# Eustáquio Amaral

O Incrível, A Fantasia E O Extraordinário

3 de Novembro de 2018 às 18:50

Folclore. O inacreditável, a lenda, a alegria, de uma comunidade se encontra nele, o folclore. O italiano que comeu um urubu. O maior placar do futebol de Minas e seu personagem principal. Alkmim (deputado anos 50/60) e a técnica de não desagradar ninguém. Padre Caprázio e seu tradicional “ziroo” (zero) na provinha de química, no apogeu regional do Ginásio Dom Lustosa. E o forte rachador de lenha movido a pinga. Um pouco desse lado divertido da história rangeliana é bom reviver. É boa terapia para esquecer as mediocridades políticas da vida atual.

ANOS 30: COMPORTAMENTO – Na Rua Cesário Alvim, no fundo da Escola Normal, reside Capelane, um italiano que comercializa ferro-velho e vende maçãs. Sua inusitada mania é alimentar-se de todo tipo de animal. Certa vez, por três dias, tenta cozinhar um urubu, mas não consegue. Perguntado pelos amigos, entre eles Adão Borges (Adão da chácara do Estado), sobre o que fez com o urubu, respondeu: “– Joguei-o fora, mas tomei o seu caldo”.

FINAL DOS ANOS 50: CONCORDANDO, GANHA ELEIÇÃO – José Maria Alkmim, o mais folclórico dos políticos brasileiros, é o deputado federal majoritário em Patrocínio. Em 1945, foi um dos fundadores do legendário PSD. Na cidade, sempre participa de solenidades cívicas ao lado dos imortais Amir Amaral. Abdias Alves Nunes e João Alves do Nascimento. Certa vez, em uma delas, um vereador do PSD atacou um vereador da UND, dizendo coisas do “arco da velha”, ao que, Alkmim concordou:

– Você tem toda razão.

Pouco depois, o vereador do PSD se afastou e o da UND se aproximou, dizendo “mil coisas” desabonáveis de seu colega; Alkmim concordou de novo:

– Você tem toda razão.

Quando os dois vereadores se distanciaram, Picum, outro velho amigo seu e pessoa popular em Patrocínio, disse:

– Dr. Alkmim, o senhor deu razão ao vereador do PSD e, em seguida, ao da UDN.

– Você tem toda razão, prezado Picum.

ANOS DOURADOS: DOM LUSTOSA – Os padres da Congregação dos Sagrados Corações, holandeses, dirigem, com sucesso, a melhor escola do Alto Paranaíba, desde os anos 30, o Ginásio Dom Lustosa. Naturalmente, todos expressando forte sotaque. Padre Caprázio é o excelente professor de Química (o melhor da história local) e o “terror” dos alunos de pouco estudo. Certo dia, sem avisar, como de costume, Padre Caprázio aplica a “provinha-surpresa” (teste com três perguntas no máximo, abordando a lição dada no dia anterior, valendo ponto para a prova mensal).

No dia seguinte, depois de corrigir as provinhas, lê em voz alta, todavia com sotaque, as notas daquela turma: “Fulano”, sete; “Ciclano”, cinco; “Beltrano”, três;... Eu-ripe-désss... (nesse instante, o entendimento é prejudicado por conversas dos alunos).

Eurípedes, como não é bom aluno em Química, fica na dúvida se tirou dez ou não.

– Padre, minha nota é dez? – indaga o espirituoso e esperançoso estudante.

– Nôo... Nôo... Noon... eu disse Eu-ripedéss “ziiiro”, responde Caprázio.

E acontece aquela sonora gargalhada. Eurípedes Almeida foi o proprietário então da Funerária São Geraldo e o querido Pe. Caprázio foi também sacerdote da Igreja de S. Francisco.

ANOS 60: VICENTÃO – Até os anos 60, os fogões das residências e os fornos das padarias eram movidos à lenha. Um exemplo é a padaria N. S. Auxiliadora, localizada na esquina da Rua Marechal Floriano com a Rua Cassimiro Santos. O fogão a gás não era bastante conhecido, nem utilizado. A lenha, vinda dos cerrados, chegava à cidade transportada em carros de bois e, mais tarde, em caminhões. Para condicioná-la – havia troncos cortados – existiam os rachadores de lenha. Entre os quais, destacava-se um negro forte, possuidor de uma sonora gargalhada, quase 1,70 m de altura, residente no Sertãozinho (hoje Marciano Brandão). Uns chamavam-no de Sô Vicente, outros de Vicentão. Alguns conheciam-no por ser pai da popular Rufina, moça alegre da cidade. A remuneração pelo seu eficiente trabalho era curiosa. Uma garrafa de pinga e três refeições (arroz e feijão em grande quantidade) por dia, às sete horas da manhã, às dez e às dezessete horas, e, um baixo salário. Pão e café, intermediados nas refeições, também por três vezes ao dia. Passaram-se os anos... passou a Rufina... passou o tempo da lenha... passou o Vicentão... ficou a lenda.

JULHO/1962: RECORDE – Nessa época maravilhosa, o Atlético Patrocinense-CAP, de Edvar e Gulinha, e o Flamengo do Véio são a grande alegria de Patrocínio. Como um meteoro, surge e logo desaparece um clube amador chamado Sete de Setembro, dirigido por Roberto do Cícero, conhecido jovem da Rua Governador Valadares, próximo às Casas Manuel Nunes. Em um domingo ensolarado da década de 60, o Sete de Setembro vai à Monte Carmelo, onde enfrenta o Operário Carmelitano. Na preliminar, jogam as equipes de aspirantes. A de Patrocínio é comandada pelo atleta Fuzil, um crioulinho franzino, dócil e de frases de efeito. Um personagem do folclore patrocinense. Primeiro tempo: Operário 14, Sete de Setembro 0. No intervalo, Fuzil pede raça aos companheiros, pois daria para empatar. O jogo no segundo tempo para o Sete de Setembro foi melhor um pouco, mas no final é a maior goleada registrada no futebol mineiro. Quiçá brasileiro. Operário 24, Sete de Setembro 0.

Primeira Coluna publica na Gazeta, edição de 18/8/2018.

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