# Milton Magalhães

Patrocínio Quem te Conheceu Quase Morre de Saudade...

3 de Junho de 2016 às 20:10

LIÇÃO DE AMOR

 Quantos nasceram em Patrocínio, e estão aí, desprezando  e desvalorizando a cidade natal   em palavras e atos. Mas veja isto: Uma família há mais de 70 anos se mudou de Patrocínio. Nunca mais regressam. Aqui viveram  de 1939 a 1946, em um tempo de precariedade e escassez, mas de amor autêntico e contagiante. Embora tenha se mudado e perderam todo  contato antigo, jamais  esqueceram o aconchego da cidade e a gentileza contagiante do  povo patrocinense.  Trata-se da família do médico veterinário, Sr. Gentil Murce...Décio Ferreira, seu filho, também, seguiu a carreira do pai, hoje reside Recife- Pe de onde nos enviou belíssimas crônicas, relembrando a aurora de sua vida em Patrocínio, entre as quais esta com sabor de saudade:

NUNCA MAIS...

Quanto mais o tempo passa mais e afloram as lembranças da minha infância e juventude que se fixaram indelevelmente na minha memória.

 Isso acontece com a maioria dos seres humanos. Coisas acontecidas recentemente não mais fixam de forma tão definitiva na memória quanto as do passado.  Coisas acontecidas quando criança e adolescente ficam para sempre e cada vez mais voltam a bater na porta da saudade. É assim que está acontecendo comigo. Pequenos detalhes começam aparecer emoldurando os meus mais sublime sentimentos.  Detalhes que muitas vezes passaram despercebidos na época, hoje retornam com força querendo me avisar: Voce está chegando no fim de sua jornada.

Em PATROCÍNIO, cidade que passei parte de minha infância e juventude é hoje para mim um caleidoscópio  de saudades.

 Nunca mais vi aquele céu tão estrelado como eu via lá. Não cabia nem mais uma estrela. Chegava a iluminar a terra onde eu pisava descalço.

Nunca pela manhã as folhas endurecidas pela geada.

Nunca mais eu vi os campos cobertos de guabirobas amarelinhas e saborosas.

 Nunca mais eu vi o Tenente Amorim apitando os jogos de futebol no campo encascalhado do Ypiranga em que meu saudoso pai Gentil jogava bola com os craques Bizinho, Paulo Tavares, Didi, Picum José Salomão e Baim.

 Nunca mais eu vi o vai-vem das moças que iam e vinham nas noites de sábado e domingo na praça Honorato Borges em frente ao Cine Rosário. Os rapazes ficavam parados á espera de um olhar. Era a paquera da época.

Nunca mais eu vi minha montanha de turmalina, nem o meu poção e nem o pé de tangerina do nosso quintal no casarão do Major Tobias Machado.

Nunca mais vi meus amigos Ronan Gonçalves, José Queiroz, Blair, Selênio, Saldanha, Jesus Soares, Antônio e Múcio Caetano, Zuza, Afrânio Amaral, Honorato, Benedito Gonçalves, Lô e Dim, Duca, Carlito e vários outros que me acompanhavam no futebol e nas molecagens.

Nunca mais eu vi os campos floridos de margaridas amarelas. Nunca mais comi bacupari, marmelada de cachorro, araçá, guabiroba, cajuzinho do campo, coquinho, macuri e jatobá.

 Nunca mais eu vi o resfolegar e o apito da Maria Fumaça soltando fagulhas de carvão incandescente.

 Nunca mais eu roubei frutas no quintal dos outros que sabiam do roubo e não se importavam.

Nunca mais nadei nas águas geladas do poção.

Nunca mais assisti as missas celebradas pelos padres holandeses no Colégio Dom Lustosa.

Nunca mais pesquei bagres na cachoeira João Cândido junto com meu pai. NUNCA MAIS...

(Décio Ferreira, Recife – Pe) (Foto: Ascom Prefeitura e Patrocínio...que eu vi e Marcelo André)