# Eustáquio Amaral

PATROCINENSE DE QUASE 100 ANOS VIU MILAGRE DE PE. EUSTÁQUIO

14 de Julho de 2021 às 21:16

Testemunha. A histórica é de suma importância. E quando se trata de uma longeva patrocinense falando de Patrocínio é mais fascinante ainda. Lúcida, alegre, de bem com a vida, é essa testemunha antológica, que completou 99 anos dia 23 de junho. Waldete Caldeira Nunes é o seu nome. Ou simplesmente Dona Waldete.

UM POUCO DE D. WALDETE – Há cinquenta anos, reside em Belo Horizonte, próximo à Assembleia Legislativa. Portanto por quase 50 anos viveu em Patrocínio. Nasceu no bairro São Vicente, Rua São João, próximo à Santa Casa, em 23/6/1922. Os seus pais são José Caldeira Machado e Januária Moreira Caldeira, que foi casada por duas vezes.

A FAMÍLIA – Em 15/5/1943, casou-se com Aristóteles Afonso Nunes, antigo gerente do Banco Mineiro da Produção (depois Bemge). O padre holandês Williboro, sacerdote paroquial, foi o celebrante do casamento (esse sacerdote foi sepultado na Igreja Matriz, em frente a um dos altares laterais). D. Waldete tem três filhos e uma filha adotiva, oito netos, nove bisnetos e um trineto. Ou seja, um de seus bisnetos já tem filho, que se chama Matheus. Isso é caso muito raro na família brasileira.

MANIAS QUE PERDURAM – Adora a comida mineira, principalmente o tradicional feijão com arroz e carne. D. Waldete ama receber amigos e familiares em sua casa. Católica praticante, não deixa de orar diariamente. Adora o baralho, em jogos com a família e amigos. No esporte, gosta de voleibol. Em Patrocínio, final dos anos 30 e anos 40, tornou-se uma das primeiras e melhores atletas de voley na cidade.

DONA WALDETE ASSISTIU A UM MILAGRE DE PE. EUSTÁQUIO – Novembro de 1941. Hora do término das aulas na Escola Normal Nossa Senhora do Patrocínio (hoje, Belaar). Uma multidão se encontra na porta da igreja. Padre Eustáquio abençoa os fiéis, sejam pobres ou ricos, negros ou brancos. As alunas, de uniforme, mais curiosas, correm em direção à Matriz. Uma dessas alunas é Waldete Caldeira, de família patrocinense, hoje com 99 anos, residente em BH. Outra aluna, que acompanha Waldete, é Suzana Carvalho (falecida). Nesse momento, se aproxima um automóvel preto (carro era só importado, Ford ou Chevrolet). No banco traseiro, há uma senhora deitada.

A CURA DE PADRE EUSTÁQUIO – Segundo Dona Waldete, o motorista, Sr. Euclides, desce do carro e se dirige ao sacerdote:

Padre, peço-lhe bênção para a minha esposa Ambrosina, que há anos não anda mais.

Dando alguns passos rumo ao veículo, Padre Eustáquio abre a porta traseira, olha para a mulher e diz:

Você tem fé? Você é católica?

Após a resposta positiva da paralítica, o santo padre pede para Ambrosina fechar os olhos. E ele olhou para o céu e orou, por alguns instantes. A multidão, e nela se encontra Waldete Caldeira, em total silêncio, acompanha a cena de fé e esperança. Em seguida, Padre Eustáquio abaixa um pouco a cabeça, e diz:

Ambrosina, abra os olhos, pois agora te darei a bênção. Receba com muita fé.

Por três vezes, ele repete a bênção. Depois, diz:

Filha, desça do automóvel. Venha...

Não posso, não dou conta, Padre,... responde Ambrosina.

Você diz que tem fé. Então, venha...

 Ela remexe no banco do carro, assenta-se com dificuldade, levanta o corpo vagarosamente, põe os pés no chão e, cambaleando, começa a andar em direção ao sacerdote holandês, que pede para ela dar uma volta em torno do automóvel. A multidão atônita se curva e reza. O inacreditável acontece. E depois, a Sra. Ambrosina andou por toda a sua vida, segundo dona Waldete (Ambrosina era parente da família Caldeira).

HISTÓRIAS DE DONA WALDETE, CONTADA NESSA SEMANA – No final dos anos 30, Waldete foi contratada para trabalhar como “vagalume” (tipo “lanterninha”) no cinema do Largo do Rosário (Praça Honorato Borges). Um médico de BH, no cinema, encantou com ela e solicitou à sua mãe Januária para ela (Waldete) trabalhar em seu consultório. Pedido negado. Nos anos 40, nos bailes do Clube Itamarati (Edifício Rosário), Waldete e seu marido Aristóteles ganharam o 1º lugar nas fantasias, casal mais animado, e dança, no carnaval.

OS MELHORES DE ENTÃO... – Essa maravilhosa patrocinense, que desafia o tempo, considera Enéas Aguiar (UDN), o melhor prefeito de Patrocínio (1959-1962). Além de Padre Eustáquio, Padre Mathias (primeiro diretor do Ginásio Dom Lustosa e vigário em 1931/33), foi o padre de maior importância para a cidade. Da mesma forma, Irmã Gislene (diretora da Escola Normal, anos 30 e 40) e Irmã Maximiliana (permaneceu na Santa Casa por quase 40 anos a partir de 1939) foram as freiras mais relevantes na vida de Patrocínio (todo o seu histórico depoimento, de 1º/07/2021, encontra-se gravado com este autor).

Primeira Coluna também publicada na Gazeta, edição de 3/7/2021.                     

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