Revelações. Sobre Patrocínio e Alto Paranaíba sempre é um deleite conhecê-las. Assim, um pouco de como eram o Município e a Região em um período de meio século, compreendido entre 1890 e 1940. Tais como: a população, o surgimento de bancos e de frigoríficos. Nesse tempo, Patrocínio tinha mais habitantes do que Uberaba e Uberlândia juntas. Monte Carmelo era maior do que Araguari e Uberlândia. Tudo isso encontra-se registrado no documento “Sinopse do Diagnóstico Sócio-Econômico do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba”, publicado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
A FAMOSA VIA – Segundo pesquisas da UFU, a expedição de Bartolomeu Bueno da Silva Filho, o antológico Anhanguera, construiu a Estrada Real ou Estrada do Anhanguera ou Picada de Goiás (nome mais conhecido pelos patrocinenses). Isso se deu 1722. A estrada partia de São Paulo, passava pelo Sul de Minas até São João Del Rei. E de lá, atravessava o Rio São Francisco, perto de Bambuí, e ia em direção a Araxá, Patrocínio, Coromandel, Paracatu e chegava a Goiás. Segundo alguns historiadores, nessa ocasião, havia também um “braço” da Picada partindo de Sabará em direção a Pitangui.
PROFECIA DE SAINT HILAIRE – Sobre a vocação agropecuária da região o naturalista/pesquisador/escritor francês Hilaire escreveu em 1819: “Quando o País não for mais tão deserto (sem população), os habitantes de outros distritos menos favorecidos (do Brasil) poderão vir aí (Triângulo/Alto Paranaíba) prover-se dos gêneros que atualmente encontram pouca saída, e pode-se crer que a feliz fertilidade dos arredores de Farinha Podre (Triângulo) lhe assegura, para o futuro, destinos brilhantes.” Dito e feito, aí está o desenvolvido Triângulo e Alto Paranaíba. Saint Hilaire esteve em Patrocínio em 1819. Um visionário.
O MUNICÍPIO MAIS ALTO – Serra do Salitre, que pertencia ao município de Patrocínio até 1953, é a segunda cidade de altitude mais elevada no Triângulo/Alto Paranaíba. São 1.200 metros de altura. Somente Pratinha, próximo à (também) alta Campos Altos (1.195m), é a de maior altitude, com 1.277m. Patrocínio tem 966m.
FANTÁSTICO! LIDERANÇA POPULACIONAL – No primeiro ano da República (1890), Patrocínio tinha 49.893 habitantes. Nesse tempo, Coromandel, Abadia dos Dourados, Serra do Salitre e Cruzeiro da Fortaleza integravam o município de Patrocínio. Os patrocinenses representavam 20% de toda a população do Triângulo e Alto Paranaíba. Disparadamente, o 1º lugar. Pois, o 2º lugar, Araxá, tinha 34.017 hab. Patos de Minas (3º) tinha 28.477 hab. E surpreendentemente, Carmo do Paranaíba quase empatava com Patos, com os 25.056 habitantes. Está aí uma das explicações da histórica rivalidade de Carmo com Patos.
A “TURMA DE BAIXO” – Uberaba, mais velha do que Patrocínio, só com 20.818 hab. A rica Estrela do Sul 18.071 hab., e as pequeninas Uberlândia e Araguari, com, respectivamente, 11.856 hab. e 10.633 hab. Ou seja, dentro de Patrocínio cabiam juntas Uberlândia, Araguari, Uberaba e Monte Carmelo (esse era habitado por 16.602 pessoas). A fonte dessa informação é em obra de Rodolph Jacobs.
MUITA POPULAÇÃO, POUCO COMÉRCIO – O mesmo autor procurou traçar perfil comercial da região com São Paulo. No Censo de 1890, Jacobs demonstrou que Patrocínio era a grande cidade com menos unidades comerciais em relação à sua população. Perdia para a dupla “U” (Uberaba e Uberlândia), Araguari, Patos, Sacramento até para cidades de outras regiões, como Montes Claros e São João Del Rei. Provavelmente, por causa de uma linha ferroviária ligando a capital paulista a Araguari (Estrada de Ferro Mogiana). O Triângulo era o maior produtor de arroz do País.
OS BANCOS EM PATROCÍNIO – Em 1946, a cidade contava com um escritório bancário do Banco do Brasil, agência do Banco do Comércio e Indústria de Minas Gerais (Praça Honorato Borges), escritórios do Banco Crédito Real de Minas Gerais, e Banco Hipotecário Agrícola de Minas Gerais e Banco da Lavoura de Minas Gerais. E mais, agências do Banco Mineiro da Produção (Bemge, futuro) à Rua Presidente Vargas, e, Banco de Minas Gerais. Portanto, três agências bancárias e quatro escritórios.
POPULAÇÃO DIMINUIU – Devido as emancipações de Coromandel e Abadia dos Dourados, há 75 anos (em 1946), Patrocínio tinha uma população de 21.714 hab. A de Araguari era quase a de Uberlândia, que era de 54.984 hab. Naquela década, a população de Uberaba era a maior (61.000 hab.) do Triângulo. E a de Araxá, menor do que a de Patrocínio.
INDÚSTRIA DE CARNES – Segundo o Departamento Estadual de Estatística, a industrialização de charque e produtos anexos, em 1939, posicionou Patrocínio em 3º lugar no Triângulo, com produção de 868 mil quilos. À frente, Uberlândia e, com surpresa, Ibiá. De acordo com a UFU, naquele ano, a Charqueada Ômega deu origem ao grupo Ômega. E em Patrocínio, a Charqueada ao grupo Dourados, à Rua São João (hoje, Avenida José Maria Alkmim).
POR FIM – A concorrência da produtividade da indústria paulista, o melhor transporte e o mercado mais poderoso naquele estado impediram muito a expansão industrial do Triângulo. E a energia elétrica também. Próximas edições, essa energia no Triângulo, inclusive Patrocínio, será apresentada. O cenário visualiza 1942. Muita curiosidade histórica nisso.
([email protected]) *** Primeira Coluna também publicada na Gazeta de Patrocínio, edição de 11/09/2021.