Ídolo. Patrocínio teve alguns em tempos pretéritos. No esporte, na política, na comunicação ou na vida escolar. Um ídolo, tornou-se referência no esporte, sobretudo no futebol, e, na política. Geraldo Matias de Abreu. Aliás, tem até rua, no bairro da Matinha, em Patrocínio, com o seu nome. Mas quem foi ele? Bom alfaiate, campeão patrocinense de futebol, um dos criadores da histórica “Corrida da Fogueira”, e, assessor direto do político mais folclórico do Brasil (até hoje). Picun era a sua alcunha (apelido), ou, nome que a população dos anos 40, 50 e 60 o conhecia e o admirava.
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CAMPEÃO NO FUTEBOL PELO CAP – Em 1954 e 1955, Picun foi campeão municipal, sendo o lateral direito do então “Sport Club Patrocínio”. Porém, há uma confusão não esclarecida. Nessa época, foi fundado oficialmente o “Clube Atlético Patrocinense–CAP”, com a camisa igual a do Botafogo. Pois, Paulo Constantino (depois residente em Presidente Prudente–SP), Rondes Machado (falecido no Rio de Janeiro), José Luiz da Silva e outros desportistas eram botafoguenses. Tanto é que a camisa inicial do CAP era alvinegra, com a estrela solitária. Posteriormente, assemelhou-se mais à camisa do Atlético Mineiro.
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PRIMEIROS ANOS DE PICUN EM PTC – Nasceu em Carmo do Paranaíba em 9/10/1920. É bom dizer que Carmo era uma cidade muito ligada a Patrocínio, na ocasião, por questões escolares e comerciais. Com pouca idade, veio para Patrocínio, onde nos anos 30, 40 e 50 foi alfaiate, com o seu irmão Custódio Mathias (maior modista-alfaiate da cidade, naquele tempo, e o outro criador da “Corrida da Fogueira”). E, nessa época também, integrou como titular absoluto o “Ypiranga Sport Club”, o CAP (também denominado “Sport Club Patrocínio”), e, em 1955, encerrou a sua carreira no Flamengo (do Véio do Didino). Atuou junto com Múcio (o maior nome do futebol patrocinense, que residiu na cidade), Pedrinho (depois, foi para o Galo), Ratinho (pai da atriz Patrícia Naves), Peroba, Carmo e Kebinho Guarda. Depois, foi servidor do Fórum e, nos anos 60, chefe de Gabinete doméstico (residência) do Vice-presidente da República, Alkmim. Deputado por Patrocínio, em quatro mandatos dos seus sete mandatos.
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COMO ERA PICUN – Pouco mais de 1,70m de altura, cerca de 75kg, voz mansa e pausada, raça negra (clara), amante do baralho (“caixeta” e “pif-paf”), apenas fez o curso primário (hoje, até o 4º ano do Ensino Fundamental), e, pessoa amiga e fraterna. Com a sua sabedoria, tornou-se um dos homens de plena confiança do Vice-presidente da República, José Maria Alkmim. Isso no primeiro mandato do governo militar do Marechal Castelo Branco (março de 1964-março de 1967). Nessa época, foi o “administrador” do gabinete doméstico de Alkmim, localizado na Rua Ceará com Av. do Contorno, em Belo Horizonte (residência do astuto político). Hoje, é a Savassi. Lá era o “point” de patrocinenses, entre outros, em busca de ajuda do Vice-presidente. Tais como, emprego, bolsas escolares, transferência de funcionários públicos, etc. Picun “comandava” a agenda. Lá muita coisa aconteceu. Inclusive, de ordem política do regime da Ditadura. Alguns empregos, ações rotineiras do matreiro Alkmim (serão apresentadas em outra crônica), “enrolações” e momentos históricos. E Picun, nos anos 60, residia no Barro Preto, próximo ao Estádio do Cruzeiro de Tostão, Dirceu Lopes, Piaza e Natal. Aliás, o melhor Cruzeiro de todos os tempos.
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TRAGÉDIA DANTESCA NA VIDA DE PICUN – Em 15 de agosto de 1973, na BR–365, em construção, Geraldo Matias de Abreu (Picun) perdeu a esposa e dois filhos, além de outros três filhos hospitalizados, em estado grave. Isso no desastre do caminhão FNM, a caminho da “Festa de Água Suja” (Romaria). Faleceram Conceição de Abreu (esposa) e os filhos Luiz Henrique (13 anos) e Márcia Matias (16 anos). Para a Santa Casa foram Ana Fátima Matias (oito anos), Carlos Matias (12 anos) e Sérgio Matias de Abreu (14 anos). Picun estava, a serviço da Fetaemg, em Salvador–BA. A sua residência, à Rua Coronel Rabelo, nº 1.748, nessa data, é a cena mais tétrica da história patrocinense registrada. No total, Patrocínio perdeu 16 patrocinenses nessa catástrofe, naquela data.
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POUCO DEPOIS, A MORTE DE PICUN – Mesmo ainda trabalhando, o ex-craque do futebol rangeliano, o ex-oficial de Justiça de PTC, e, amigo e assessor do Vice-presidente da República, faleceu em Almenara (Jequitinhonha), distante de sua amada Patrocínio. Devido à tragédia, vivia triste e amargurado. Suportou a imensurável dor dois anos e meio. Pois, veio a falecer em 1º de fevereiro de 1976. Exatamente, há 49 anos.
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MAIS PICUN – Na votação da “Seleção de Patrocínio de Todos os Tempos”, realizada pela saudosa “Revista Presença” (Luiz Antônio Costa), e por esta coluna, então no “Jornal de Patrocínio”, o vigoroso lateral foi lembrado diversas vezes.
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PICUN E ALKMIM: FOLCLORE – Em uma de suas inúmeras visitas a Patrocínio, o então deputado Alkmim, do velho PSD, recebeu um vereador do PSD, em audiência, que lhe disse coisas do “arco da velha” (fofoca) de seu adversário, um vereador da UDN. Alkmim concordou e disse:
– Você em toda razão, vereador!
Pouco depois, o vereador da UDN procurou Alkmim e disse “mil coisas” desabonáveis de seu colega do PSD. Alkmim concordou também:
– Você tem toda razão, vereador!
Quando os dois vereadores se distanciaram, Picun, que estava próximo, disse:
– Dr. Alkmim, o senhor deu razão ao vereador do PSD e, em seguida, ao da UDN!
Alkmim, olhou para o Picun, e disse:
– Você tem toda razão, amigo Picun!
Moral da história da visão de Alkmim: “... dando razão, ganha eleição!”.
([email protected]) *** Crônica também publicada na Gazeta de Patrocínio, edição de 01/02/2025.