Privilégio. É o que tem Patrocínio por ter um holandês, quase santo, em sua trajetória de vida. Estrela maior da nação holandesa que invadiu a cidade por meio século. Tornou–se um dos fundadores da mais emblemática das escolas da região do Alto Paranaíba em todos os tempos, o Ginásio Dom Lustosa. Residiu por algum tempo no próprio educandário (os padres holandeses residiam lá) e foi capelão (responsável) pela antiga Igreja de Santa Luzia. Dia 30 de agosto, completa 73 anos de seu falecimento. E neste sábado, dia 20, começa a festividade em BH, onde se encontra sepultado.
QUEM É – Eustáquio van Lieshout (Padre Eustáquio) nasceu em Aarle–Rixtel, Holanda, em 03 de novembro de 1890, onde aconteceu sua ordenação sacerdotal, em 10 de agosto de 1919. Em 12 de junho de 1925, chegou ao Rio de Janeiro, pelo navio Orânia. Estava acompanhado pelos padres Norberto, Gil e Matias (este primeiro diretor do Ginásio Dom Lustosa). No dia 15 de junho de 1925, foi recebido no Santuário de N. S. da Abadia como o novo vigário (paróquia de Nova Ponte e suas capelas), onde viveu até início de 1936.
ASSIM – Romaria, ex–Água Suja, é o lugar onde permaneceu por mais tempo: onze anos.
A CAMINHADA DO PASTOR – Em 15 de fevereiro de 1936 tomou posse como pároco de Poá (SP), para onde foi transferido. Atraiu multidões, tornou–se nacionalmente conhecido. Lá morou até 13 de maio de 1941. Depois de rápidos recolhimentos em S. Paulo, Campos do Jordão, Rio Claro, Araguari e Rio de Janeiro, mudou–se para o Ginásio Dom Lustosa. Durante sua permanência à disposição dos superiores, foi o capelão da Igreja de Santa Luzia. Segundo depoimentos de patrocinenses com mais de 80 anos de idade, praticou caridade e alívio aos fiéis que o procuraram.
ESTADIA RANGELIANA – Residiu no Município de 11 de outubro de 1941 a 12 de fevereiro de 1942. Nessa data, embarcou num trem da Rede Mineira de Viação (RMV) para Ibiá (na mesma estação ferroviária que hoje está abandonada e descaracterizada). Na vizinha urbe, por pouco tempo, prestou serviços paroquiais. Pois, em 7 de abril de 1942 (dia que Patrocínio completou cem anos de emancipação municipal), Padre Eustáquio desembarcou na capital mineira, assumindo, de imediato, a Paróquia de São Domingos (sua atual igreja), na rua e bairro que levam o seu nome, Padre Eustáquio.
O FINAL – Até a sua morte, no ano seguinte, contagiou multidões com bondade e esperança. No dia 31 de agosto de 1943, BH assistiu ao seu mais solene féretro, quando os restos mortais de Padre Eustáquio foram levados ao Cemitério do Bonfim. Em 1949, ocorreu o traslado para a hoje conhecida Igreja de Pe. Eustáquio.
LIGAÇÕES PATROCINENSES – Em setembro de 1925, D. Almeida Lustosa, bispo de Uberaba, em visita pastoral, à cidade, manifestou desejo de instalação de educandários católicos para ambos os sexos. E para competir com as iniciativas da Igreja Presbiteriana (apoiada por missionários dos Estados Unidos), decidiu delegar à Congregação dos Sagrados Corações a direção das escolas. Em 11 de setembro de 1926, padre Eustáquio van Lieshout, assinava o contrato de doação de um prédio para o colégio, na presença dos padres Gil e Matias. O imóvel pertencia ao político Marciano Pires. Situado na Rua Afonso Pena, o prédio foi entregue em dezembro daquele ano. Um mês depois, estavam abertas as matrículas. A inauguração do ginásio, que Pe. Eustáquio participou de sua concepção, aconteceu em 15 de fevereiro de 1927, com 57 alunos de diversas cidades.
