# Eustáquio Amaral

PADRE EUSTÁQUIO EM PATROCÍNIO: ENTREVADO ANDOU... MUDO FALOU...

27 de Setembro de 2020 às 19:06

 

                                              

   

Santo. A cidade conheceu um. Nasceu como Hubertus van Lieshout, viveu como Eustáquio, nome pastoral escolhido por ele. Na verdade, desde 15 de junho de 2006, ele foi beatificado em solenidade, promovida pelo Vaticano, no Estádio Mineirão. Beatificação é a principal etapa eclesiástica a caminho da santidade. Padre Eustáquio, o holandês que residiu no Ginásio Dom Lustosa, é o homem de maior luz, que passou por Patrocínio, em todos os tempos. Dia 30 de agosto, comemora-se 77 anos de seu falecimento em Belo Horizonte, aos 52 anos de idade. Cidades por onde morou, celebram a data. Principalmente, a capital mineira, onde a paróquia que serviu (Sagrados Corações) promove a Festa do Beato Eustáquio, de 21 a 30 de agosto. Diversos milagres são lhe atribuídos. Em vida e após sua morte. A tradição católica patrocinense conta alguns deles.

 

MILAGRE NA PRAÇA DA MATRIZ – Novembro de 1941. Hora do término das aulas na Escola Normal Nossa Senhora do Patrocínio. Uma multidão se encontra na porta da Igreja. Padre Eustáquio abençoa os fiéis, pobres e ricos. As alunas, de uniforme, mais curiosas, correm em direção à Matriz. Uma dessas alunas é Valdete Caldeira Nunes, de família patrocinense, hoje, com 98 anos, residente no bairro Santo Agostinho, em BH. Outra aluna, que acompanha Valdete, é Suzana Carvalho (falecida). Nesse momento, se aproxima um automóvel preto (carro era só importado). No banco traseiro, há uma senhora deitada. O motorista (Euclides) desce do carro e se dirige ao Padre Eustáquio:

 

– Padre, peço-lhe uma benção para a minha esposa Ambrosina, que há anos não anda mais.

– Você é católica? Tem fé? Pergunta Padre Eustáquio à Ambrosina, abrindo a porta do veículo.

 

Após a resposta positiva da paralítica, o santo padre pede para ela fechar os olhos. Olhou para o céu e orou, por alguns instantes. A multidão silenciosa, nela se encontra Valdete Caldeira, acompanha a cena de fé e esperança. Em seguida, Padre Eustáquio abaixa a cabeça, abre os olhos, e diz:

 

Ambrosina, agora te darei a benção. Receba com muita fé.

 

Três vezes, ele repete a benção. No final diz:

 

Filha, desça do automóvel. Venha...

– Não posso, Padre. Não dou conta, fala Ambrosina.

– Você diz que tem fé. Então, venha.

 

Ela remexeu no banco do carro, assenta-se, levanta o corpo vagarosamente, põe os pés no chão e, cambaleando, começa a andar em direção a padre Eustáquio. Dá uma volta em torno do automóvel. A multidão atônita se curva, com as mãos posta, perante ao padre holandês. O inacreditável acontece. E a sra. Ambrosina andou tranquilamente por toda a sua vida, segundo dona Valdete e sua mãe, dona Januária Caldeira.

 

QUEM É – Ambrosina era irmã da Geralda, mãe da Vera Caldeira, essa cunhada e prima da senhora Valdete Caldeira, que assistiu ao milagre. E contou a este cronista e ao José Carlos Lassi no Youtube (há seis anos).

 

MUDO FALOU NA IGREJA DE SANTA LUZIA – Dezembro de 1941. Luiz Gonzaga Nunes (tio de Dulce Nunes e Mônica Othero) é “coroinha” de Padre Eustáquio na velha e pequena igreja de Santa Luzia, onde ele é o capelão. Certo dia, contava Luiz, levei o colega Onofre, “mudinho” à presença do santo sacerdote. Na sacristia, após as confissões, o padre o acolheu, observou que ele não falava e começou a orar em latim. De repente, ele ordenou a Onofre que falasse. Surpreendentemente, o menino começou a pronunciar algumas palavras, dentre as quais “mamãe”... “mamãe”. Pois, sua mãe o acompanhava à Igreja. 

 

OUTRO MUDO FALOU – O barbeiro e cabelereiro Abner também foi abençoado por Padre Eustáquio. O popular profissional de barba e cabelo (masculino) nos anos 40 e 50 era mudo. A partir da benção, começou a falar algumas palavras, facilitando a sua comunicação.

