Na parte que nos toca como cidadão patrocinense, nossa gratidão ao povo de Uberlândia, pela homenagem prestada á nossa conterrânea, ISMENE MENDES. No Dia Internacional da Mulher, 2017, mais de 3 mil pessoas marcharam pelas ruas no entorno PRAÇA TUBAL VILELA. Agora, a principal praça de Uberlândia, simbolicamente, será a “PRAÇA ISMENE MENDES” .. Ismene, se graduou em Direito na UFU e morreu vítima de três crimes: estupro, espancamento e envenenamento.Um caso que, se não fosse um grupo de mulhere em Uberlândia, teria caido no esquecimento. A Comissão da verdade com sede em Uberlândia, leva o nome: Comissão da Verdade do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba “Ismêne Mendes”. Em Patrocínio, sua cidade natal, mesmo angustiados pela dor, nestes 32 anos depois de sua morte, talves por medo, ficou tacitamente decidido que ninguém falaria no assunto. No mínimo, tem uma Av. no Bairro Congonhas com o seu nome e a Tribuna da Câmara de Patrocínio, se denomina: Tribuna Ismene Mendes..
Conheci Ismene, lembro-me até de uma viagem que fizemos em 84, para a cidade de Poços de Caldas, quando um levante de patrocinenses,incluindo o ex- vereador José Dinamérico dos Reis, repórter Luiz Cabral, escritor Marlenísio Ferreria e empresário, Luiz Aberto Ribeiro,(dentre outros) fomos exigir eleições diretas nas cidades consideradas Estâncias Hidrominerais. .. Lembro-me que durante a viagem, Dinamérico, todo brincalhão, para descontrair a viagem, corria as poltronas, perguntando aos passageiros:"está tudo bem ai?. Não está precisando de nada?"´Só que as vezes, nosso amigo pegava alguém em pleno sono, como foi o caso de Ismene. Pense numa pessoa que acordou 'brava' com o Zé (Se é que alguém consegue ficar bravo com ele) Dali a pouco foi gargalhada geral. Ela então, era a que mais ria. Ficou a imagem de uma pessoa brava, quando devia e alegre e agradável para se conviver...Será emocionante, passar por aquela bela praça de Uberlândia, que já gostava tanto... Agora, simbolicamente: "PRAÇA ISMENE MENDES"...GRATIDÃO, GRATIDÃO AO POVO DE UBERLÂNDIA!
VIA FACE:
LUIZ CABRAL: "Bela homenagem meu caro Milton Magalhães Lembro-me também que fizemos uma viagem nos idos dos anos 80 em São Paulo no 1º Encontro Nacional do Café que aconteceu no então Ginásio do Corinthians. Entre as lideranças José Carlos Grossi e outros. A vereadora Ismene Mendes entre outros vereadores e o repórter do JP Merval, hoje, se vivo e acredito, morando em Uberlândia e não mais na área jornalistica. Entre as lideranças políticas que pediam melhorias no preço do café naquela época Tancredo Neves, Abreu Sodré, Franco Montoro, Mário Covas, Ulisses Guimarães entre outros."
ÂNGELA ARVELOS FERREIRA: “Felizes foram as pessoas que tiveram o prazer de conhecê-la! Dela tenho imensas saudades e, lastimo a maneira como partiu...... Sem dúvida é uma pessoa que faz falta,principalmente para aqueles que não têm voz no coro das mídias...... Profundas saudades!!!! "Amigo é coisa pra se guardar"....Parabéns pela lindeza e leveza do texto!!!!! Gratidão,gratidão!......”
MÔNICA NUNES: “ Caro Milton Magalhães, qdo Viviane Lemes, me enviou o vídeo a emoção foi forte.Simbolicamente nessa data a principal praça de Uberlandia recebeu o nome de Ismene.Iniciativa de um grupo de mulheres entre elas professora Jorgetania Ferreira.Bravas e atentas mulheres. Por que ate hj essa história não foi esclarecida ? Ela era filiada no PMDB , vereadora eleita , advogada do Sindicato ...lutou numa época onde a "força bruta" agia silenciosamente. Jamais sua história e esse final trágico deveria ser esquecido.”