SANTIDADE – O processo de beatificação de Pe. Eustáquio foi iniciado em 1956 e concluído em 15 de junho de 2006 (quinta–feira) no Estádio Mineirão. A beatificação foi impulsionada pelas informações de sua vida virtuosa demonstradas em 1.600 páginas. A cura de um câncer foi reconhecida, por uma equipe médica, em 02 de março de 2004. O possível milagre aconteceu há 50 anos. A pessoa (homem) continuava viva, com saúde, em BH, em 2006. Para a canonização, outro milagre deverá ser registrado e comprovado, após o ano da beatificação (2006).
O QUE É – A beatificação é um ato oficial da Igreja, no qual o Papa inscreve o nome de um cristão falecido, por sua vida e obras, no catálogo eclesiástico dos bem–aventurados. Nos locais de seu nascimento, vivência (é o caso de Patrocínio) e morte, o beato poderá receber veneração pública. Já a canonização, que é posterior, por ato solene papal, transforma o culto particular em universal. E o beato passa a ser denominado santo.
SOLENIDADE – Para recordar, a beatificação de padre Eustáquio, a Primeira Coluna de 17/6/2006 (com dez fotos), publicada no Jornal de Patrocínio, tem o texto reproduzido em seguida.
HONRA – “Depois de ver a inauguração do Mineirão em 1965, com gol do quase patrocinense Bouglex (Buglê). De ver o mágico Cruzeiro de Piaza, Tostão, Dirceu Lopes e Zé Carlos. De ver o mais artístico (e injustiçado) Atlético de todos os tempos, com Reinaldo, Éder, Cerezo, Luizinho e Paulo Isidoro. De ver o Atlético Patrocinense pisando o gramado na década de 90, pela primeira vez. De ver a despedida de Ronaldo do Cruzeiro, em 15 de maio de 1994, no jogo que a equipe celeste venceu o CAP por 1 a 0. De ver o Santos de Zito, Gilmar, Coutinho, Pelé e Pepe. De ver tantos fatos para a história. Este modesto escriba viu o maior evento de todos. A primeira beatificação na América do Sul.”
MOMENTO FELIZ – “Padre Eustáquio tem tudo a ver com Patrocínio. Morou na cidade. Protege os patrocinenses. Por tudo isso, a Rádio Difusora (AM e Internet) transmitiu a mais histórica jornada de sua existência, segundo o diretor de jornalismo Alberto Sanarelli. Um recorde, a mais longa jornada externa e ininterrupta de uma rádio em Minas. José Maria Campos e este amador escriba narraram o evento (da cabina nº 1). Christiano Romão e Sanarelli estiveram juntos aos nobres fatos, percorrendo o estádio, como repórteres. Benil Borges comandou a logística técnica. Um dia para jamais ser esquecido. Ave Beato Eustáquio.”
OS PATROCINENSES – “Quase trezentos devotos de Pe. Eustáquio de Patrocínio estiveram entre os quase 70.000 presentes. Pe. Vinícius Maciel e Pe. Osvânio comandaram a caravana. TV Ouro Verde gravou diversos depoimentos (Antônio Augusto e Lena foram os repórteres). TV Web do Patrocinioonline também marcou presença.”
POR FIM – A maioria dos patrocinenses acredita no venerável Padre Eustáquio. Outra parte não tem crença. Mas ninguém duvida da bondade, da caridade e da fé do homem Humberto van Lieshout. Uma dádiva para a humanidade.
PARA ANOTAR – São 10 anos da beatificação. São 73 anos de sua morte. São 97 anos de sua ordenação como padre da Congregação dos Sagrados Corações. Neste sábado, dia 20, é o começo da festa. Haverá missa para as pessoas e estabelecimentos que tem o nome do Beato. E termina, dia 30 de agosto, terça–feira, com a celebração de nove missas. A das 16 horas terá como celebrante Pe. Marcus Vinícius Maciel, o sacerdote querido de Patrocínio, que conviveu com a cidade por muitos anos. Atualmente é pró–reitor, vice–postulador e pároco dos Sagrados Corações (conhecida Igreja de Padre Eustáquio, em BH).
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 20/8/2016.