# Milton Magalhães

O dia em que fiquei orgulhoso de mim..

6 de Fevereiro de 2021 às 18:14

Primeira coisa: retire as crianças da sala e as pessoas de “estômago fraco” vão dar uma voltinha no quarteirão. Esta crônica além de mau gosto, contém mau cheiro. Não é uma crônica poética, é uma crônica fétida. Não quero atrapalhar o almoço e nem a janta de ninguém. Se bem que algum rapazote ai pensando em se casar seria bom ler. Casados vocês vão receber ordens superiores. É sobre  o que separa os homens dos meninos.

E aí. Somente gente de maior idade e, principalmente de “estômago forte”, que continua?

Bom. Quem ai, tem o tal “estômago fraco”. Não estou falando de fricotes e frescurinhas, não.  O mau cheiro entrando para um lado, olha eu saindo de fininho pelo outro.

Para ilustrar. Dia destes, fiquei sozinho em casa. Não é que sou ruim na cozinha, sou péssimo. Mas não morro de fome, não. Uma gororoba sai. Neste dia, meio com o pé atrás, escolhi, fazer ovo cozido. Botei ( botei não, a galinha que o botou) coloquei dois ovos numa panela. Um supitou o outro afundou. Entrei em pânico. Pensei: “tem coisa que só acontecem comigo e com o Botafogo”. Consultei o “new pai dos burros”, para saber quem é quem. “ Um ovo fresco afunda como uma pedra; um ovo ruim vai flutuar; jogue esse ovo fora”. Dr. Google me garantiu. Eu, confiar em internet? Joguei tudo fora. Fiz um refogado de jiló, para "chef de cuisine" nenhum botar defeito. 

Meu “estômago fraco”, já me causou uma cena que me deixa indignado comigo mesmo até hoje. O Museu Nacional dos Transportes, que de 2001 até 2004, funcionou na cidade de Patrocínio e, depois do tal imblóglio sobre a doação do terreno para a Fundação Catiguá, ocorrido em Patrocínio, foi desativado e seu acervo foi transferido paras as dependências da Breda Transportes e Serviços, em São Bernardo do Campo -SP. ( Atualmente  nada sei sobre a instituição. Desconfio que nem existe mais)

Enquanto o MNT, esteve em Patrocínio, Ronaldo Samuel, Diretor do Expresso União, constituiu que eu e a Profª Dagmar Vieira Ribeiro, ficássemos  responsáveis pela recepção das caravanas de alunos das escolas do município, que iam conhecer  o acervo do museu em visitas previamente agendadas. Certa feita foi a vez de parte dos alunos da  APAE de Patrocínio. Uma visita inesquecível. Jamais esquecerei o semblante alegre daqueles alunos, conferindo o acervo histórico, raro  e interessante do museu.

Como esquecer. Havia um menino numa cadeira de rodas, meio que esquecido. Pelo seu olhar vi que ele queria muito entrar em um trólebus, acompanhando os outros coleguinhas. Não pensei duas vezes, tomei ele nos braços e adentrei o veículo. Só ai me dei fé de duas coisas: o peso dele e um forte cheiro de xixi que exalava de suas vestes. Pensei em desistir e devolve-lo ao assento da cadeira. Mas a indignação com minha fraqueza bateu  forte: Voce é um homem ou um saco de batata” Levei-o até o final, deixei que curtisse tudo, igual aos demais.

Cheiros contam histórias...Fiz uma leitura familiar da vida daquele menininho.  Lembro aqui do livro “ O Perfume” que  conta a história de um homem que possui um olfato extraordinariamente apurado, que o permite uma percepção extremamente apurada do mundo, onde ele era capaz de orientar-se apenas pelos cheiros. Não é o meu caso.

Espero que, até aqui,  não tenha ninguém do clube  do “estomago fraco”, insistindo na leitura desta crônica bizarrinha. O  deabulante  preâmbulo, o famoso  de nariz de cera. É tudo intencional. É  recurso literário. O pior está por vir...

Quarta-feira, final de expediente laboral, tudo o que queria e merecia,  era chegar em casa, tomar aquela ducha cheirosa e saber das novidades do dia.  Expectativa x realidade. Meu anjo bom bobeou na vigilância   e o outro anjo nada bom, entrou em cena. “ Não toma banho agora, não,  que tem uma tarefa nada agradável  pra você” – Disse Solange, minha esposa. Quando disse que gostaria  que algum rapazote ai pensando em se casar, ficasse firme na leitura. Voce deve praticar as tarefas compartilhadas. Vá para a cozinha e arrasa no melhor prato. Lave, enxágue, passe e guarde tudo artisticamente, mas, de vez em sempre,  ela vai lhe pedir uma prova de valentia. Não importa se tem 05, 10, 20, 50, anos de casados, faz parte da psique  feminina, provar se casou com um homem, ou não. E depois tem tarefas  que não são pra elas...são pra você e ponto. 

