História. A sobre o futebol é fascinação. E quando ela envolve a Santa Terrinha é ainda mais emoção. Nos anos 50, tornou-se referência na defesa de clubes patrocinenses. Em 1962, foi titular da Seleção da cidade no jogo da inauguração do Estádio Júlio Aguiar. Nos anos 80, foi escolhido o camisa 3 da Seleção de Todos os Tempos de Patrocínio. Em 1993, faleceu em BH, onde passara a residir, após aposentadoria. Um mês antes de falecer (maio de 1993), ele conversou com este escriba amador na capital. A conversa foi transformada em entrevista pela então revista Imagem Esportiva, do JP, edição de julho de 1993. A reprodução de “Calau, a Muralha Patrocinense” certamente faz o coração bater mais forte. Pois, é parte histórica do futebol puramente rangeliano.
Dados pessoais:
Calau: Nasci em 1936, em Patrocínio. Sou aposentado da Caixa Econômica Federal, onde prestei serviços durante 37 anos. Resido em Belo Horizonte. Meu nome é Cláudio Manoel Silva. Da família Silva onde houve mais de sete bons jogadores de futebol.
Como foi seu começo no futebol?
Calau: Iniciei atuando pelo Colégio Dom Lustosa, por volta de 1950. Inclusive joguei muito no campo da antiga chácara dos padres (hoje, região do Supermercado Bretas).
Em termos oficiais, qual o seu primeiro jogo?
Aconteceu em Patos de Minas, em 6 de dezembro de 1952. O Flamengo do Véio perdeu para o então poderoso Tupi por 1 X 0. Joguei ao lado de Blair, Batata, Carmo, Péroba, Ratinho, Ítalo e outros craques.
Quais foram os times que você jogou?
Calau: Ginásio Dom Lustosa, Flamengo (do Véio do Didino), Atlético Patrocinense (CAP), Associação dos Funcionários Bancários, Uberaba Sport, Independente de Uberaba, Mamoré, Araguari, Atlético Goianense, Anapolina e Fluminense do Rio, ao lado de Pinheiro (também zagueiro da Seleção Brasileira). No Independente, formei zaga com o Carmo (maior cabeceador de Patrocínio).
No Fluminense você jogou apenas numa excursão que ele fazia pelo Brasil Central. Porque você não foi para o Rio?
Calau: Minha mãe pediu para que eu não fosse. Por isso, dei preferência aos times da região. No Mamoré, joguei um ano. No lendário Araguari de Pombo, Pacu, Pacuzinho e Camilo joguei diversos meses.
Qual o maior craque patrocinense de todos os tempos?
Calau: Vou citar dois: Múcio e Rondes.
E a sua seleção de todos os tempos?
Calau: Também vou escalar duas: Pode ser?
Então, escale a Seleção dos anos 50.
Calau: Blair, Chiquinho, Angú, Camilo e Butica; Pedrinho e Honorato; Péroba, Rondes, Múcio e Ratinho.
E a dos anos 60?
Calau: Dedão, Bougleux, Barôfo, Macalé e Chapada; Rubinho e Romeuzinho; Dizinho, Totonho, Edward e Gulinha.
Eustáquio Amaral: Ao meu ver, por questão de ética de sua parte, nas duas seleções está faltando o maior beque de Patrocínio. Justamente você. Agora, vou lhe apertar. Misture as duas e escale só uma seleção.
Calau: Blair, Bougleux, Barôfo, Camilo e Butica; Pedrinho, Rubinho e Rondes; Múcio, Edwar e Ratinho.
Bougleux, consagrado no meio de campo, foi lateral?
Calau: No Flamengo do Véio e no juvenil do Atlético Mineiro, ele começou de lateral.
Cite um personagem do futebol de Patrocínio.
Calau: Novamente, irei indicar dois: Zé Luis, meu irmão, jogador e técnico do Ginásio D. Lustosa e Atlético Patrocinense. E o Véio do Didino, o “dono” do Flamengo. Não entendi porque não tem estádio nem uma placa com os nomes deles em algum vestiário nos estádios. Uma irreparável injustiça com a memória do futebol.
Cite um caso pitoresco.
Calau: Quando o estádio do Paranaíba foi inaugurado, em Carmo do Paranaíba, aos 43 minutos do 2º tempo, o placar mostrava Paranaíba 1, Flamengo 0. Nesse instante, marquei o gol mais bonito da minha vida ao bater uma falta do meio do campo. A Rádio Difusora transmitia o jogo à beira do gramado com Humberto Novais (depois ele transferiu-se para a Rádio Guarani de Belo Horizonte). O Humberto ficou tão entusiasmado que foi entrando para o campo, narrando o gol. Daí, você imagina, Eustáquio. Por causa da rivalidade, o pau quebrou. Socos, pontapés, etc. E o jogo não terminou.
Pensa em voltar a residir em Patrocínio?
Calau: Penso muito. Mas questões familiares impedem. Patrocínio está linda. Pelo que sei, os últimos prefeitos capricharam. Tomara que o atual faça o mesmo.
Qual sua mensagem para o futebol atual?
Calau: Crie escolinhas de futebol. Chame os antigos craques para administrá-las. É a grande saída para o sucesso de nosso futebol. Porque o atleta patrocinense, além de jogar, tem amor e mais seriedade. Ele joga pelo coração. E seu custo é menor, pois mora na cidade. Sou testemunha de que Patrocínio sempre foi um celeiro de craques.
Sei que você é de uma família patrocinense de oito irmãos. E todos craques do futebol. Sobrinhos e primos no mesmo nível. Nenhuma família de Patrocínio atingiu o apogeu do futebol como a Silva (você, Zé Luis, Butica, Jordão, Honorato, Joãozinho, Zé do Cleto, Barôfo e Didi). Esta nossa conversa de duas horas tornou-se mais agradável do que eu imaginava. Mais alguma coisa, Calau?
Calau: Estou lhe passando uma foto do time campeão de Patrocínio em 1953. O Colégio Dom Lustosa, que usava camisa igual a do Vasco, com a diferença do azul no lugar do preto. Nesse time éramos cinco irmãos. Participaram do campeonato Operário, Flamengo, Cruzeiro de Cruzeiro da Fortaleza, Vila de São João, Guimarânia, Independente e Colégio D. Lustosa. No mais, o meu agradecimento por este contato com os meus conterrâneos.
PALAVRA FINAL
HONRA – Durante a semana, este escriba amador trocou ideias com o (amigo) decano do rádio do Município, José Maria Campos. Na oportunidade, agradecemos a apresentação da Primeira Coluna no seu Comentário do Dia, pela Rádio Difusora. Edição sobre a situação de Patrocínio como um dos 20 municípios mais desenvolvidos de Minas. Mais de sessenta anos de amizade é pra poucos!
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 4/8/2018.