 

A FÉ REMOVE O PERIGO – A sra. Oneida Castro, então residente à Praça Honorato Borges, nº 930 estava grávida de seu 7º filho. Gravidez e parto de alto risco. Tanto é que o médico da família (belo costume à época) solicitou a presença de mais de um médico, quando do nascimento da criança. Antes, porém, Padre Eustáquio foi chamado à casa da gestante para que ela recebesse a benção. O sereno e iluminado padre atendeu o pedido. Durante as preces, percorreu toda a casa com a oração e a imagem de São José. Dias depois, nascia uma criança saudável, em parto normal e feliz. Como não se tivesse havido nenhum risco às vidas de mãe e filho.

 

A LENDA... A VERDADE – Anos 50. Dona Stela Alves (tia do radialista Roberto Taylor e mãe da lindíssima miss Patrocínio Stelinha Alves) estava com grave problema familiar. O seu filho Romeu se envolvia demais com a bebida alcoólica. Por isso, orava e pedia ajuda ao miraculoso Padre Eustáquio. A fé era tanta que até a foto do sacerdote ela colocou no quarto do filho. Algum tempo depois, segundo a narrativa popular, à tarde, o esperado diálogo:

 

Mãe, hoje não bebi. Não houve jeito... Em todos os bares que passei, eu vi um padre de capa preta e batina branca na porta do bar. E ele não deixou eu entrar...

Meu filho, e aí? Como era esse padre?

Romeu pensou... olhou para a parede e disse:

Mãe, não tenho dúvida. Era esse do retrato... (apontando o dedo para a foto de Padre Eustáquio).

 

Para a felicidade de sua mãe (Stela), o galã-folclórico Romeu parou de beber por certo tempo. Não há registro por quanto tempo.

                                                   

PARALÍTICA ARAXAENSE ANDOU... – Final de 1941. Lucélia Borges Pereira conta, em seu livro “Bem-aventurado Eustáquio”, que o santo padre visitou a casa de sua mãe, Toniquinha Borges Rodrigues, por nove dias seguidos (professora Toniquinha, hoje, aos 93 anos, reside à Rua Presidente Vargas). Nessas visitas, dava benção à jovem paralítica de Araxá, Jovenília Lemos (prima de Dona Toniquinha). Em cada dia, ele fazia as orações e depois dizia para a Jovenília: “– Anda filha, anda filha”! Ela estava em Patrocínio à procura de um milagre para voltar a andar. Após as bênçãos, retornou à Araxá, e, pouco tempo depois andou normalmente.

TESTEMUNHO DE UMA CARIOCA – Está no livro de Lucélia também que Maria de Carvalho Rodrigues (nasceu no Rio de Janeiro em 17/5/1886) disse: “– Conheci Padre Eustáquio em Patrocínio-MG, para aonde viajei no dia 28 de outubro de 1941, com a finalidade de conhecer esse padre de tão famosa santidade. Sua presença infundia respeito e uma atmosfera sobrenatural...tinha o dom dos milagres... no confessionário várias pessoas ficavam estarrecidas de ouvir os seus pecados, sem terem dito nada até então... previa o futuro... com o meu marido é exemplo disso...” Padre Eustáquio teve repercussão nacional por seus possíveis milagres, mormente interior de São Paulo e Rio de Janeiro.

 

MAIS GRAÇAS... – O maior ícone da medicina patrocinense, Walter Pereira Nunes, foi abençoado pelo Padre Eustáquio, quando tinha seis anos de idade, superando uma adversidade. A escritora Lucélia Borges narra em seu livro como ela e família foram agraciadas pelo padre, que assinou a escritura do Ginásio Dom Lustosa em 1926.

 

TEM TUDO A VER COM PATROCÍNIO – Padre Eustáquio quando chegou da Holanda em 1925. Residiu por 10 anos em Romaria (Água Suja). Em diversas ocasiões, visitou Patrocínio, onde seus patrícios residiam no Dom Lustosa. De 1935 a 1941, a Igreja começou a escondê-lo, pois multidão de fiéis o procurava diariamente. Em um desses desaparecimentos, maio/1941, Padre Eustáquio estava “escondido” na residência do Cel. João Cândido de Aguiar, num majestoso casarão ao lado da Igreja Matriz Nossa Senhora do Patrocínio. E de outubro/41 a fev/42 residiu, abertamente, no Ginásio Dom Lustosa. Depois de permanecer um mês em Ibiá, Padre Eustáquio chegou na capital mineira em abril/42.

 

FONTES – Livro Bem-Aventurado Eustáquio (Lucélia Borges), carta de Dulce Nunes Castro, vídeo do Youtube com a entrevista de Valdete Caldeira feita pelo médico/cantor José Carlos Lassi (2014), Primeira Coluna de 31/8/2013, de 10/6/2006, de 17/6/2006 e de 30/8/2012. Além de acervo particular deste amador cronista.

 

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