# Eustáquio Amaral

Patrocínio pertenceu a São Paulo e Goiás; Patrocinense criou Cidade

7 de Agosto de 2020 às 19:57

História. Há alguns fatos dela que são pouco conhecidos. Mas, são preciosos e interessantes. Para tanto, muitas vezes, é gostoso dar um passeio por um tempo distante. As terras de Patrocínio pertenceram a três províncias (Estados): São Paulo, Goiás e Minas. E quando o Município já tinha se emancipado (de Araxá), um patrocinense fundou uma cidade em Goiás. Hoje, uma boa e progressista cidade goiana.

PRIMÓRDIO PAULISTA – Nos séculos XVII e XVIII, toda a região do Triângulo Mineiro pertenceu à província de São Paulo. Tudo começou com o lendário Anhanguera, Bartolomeu Bueno da Silva (1722/1725). O Triângulo fazia parte do caminho entre São Paulo e Goiás, onde foram descobertas minas. Devido à resistência dos índios Caiapós, o governador paulista determinou a fundação de aldeamentos no então Sertão da Farinha Podre. Isso para proteger os tropeiros/bandeirantes em busca das minas em Goiás.

E PATROCÍNIO? – Nessa época (1772), ocorreu a fundação de Patrocínio, com o surgimento da Fazenda Brumado dos Pavões. Em 1776, Desemboque (Sacramento) se tornou o primeiro centro administrativo da região. O segundo centro foi Araxá, a partir de 1811.

SÃO PAULO X GOIÁS X MINAS – O esgotamento de ouro e de diamante na região central mineira provocou também a ida de mineiros para o Triângulo e Goiás. Nesse contexto, surgiu a famosa Picada de Goiás (estrada de tropas entre Pitangui, Patrocínio e Goiás). Até 1748, o Triângulo, inclusive as terras patrocinenses, pertenciam a São Paulo. Assim, o Sertão da Farinha Podre pertencia à província paulista. Inclusive, Goiás que se emancipou de São Paulo de 1748. A partir de 1748 até 1816, o Triângulo (também o Alto Paranaíba) pertenceu a Goiás.  

O PORQUÊ DE GOIÁS E A VOLTA PARA MINAS Em 1748, a região recebeu o nome do Julgado do Desemboque, fazendo parte da capitania de Goiás. Como Desemboque, era área também aurífera (minas de ouro), o Bispo de Santa Cruz (Goiás) reconheceu o lugar (a região do Triângulo) como sua jurisdição paroquial. Assim, com a colonização de Goiás, o então Sertão da Farinha Podre (Triângulo) passou a pertencer à Província de Goiás (1748). Pouco depois, o governador mineiro, Luis Diogo, publicou derrama de 13 arrobas (imposto exagerado), que também provocou a “fuga” dos cidadãos mineiros rumo à região do Desemboque (nessa ocasião, em Goiás).   

DONA BEJA EM AÇÃO – Em 1816, o Triângulo é reconquistado pela Província de Minas. Há versão que Dona Beja teve papel importante no fato. Pois, em 1814, ela foi raptada, em Araxá, pelo ouvidor Joaquim Inácio Silveira da Mota (passando ser a sua amante em Paracatu). Como ele voltou ao Rio de Janeiro, dois anos depois, por decisão da Coroa Portuguesa, Dona Beja ao retornar a Araxá teria lhe pedido a volta do Triângulo a Minas, o que aconteceu com o Ouvidor já no Rio, junto à Corte (1816). Beja tinha influência sobre o Ouvidor. Há também a versão que fazendeiros, líderes políticos e comerciantes de Araxá solicitaram a Dom João VI a incorporação do Triângulo à Província de Minas, pois a capital Vila Rica (Ouro Preto) era bem mais próxima.

PATROCINENSES FUNDAM (FUTURA) CIDADE – No século XVIII, o produtor rural Antônio Correa Bueno e seus irmãos, descendentes de Anhanguera, naturais de Patrocínio/MG segundo a história, chegaram às terras centrais de Goiás, atraídos pela fertilidade do solo e ótima topografia, propícias para a criação de gado e cultivo de lavouras. E edificaram capela à Nossa Senhora do Carmo. Em 1845 (Patrocínio já era município), o pequeno povoado goiano foi elevado a Distrito. E em 1882, surgiu o município com o nome de Morrinhos.

MORRINHOS, O FILHO, HOJE – A população ultrapassa 46.000 habitantes. Faz divisa com Caldas Novas, Goiatuba e Piracanjuba. Tem área total e altitude similares às de Patrocínio. Mas, o seu IDH é alto: 0,806 (muito bom).

PALAVRA DE ILUSTRE MORRINHENSE

Dr. Eustáquio Amaral, bom dia. Sou José Afonso Barbosa. Poeta, historiador e fundador da Academia Morrinhense de Letras. Sou descendente da família Amaral, trineto de Felisberto Luiz do Amaral e Cândida Carolina de Paiva; tetraneto de José Luiz do Amaral e Thereza de Paiva. Gostaria de saber se pode me ajudar a obter informações dessas personagens, todas de Patrocínio. Moro em Morrinhos-GO, cidade fundada por Antônio Correa Bueno, também de Patrocínio...

A CULTURA DO ACADÊMICO GOIANO – Após nossa resposta, José Afonso Barbosa, em tréplica, manifestou-se:

Agradeço-lhe a sua atenção ao meu pedido. Afirmo que fiquei encantado com os textos de a “Primeira Coluna”, onde desenvolve suas pesquisas sobre os vultos históricos de Patrocínio. Outrossim, apresenta seu vasto saber em vários ramos da atividade humana. Tudo isso faz jus ao grande patrimônio cultural de Minas Gerais, onde podemos destacar Guimarães Rosa, Pedro Nava e Carlos Drumond de Andrade, na literatura. E Antônio Carlos e Benedito Valadares, na política. Morrinhos, minha cidade, é na verdade um pedacinho de Minas Gerais... com um fraterno abraço.

FONTES – Arquivo Público de Uberaba, IBGE, Prefeitura de Sacramento, Wikipédia, mensagens do imortal José Afonso Barbosa (de Morrinhos-GO) e acervos deste escriba.

Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 25/7/2020.

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