioso gira e uma hora, o canto soa confortante como pedido de desculpas, e em outra, o arsenal de desvalorização é bem variado.

Procure um profissional ou converse com um amigo. Saiba reconhecer e nunca se diminuir. Quer fantasiar uma relação feliz que te deixa infeliz... para quem? O que os outros pensam é só o que eles pensam e as vezes eles pensam tanto. Faça algo por você! Quer sucesso independente do sacrifício? Pra que? Você não merece chegar rastejando. "Não se diminua para caber no mundo de alguém!"  Se valorize, se imponha, se afaste,  não aceite menos do que mereça. Não saia de casa sem sua autenticidade. Parafraseando a canção de Oswaldo Montenegro:  “Comece o ano se amando mais”.

Faça algo por você e deixe os contos e os cantos para as estórias.

(Melva Natânia Magalhães,  minha filha)