Me encontrei, de novo na vida diante de uma prova destas: ” Morreu um gato em nosso quintal e você vai ter que joga-lo fora” Ainda respirava fundo, quando me parece ter ouvido uma voz. “Vai amarelar Sr Milton, vai mijar no barranco” Pensei deve ser o tal “anjo torto” me desafiando. Vade retro, catinguento! Só estava comprando coragem , vi que ninguém me vendia, vou  sem ela mesmo.

Eca! Fummmm!  Salivação excessiva. Possível causa morte, envenenamento? Quem fez tamanha  covardia? Conforme a nova legislação, a pena agora vai de dois a cinco anos de prisão, além de multa e a proibição de guarda de novos bichos.  Espero que lá no céu o crime tenha sido  visto e registrado, aqui na terra só me restava a operação funesta e inadiável.  “Nada parece mais com o fim de tudo, que um gato morto”. Realmente. Disse tudo  Vinicius de Morais.

Depois de algumas “chamadas de juca”  e correria em  buscar de ar, ensaquei o bichano, que dizia ter sete vidas, mas  deparei com outro problema: O que fazer com aquilo?  Que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, faz coleta de animais em vias públicas e terrenos baldios,  se sabe, mas e particular? Não temos um cemitério de animais. Cadê um local de cremação de pets. Colocar para os garis levarem no serviço de coleta, é desumano, é covardia...

Fiz mais um sacrifício. Lembrei dos urubus. Que pra quem não sabe, existe até o  “Dia Internacional do Abutre”, celebrado  todos os anos no primeiro sábado de setembro. A data tem como objetivos sublinhar a importância ecológica do abutre e chamar a atenção mundial para o perigo de extinção de determinadas espécies de abutres. Dei minha parcela de contribuição. Levei em mãos  um lanchinho pra eles.  

Perdi meu apetite. Fiquei com o estômago sensível, mas nem preciso dizer, que foi épico, me dei os parabéns. Ato heroico. Fiquei orgulhoso de mim.

Isto ocorreu numa  quarta- feira, correto? ...Quando foi na quinta- feira subsequente...

Voltando do expediente de trabalho, cruzo o portão, olho no vitrô do quarto, vejo o rosto de  minha esposa meio ressabiada.  Brinco todo prosa, no alto de minha inocência: “ Olá Rapunzel! Outro gato morto aí pra mim jogar fora?”

Fiz a pergunta, mas, não acreditei na resposta. Ela precisou, repetir umas três vezes e jurar que aquilo não era pegadinha do malandro. “ Sim. Tem outro gato morto pra você jogar fora”

 Se fosse um game seria nível de  dificuldade "very hard". Este, possivelmente morreu no mesmo dia e pelo mesmo motivo do outro,  fedia com força e o local em que se encontrava era de difícil acesso. Há uma cerca viva de pingos de ouro, formando com um corredor de 7/8 metros, lá no final, para meu desespero estava o pobrezinho me esperando.

Confesso que comecei a amarelar. Pensei em terceirizar a operação. Bati na porta de um vizinho, quarta casa longe da minha,  ninguém me atendeu;  voltei mais tarde, insisti, nada. Se ele aparecesse, daria aquele miguézinho. Explicava a situação e perguntava se ele não sabia de alguém para fazer aquele serviço. Meu plano era que o referido vizinho, se habilitasse para a missão. Pagava bem.

O mau cheiro já atacava o vizinho do lado, mais do que a mim. Logo eu que nunca quis ter animal de estimação nenhum para não perturbar meus vizinhos com miados e latidos, fiquei entre a cruz e a espada.  Virou questão de honra.

Chamei a responsa. Acordei o resto de  valentia que havia dentro de mim e  me ornamentei para a batalha.

Fui a outro vizinho, que me emprestou uma pá do cabo grande,  coloquei  três ou quatro máscara, amarrei ainda uma camiseta na fuça  e fui enfrentar o gato morto. Mexia no bicho, saia correndo, mexia no bicho saia quase morrendo. Era uma luta contra mim mesmo. Venci.  A trancos e barrancos, lá fui eu, pela segunda vez  ocupando a  nobre missão de tratador de urubu.

Nietzsche, ou seja lá que for, disse:  “O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte”. De um lado, estou  mais forte.

 Se me permitem: Fiquei orgulhoso de mim pra dedéu;  do outro, porém, ficou um ar de tristeza. Há um luto cheio de perguntas  em meu quintal...

Uma certeza: Quem matou este dois gatinhos inocentes, está solto por ai, pronto para fazer coisa pior neste mundo...