Antecedentes. O Município tem alguns muito importantes antes de sua emancipação, concretizada em 1842. Patrocínio pertenceu a três estados (capitanias). Os cinco nomes que sacramentaram e antecederam esse nome atual de Patrocínio. Dona Beja faz parte da história do território patrocinense. E a famosa Picada de Goiás (estrada de tropas/tropeiros) tem razão de ser chamada “de Goiás”.
PATROCÍNIO FOI GERADA POR SÃO PAULO – Desde as passagens pela região das bandeiras de Lourenço Castanho Taques (ano 1675) e de Bartolomeu Bueno (Anhanguera), em 1690, a região do Triângulo pertenceu à capitania de São Paulo, até 1748. Assim, quando foi aberta a Picada de Goiás, ligando Sabarabuçu (Sabará) e Vila Rica (Ouro Preto) a Goiás, passando por Patrocínio, em 1736, essa região era paulista.
SOB DOMÍNIO GOIANO – Em 1748, o Triângulo Mineiro foi anexado à Capitania de Goiás, criada em 1744. A região era chamada de Sertão da Farinha Podre e formava o Julgado de Desemboque (Sacramento). Em 1816, o Triângulo foi anexado à Capitania de Minas Gerais, por pressão dos grandes fazendeiros e arrecadadores de impostos. Aqui, entra a história da folclórica Beja.
BEJA COLABORA NO RETORNO DO TRIÂNGULO – Em 1814, os moradores da região fizeram abaixo-assinado ao imperador Dom João VI, solicitando a volta do Sertão da Farinha Podre a Minas, segundo o escritor Pedro Divino Rosa. E também em 1814, o ouvidor Joaquim Inácio Silveira da Mota, quando passou por Araxá, raptou a bela moça de 15 anos, de nome Ana Jacinta de São José, a Dona Beja. Os dois passaram a viver juntos em Paracatu, amasiados. No começo de 1816, o Ouvidor retornou ao Rio de Janeiro, a pedido de D. João VI. E Beja decidiu retornar a Araxá. E em 4 de abril de 1816, o Imperador anexa definitivamente o Triângulo a Minas Gerais, atendendo fazendeiros, líderes políticos e comerciantes de Araxá. E atendendo, possivelmente, também à Dona Beja. Nessa época, Patrocínio fazia parte do território araxaense.
HISTÓRIA ORAL – De geração em geração, é contado o episódio que Beja teria influenciado o seu amante, o Ouvidor Mota, a solicitar ao Imperador o retorno do território do Triângulo a Minas, quando a região pertencia a Goiás. Isso quando os dois estavam de saída de Paracatu para os seus novos destinos (Araxá e Rio de Janeiro).
REVELAÇÃO – Considerando mapas da Capitania de Minas Gerais, o Triângulo pertenceu a Goiás de 1748 a 1816. Portanto, a fundação de Patrocínio em 1772, o surgimento do povoado de Salitre (futura Patrocínio) em 1793 e a mudança de nome para Arraial de Nossa Senhora do Patrocínio (1807), tudo ocorreu na Capitania de Goiás. Isso a história é pouco explicativa. A região da Farinha Podre (Triângulo) ia até próximo a Paracatu, que sempre pertenceu a Minas. E o Triângulo somente se tornou mineiro, de maneira concreta, em 1816.
PRIMEIRO NOME – A criação da fazenda destinada a abastecer as tropas, que iam da região de Vila Rica e Pitangui para Goiás, pela Picada de Goiás, provocou o surgimento, à beira do (futuro) Córrego do Rangel, da Fazenda Bromado do Pavões. Essa é a primeira denominação histórica de (futuro município) Patrocínio. Além dessa fazenda, capitão Inácio de Oliveira Campos teve a missão de destruir índios e quilombos (um situava na região do Rio Dourados, onde o famoso Rei Ambrósio foi morto).
SEGUNDO NOME – Esse local, onde surgiu a Fazenda Bromado dos Pavões, era chamado pelos negros (quilombolas – escravos fugitivos e moradores de quilombos) de Catiguá (seria por causa de árvores na região?). Portanto, na mesma ocasião da fundação, apareceram, ao mesmo tempo, os dois primeiros nomes de Patrocínio: Bromado (ou Brumado) dos Pavões e Catiguá.
TERCEIRO NOME – Em 1793, já existia um pequeno povoado denominado Salitre (não é o atual distrito de Salitre, que apenas surgiu um século depois). O povoado de Salitre é consequência de viajantes e gente de outras regiões, que decidiram construir suas casas próximas à fazenda Bromado dos Pavões, grande referência na mobilidade de pessoas que procuravam chegar a Goiás e Paracatu. Salitre é o primeiro topônimo (nome geográfico) de Patrocínio.
QUARTO NOME – Em 1807, Salitre passa a ser denominado Arraial de Nossa Senhora do Patrocínio. Isso devido à construção da pequenina igreja dedicada à Nossa Senhora do Patrocínio, em 1804 (no mesmo local onde está a Igreja Matriz, hoje). E ao aumento de casas (casebres) e de moradores. É o segundo topônimo de Patrocínio.
QUINTO NOME – Com a emancipação municipal, ocorrida em 7/4/1842, o Arraial de N. S. do Patrocínio passa a ser Município e Vila de N. S. do Patrocínio. É o terceiro topônimo.
SEXTO NOME – Em 12 de janeiro de 1874, a vila torna-se cidade. Ou seja, é instalada a cidade de Patrocínio.
BEJA MOROU EM PATROCÍNIO – Em 1814, Dona Beja com o seu raptor, ouvidor Joaquim Inácio Mota, passa pela primeira vez, pelo Arraial de N. S. do Patrocínio, onde pernoitam. Pois, a única estrada (de tropas) que ligava Araxá a Paracatu, passava exatamente por Patrocínio. Dois anos depois, ela retorna a Araxá, pelo mesmo caminho. Após sua vida em Araxá por quase 40 anos, Beja decidiu em 1853 mudar para Bagagem (distrito diamantino pertencente ao município de Patrocínio, hoje Estrela do Sul). Mudou-se com a filha Joana de Deus de São José, num cortejo formado por carroças bem talhadas, passando novamente por Patrocínio. Vinte anos depois, em 20/12/1873, faleceu, aos 73 anos de idade, em Bagagem. Pelo que se observa, Beja foi atraída pela descoberta do diamante Estrela do Sul, de 254,5 quilates, em 1853. Nesse ano, Bagagem fazia parte do município de Patrocínio. A emancipação aconteceu em 1856. Portanto, o famoso diamante é de origem patrocinense e a fascinante mulher residiu por três anos em território, cuja sede administrativa era no Largo da Matriz de N. S. do Patrocínio, o centro nevrálgico do grande município.
([email protected]) * Crônica também publicada na Gazeta de Patrocínio, edição de 22/05/2021.