ANTÔNIO DE PÁDUA DOS SANTOS: "O sindicato era na rua Jacob Marra ,Éramos vizinhos e conversava pelo menos três vezes por semana com Ismene .Nestas conversas conheci muito de sua ideologia "
VANUSA MELO COSTA SANTOS: "Que história de vida! Uma mulher de coração e compaixão pelos trabalhadores e pelos pobres. Linda homenagem Milton Magalhães. Parabéns ! Abraços"
ECLAIR GONÇALVES GOMES: "A força dos justos pode ser enterrada pelos brutos, mas a força do bem é maior do que qualquer maldade. O tempo mostra e ensina."
ADELSON MELO: "Valeu Milton Magalhães, sempre trazendo algo no mundo jornalistico de valor, algo esquecido. brilhante amigo"
ISMÊNE MENDES (1956-1985
"Nascida na cidade de Patrocínio, cidade mineira conhecida internacionalmente como a capital do café, Ismêne era a primeira filha do casal Almando e Almelinda, sindicalistas muito atuantes na defesa dos direitos dos trabalhadores rurais da região. Almando, seu pai, era liderança respeitada e desde criança Ismêne habitou-se a acompanha-lo nas recorrentes assembleias sindicais.
Com a semente da Justiça plantada no coração, a pequena Ismêne manifestava desde cedo a ânsia de lutar por igualdade. Aos dezoito anos, ela ingressa no curso de Direito da Universidade Federal de Uberlândia no começo da década de 1970. Durante o curso, Ismêne já demonstra grande aptidão para a carreira jurídica e mesmo antes de se formar, atuava como consultora jurídica em sindicatos e movimentos trabalhistas em todo Triângulo e Alto Paranaíba.
Graduada, Ismêne passa trabalhar como advogada do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Patrocínio. Também nessa época, em data incerta entre o final dos anos 70 e começo dos anos 80, Ismêne defende o caso dos 70 boias-frias mortos em acidente na região de Ituiutaba. Esses trabalhadores eram transportados na carroceria de um caminhão boiadeiro, que, acidentando-se, caiu num rio matando afogados todos os que estavam no caminhão.
Foi Ismêne quem cuidou atenciosamente do processo judicial de todos os trabalhadores. Segundo relatos, havia cópias das certidões de óbito de cada uma das vítimas em sua escrivaninha, pois ela cuidou do processo de reparação de todas as famílias. Posteriormente, também foi iniciativa de Ismêne, já vereadora do município de Patrocínio pelo PMDB, a mobilização pela criação de uma lei que tornasse obrigatório o uso de ônibus para o transporte de trabalhadores rurais e urbanos. Trata-se do Projeto de Lei nº 998 de 1983, que tramitava no Congresso depois de intensa luta de Ismêne.
Pela preocupação sincera com a realidade do oprimido, ela era chamada de “mãezinha” pelas pessoas mais simples de Patrocínio, especialmente os camponeses. A advogada era extremamente atuante na maioria dos casos judiciais que envolvessem violações dos direitos dos trabalhadores, como homens e mulheres que trabalhavam nas lavouras de café sem receber de seus patrões - ou que recebiam quantias indevidas – hipóteses que aconteciam com muita frequência e que não deixavam de configurar trabalho análogo à escravidão. Contudo, se sua bondade era tão querida pelos camponeses, Ismêne, por outro lado, era constantemente ameaçada e perseguida por fazendeiros da região, sendo comuns telefonemas e cartas que visavam coagi-la.
