Reviver. O que foi bom é prazer. Inclusive, na política. Essa tão desgastada, tão desacreditada, na atualidade. Reviver o folclore político ainda é melhor. Um deputado, não patrocinense, mas majoritário na cidade em diversos mandatos de outrora, figura como um dos maiores personagens brasileiros da política pitoresca. Essa face agradável e alegre da política foi vivida por José Maria Alkmim, amigo de diversos patrocinenses. “Alkmim” originalmente escreve-se desta maneira. O cenário pertence às décadas de 40, 50 e 60.
CONTO 1: O EMPRÉSTIMO – Alkmim sempre visitava Patrocínio. Muitas vezes, trazendo benefícios. Entre tantas histórias engraçadas de Alkmim, há a de um de seus compadres do interior de Minas.
Certo dia, apressado, o compadre, habituado às “facadas”, visitou Alkmim e foi logo dizendo:
– Compadre, sua comadre está passando mal para ter criança. Levei-a ao hospital e lá me pediram $ 5 mil de depósito. Como estou desprevenido, vim pedir ao amigo compadre para me emprestar.
Alkmim não titubeou e lhe disse:
– Compadre, você sabe disso há nove meses e está desprevenido. O que dizer então de mim que estou sabendo agora?!
Esta história é confirmada por integrantes da família de Alkmim.
CONTO 2: RAZÃO GANHA ELEIÇÃO – Em 1945, Alkmim ajudou a fundar o legendário PSD. Na cidade sempre participava de solenidades cívicas ao lado dos imortais Amir Amaral, Abdias Alves Nunes e João Alves do Nascimento.
Certa vez, em uma delas, um vereador do PSD atacou um vereador da UDN, dizendo coisas do “arco da velha”, ao que, Alkmim concordou:
– Você tem toda razão.
Pouco depois, o vereador do PSD se afastou e o da UDN se aproximou, dizendo “mil coisas” desabonáveis de seu colega. Alkmim concordou de novo:
– Você tem toda razão.
Quando os dois vereadores se distanciaram Picum, outro velho amigo seu e pessoa popular em Patrocínio, disse:
– Dr. Alkmim, o senhor deu razão ao vereador do PSD e, em seguida, ao da UDN.
– Você tem toda razão, prezado Picum.
Picum, ex-craque do Ipiranga e Flamengo, de 1964 a 1967, tornou-se chefe de gabinete doméstico (escritório na residência de Alkmim) do então vice-presidente da República (Alkmim). O presidente era Marechal Castelo Branco.
CONTO 3: BOM VIZINHO – Muitos casos e passagens alegres são atribuídas ao pequeno homem de 1,60m de altura. Por exemplo, certa manhã de 1950, Alkmim foi visitar as obras de sua casa na Av. do Contorno, esquina com Rua Pernambuco. Logo apareceu um futuro vizinho, que ele não conhecia.
– Dr. Alkmim, moro aqui ao lado na Rua Pernambuco. Estou à sua disposição.
– Eu sabia que você mora aqui. Isto influiu muito na minha escolha por esse lote, respondeu o esperto pessedista.
CONTO 4: TELEFONE MÁGICO – Como bom político, Alkmim sempre era procurado para arrumar emprego para os correligionários. Certa vez, o patrocinense Picum, assessor dele na Rua Pernambuco, em BH, contou-nos que, na década de 50, um eleitor procurou Alkmim e logo perguntou-lhe:
– Vim saber do emprego que o senhor me prometeu.
Na hora, o então deputado pega o telefone, disca, espera um pouco e começa a falar:
– Juscelino (Kubitschek), lembra-se daquele emprego que você me prometeu para o nosso correligionário e amigo? Você esqueceu, Governador!? Mas, certamente dará um jeito, não é? Posso ficar tranquilo? Então está ótimo. Está certo. Nosso amigo ficará muito satisfeito. Um abraço. Até logo.
Desliga o telefone e diz para o correligionário:
– Está nas mãos do Governador. Daqui em diante, entenda-se direto com a assessoria do Juscelino, no palácio da Liberdade.
O correligionário saiu feliz e agradeceu. Até aqui tudo normal. Porém, o referido telefone não estava ligado a nenhuma tomada. O fio do telefone terminava na gaveta da mesa ocupada por Alkmim. Telefone fantasma.
Tanto em sua casa como na Secretaria da Fazenda e Secretaria da Educação, onde fora secretário, o telefone das soluções parece que existiu mesmo, afirmava Picum. Alkmim enrolava e o emprego não surgia. E ninguém conheceu José Maria de Alkmim tão bem como o também folclórico Geraldo Matias (Picum).
E MAIS... – Nos meados dos anos 60, este escriba amador, apoiado por Picum, também foi “vítima” desse telefone empregador (“gerador de empregos”). Ótimo papo, mas o emprego não veio.
QUEM É – Alkmim é tido como o maior político folclórico do Brasil. Nos anos 50 e 60, representou o Município como deputado federal por quatro mandatos. Participou da fundação do antigo PSD (partido de JK, Tancredo Neves e Benedito Valadares), adversário ferrenho da UDN. Ex-secretário estadual de Fazenda e Educação, ex-ministro da Fazenda (governo de Juscelino), jornalista e advogado. Vice-presidente da República por três anos (1964-1967). Depois, provedor da Santa Casa em Belo Horizonte. Faleceu em 1974, na capital mineira. Tio-avô do paulista Geraldo Alckmin, ex-governador.
VIDA EM PATROCÍNIO – Amigo pessoal de Amir Amaral (prefeito do século), Abdias Alves Nunes (vereador do século), Mário Alves do Nascimento (prefeito), Nonato Matias Jr. (desportista) e Picum (servidor do Fórum). A família Queiroz também foi bastante próxima a ele. Em 1958, participou de grande evento em frente ao PTC, na inauguração da avenida que leva o seu nome. Além dos belos discursos, houve desfile dos estudantes do Ginásio Dom Lustosa, Colégio Prof. Olímpio dos Santos e Escola Normal Nossa Senhora do Patrocínio. E presença da Banda de Música municipal, junto ao palanque. Para a época, uma multidão compareceu nessa solenidade.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 27/07/2019.