Amizade. Nem o tempo, nem a distância, nem as circunstâncias, a impedem. Sempre a emoção aparece quando há sinais de sua presença. Dessa feita, uma carta manuscrita, de um amigo (deste escriba) há mais de 40 anos, faz o convite para viajarmos pelo tempo. Revelações de nossa Patrocínio de outrora, lembranças gostosas, mostram a bucólica cidade dos anos 50, 60 e 70. Com a caneta e as palavras, Joaquim Correia Machado (JP).
VAMOS RECORDAR? – “Você, Eustáquio, se lembra bem do campinho do Ginásio Dom Lustosa? Aos domingos, depois da Missa das Crianças (8h), saíamos da Igreja Matriz e íamos ao Dom Lustosa ver os jogos. E as meninas internas da Escola Normal também compareciam. De uniforme (saia), gravatinha e boina, acompanhadas pelas freiras.”
PADRE CAPRÁZIO – “Você se lembra da seriema do padre Caprázio, de perna quebrada, com talinha de madeira? E do seu mutum, com aquele triste canto? Você chegou a conhecer o museu do Caprázio com os pássaros embalsamados?” Perguntas do imortal Joaquim da APL.
CRAQUES – “Vi o Blair jogando em um gol e o Paulinho Constantino (de muleta) no outro gol, em jogo no Dom Lustosa. Vi também o Calau, que foi meu colega no Tiro de Guerra, o Zé Luiz e o Jordão do cavaquinho. Todos irmãos.” Afirma o Quinca do Jornal.
ILUSTRAÇÃO – Blair foi um dos três melhores goleiros de Patrocínio em todos os tempos (integrou à Seleção Mineira do Interior, com o Telê Santana). Calau transformou-se no melhor camisa 3 até hoje do futebol rangeliano (Flamengo, CAP, outros clubes da região). Zé Luiz, conhecedor profundo do futebol, foi um dos fundadores do CAP em 1948 e oficialmente em 1954. E Jordão, grande músico, porém dos cinco irmãos Silva, atletas do futebol, foi o único que não se tornou craque. E o goleiro Paulinho é hoje grande empresário em Presidente Prudente-SP, onde foi um vitorioso prefeito em dois mandatos. É irmão do empresário Constantino de Oliveira.
IPIRANGA – Continua Joaquim: “Trabalhei na Sapataria do Neguinho do Chibinha. Ele foi zagueiro do Ipiranga (anos 30/40) e contou-me passagens do clube. Vi o time jogar no Estádio Quincas Borges (próximo à Igreja S. Francisco). O presidente, à época, era o tenente Amorim. E o Ítalo Cherulli o centroavante.”
FLAMENGO – “Depois veio o Flamengo do Véio. Ajudei-o um pouco. Ele me dizia: “– Joaquim, não deixa os jogadores levarem as camisas pra casa; senão não voltam mais.” O presidente era o Dr. Michel (criador da Academia Patrocinense de Letras-APL). Contudo, o dono, lateral esquerdo, capitão, técnico, era o Véio. Gritava, gritava, mandava!”
CURIOSIDADES RUBRONEGRAS – “Acompanhei, diversas vezes, o time para Patos de Minas, Carmo do Paranaíba e Monte Carmelo. Na jardineira do Venturinha. O juiz sempre era o Zé Cristino, que colaborava para o Flamengo não perder. Sebastião do Amaral, o Véio do Didino, além de comerciante, desportista, boêmio e mulherengo, foi o maior criador de talentos do futebol de Patrocínio em todas as épocas. Depois, já mais no final da vida, converteu-se e tornou-se membro do Cursilho e da Renovação Carismática Católica. Éramos colegas de tudo na Igreja”, diz o jornalista decano de Patrocínio.
MAIS ILUSTRAÇÕES – Em Patos os adversários foram a URT, Mamoré e Tupi. No Carmo o centenário Paranaíba. Em Monte Carmelo, o inesquecível Clube dos Cem e o Operário. Jardineira era um ônibus duro de 25 lugares, bagageiro em cima do ônibus e o Venturinha era um patense, então concessionário da linha Patos-Patrocínio (residia na Rua Rio Branco). Mais tarde, teve participação na Empresa Gontijo. Zé Cristino foi motorista do Expresso União, anos 60/70 (as ilustrações são escritas por este escriba amador para melhor entendimento do tema).
PRESSÁGIO – Joaquim termina onde começamos. Diz: “Não me esqueço o dia que o Sr. Didino Amaral bateu na minha porta e falou: “– Quero fazer uma assinatura do Jornal de Patrocínio para o meu filho, lá em Belo Horizonte. Anote aí: Eustáquio da Abadia Amaral, Rua Perdigão Malheiros...” Isso em 1976. O resto você já sabe. Um pouquinho depois, 1978, surgiu a famosa Primeira Coluna. Um abraço e Feliz Natal!” Assim, conclui Joaquim Correia.
POR FIM – Está aí mais um pedaço da sua vida, como você diz, caro Joaquim. E, por uma feliz coincidência, em parte dele este escriba foi personagem e testemunha ocular dos fatos históricos de uma geração de patrocinenses, aqui narrados.
PALAVRA FINAL EM DOIS LANCES
1 – ACORDA PATROCÍNIO! – Não há árvores suficientes na cidade. Quem diz é o IBGE que situa o Município em 226º lugar no Estado. Isso é mediocridade.
2 – REAJA PATROCÍNIO! – Nos últimos anos, até 2016, a gestão pública no Município não foi boa. Quem afirma são o Índice Firjan de Gestão Fiscal-IFGF e os seus cinco componentes (Receita Própria, Gastos com Pessoal, Investimentos, Custo da Dívida e Liquidez). Patrocínio encontra-se em 503º lugar em Minas. O estudo é da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. Isso também é mediocridade (para detalhes, é bom reler as duas edições finais de novembro deste minifúndio).
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 9/12/2017.