Até que um dia as ameaças se materializaram. No dia 11 de outubro de 1985, Ismêne encontrava-se em casa, quando ouviu os gritos de uma criança na rua. Correndo em seu socorro, o menino disse à advogada que sua mãe entrara em trabalho de parto no meio de um mato nas proximidades da cidade. A vereadora, quase imediatamente, tomou seu carro com o menino na direção em que ele apontou. Chegando no local, guiada pela criança, Ismêne se viu sozinha num matagal, pois o menino fugira. Nesse instante, Ismêne depara-se com três homens mascarados que a imobilizaram, tiraram suas roupas, agrediram-na e estupraram-na com pedaços de madeira. Depois de ser deixada no local ferida e violentada, Ismêne reunir forças para em seu carro ir diretamente à delegacia de Polícia Civil da cidade. Já na delegacia, Ismêne relatou o crime, descrevendo os fatos e a aparência física de seus agressores, que nunca foram encontrados.
Nos próximos dias após o crime, em sua apuração a Polícia só conseguiu incriminar dois peões pelo ocorrido, que trabalhavam na mesma cooperativa que Ismêne e que haviam faltado do serviço no dia anterior. Unicamente por essa coincidência, os dois homens foram presos, acusados e vítimas de maus tratos na delegacia, até que a própria Ismêne solicitou que os dois fossem libertados.
Então, no dia 22 de outubro de 1985, numa tarde de terça-feira, a irmã de Ismêne, a encontrou em sua cama agonizando e sem mais capacidade de fala. Em estado de grande aflição, Islêne, a irmã, pediu imediatamente ambulância e atendimento médico, que só chegaram depois de um atraso significativo, que resultou na morte da advogada antes que pudesse chegar ao hospital. Na cama, ao seu lado, também foi encontrada uma carta de despedida, que depois de examinada pelos pais de Ismêne foi dada como falsa, por não corresponder à sua caligrafia. Inexplicavelmente, a carta de despedida despareceu dos autos.
No inquérito que se seguiu sobre o estupro e agressões físicas que Ismêne sofreu, consta que ela se “auto-estuprou” e se “auto-espancou”, sendo estes exatamente os termos usados na conclusão da Polícia. Posteriormente, depois de investigações negligentes e afastamento de cinco delegados que acompanhavam o caso, o inquérito foi arquivado segundo a conclusão de que Ismêne cometera suicídio. Até hoje, em sua certidão de óbito, consta como causa mortisintoxicação exógena (por gastoxin, veneno usado em lavouras de café).
Sua morte, de forma geral, causou grande comoção. A revista Veja (edição nº 895, de outubro de 1985) noticiou o falecimento da vereadora, descrevendo como motivos uma forte crise depressiva, depois de ser vítima de estupro e agressões. Se o povo muito lamentou e pedia justiça, as elites, por outro lado, aproveitaram-se para reafirmar a versão de que ela havia se auto-estuprado para chamar a atenção e, mais tarde, matou-se devido a “rejeições amorosas”.
Aos vinte e nove anos, a feminista, defensora dos pobres e militante de direitos humanos foi assassinada, depois de sofrer as piores formas de violação imagináveis. Trinta anos depois, sua memória continua sendo violada, pois nenhum dos erros que se cometeram contra ela foram corrigidos, nem pelo Estado, nem pela sociedade. Ao contrário, há ainda os que acreditam que ela se “auto-estuprou”. Ou que foi estuprada porque merecia. Ismêne foi estuprada porque era MULHER, e mulheres como ela não podiam ser aceitadas. E depois foi morta por ser corajosa, e até hoje, e desde sempre, quem ousa enfrentar os donos do mundo paga caro por isso.
É por isso que nossa comissão se nomeia com toda honra do mundo Comissão da Verdade do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba “Ismêne Mendes”. Se um dia quiseram enterrar sua memória sem justiça, nós a desenterraremos para levantarmos como bandeira. E gritarmos a cada dia de luta:
Ismêne Mendes – presente, presente, presente."
Texto escrito por: José Renato Resende