Antecedentes. O novo ritmo alucinante os teve. Os principais foram a banda Bill Haley e seus Cometas com o memorável sucesso “Rock Around The Clock” (abril de 1954), Chuck Berry e o explosivo Little Richard com a incrível Tutti Frutti (1955). Em 1956, apareceu o rei do rock, Elvis Presley, com cinco “hits” em primeiro lugar. Já em 1963, os Beatles balançaram o planeta com “I want to hold your hand”. No Brasil, década de 60, o rock contagiou de vez a juventude. Estourou! Robertos Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa comandaram a Jovem Guarda. Nela apareceram também Renato e Seus Blue Caps (cópia brasileira dos Beatles), Golden Boys e Os Incríveis (“O Milionário” é o grande sucesso), dentre tantos eternos astros e estrelas. Mas, Patrocínio fez a sua parte nesse movimento musical revolucionário, que veio, encantou e se eternizou.
O PRIMÓRDIO – Pouco mais de três anos do nascimento do rock nacional, surgiu o rock patrocinense. E doze anos após a explosão mundial do rock, ocorrida a partir dos EUA. Isso numa época que não havia comunicação imediata. Até a TV era praticamente desconhecida. O rádio imperava. No chão da bucólica cidade de outrora a semente fora plantada, exatamente na esquina da Rua Presidente Vargas com a Rua Teodoro Gonçalves. Nesse local, nos anos 60, existiu a concessionária da Willys Overland do Brasil, uma montadora de carros famosos à época: Aero Willys, Gordini, Rural e Jeep Willys. Era a extinta Autocar. E lá trabalhavam dois jovens amantes do contagiante ritmo. Mais do que isso, duas inteligências. Dois líderes musicais.
EXATAMENTE 1966... – Outubro. Precisamente meio século atrás. Roberto Carlos cantava “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”. Rolling Stones “Satisfaction”. Renato e Seus Blue Caps faziam sucesso com “Meu Primeiro Amor”. Golden Boys com “Mágoa”. Wilson Simonal sacudia interpretando “Carango”. E os Beatles com “Yesterday” e “Michelle”. Nesse cenário, os adolescentes Wanderley Guarda e Edson Bragança, colegas de trabalho na Autocar, embriagados pelo som da Jovem Guarda e dos Beatles, começaram a reproduzi–lo nesta terra de Rangel e Amir Amaral. Como? No horário de almoço. Almoçavam em cinco minutos, sobrando–lhes quase uma hora e meia, para irem ao encontro de Roberto, Erasmo, Lennon e McCartney. Por meio de seus violões, é claro.
OS PRIMEIROS PASSOS – Wanderley e Edson convidaram os amigos José Eustáquio e Átila para formarem um conjunto para jovens. Sem nenhum recurso financeiro, Wanderley financiou a compra dos instrumentos musicais, junto ao seu empregador (Autocar). A garantia do empréstimo foi o futuro contrato com a Churrascaria Alvorada (Rua Presidente Vargas), o “point” da jovem sociedade nos anos dourados. Quem dirigia a Alvorada era Sérgio Anibal, radialista, jornalista e assessor municipal.
A ESTREIA – Antes da Churrascaria Alvorada, em janeiro de 1967, sábado, a banda se exibiu pela primeira vez no pátio da Escola Normal (Praça Matriz). Sucesso total. Segundo os observadores do tempo, o show se tornou o de maior público feminino até hoje naquele local. No domingo, foi o debute na Alvorada, totalmente lotada. A partir daí, terça–feira, quinta–feira, sábado e domingo, a noite na Alvorada (hora dançante) era abrilhantada pela banda.
A CAMINHADA – Dois meses depois, o vocalista Átila deixou o conjunto. O vocalista Marcone e o contrabaixista Taquinho, oriundo da banda Os Satânicos, o substituiu. Então, Os Metralhas passaram a ser formados por Wanderley Guarda (guitarra solo), Edson Bragança (guitarra base), Taquinho (contrabaixo), José Eustáquio (bateria) e Marcone (vocalista). A banda de calça azul, camisa cor–de– –rosa e bota fazia shows também nas cidades vizinhas como: Patos de Minas, Carmo do Paranaíba e Coromandel.
FIM DE UMA ETAPA – No dia 15 de dezembro de 1967, Wanderley tocou pela última vez, pois estava de mudança de Patrocínio. A banda parou por três meses. Com a vinda do guitarrista Cláudio Risis, ela ressurgiu nos palcos da região. Com o nome de Brazilian Hippies.
OUTRA FASE – A banda Brazilian Hippies, formada por oito músicos patrocinenses (quatro de Os Metralhas), existiu por pouco mais de um ano. Além de Patrocínio, sua agenda se estendeu a Unaí, Paracatu, João Pinheiro, Carmo do Paranaíba, Patos de Minas e outros municípios da região. Mas, como diz Wanderley Guarda, agora empresário, residente em BH: “– Nova jornada, nova formação, nova história dos patrocinenses”. Portanto, breve.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 19/11/2016.