Era. A dos prefeitos começou em 1930, por meio da Revolução liderada pelo ditador Getúlio Vargas. Foram criadas as figuras de “prefeito” e “prefeitura”. A partir da Constituição de 1934, surgiu a eleição de prefeito. O primeiro prefeito do Município foi Francisco Batista de Matos, indicado pelo governador do Estado. A partir dele (Francisco) casos curiosos, inusitados, aconteceram no Casarão da Praça da Matriz, sede da Prefeitura e Câmara Municipal, naquela época. Teve de tudo. Cassação. Vice sendo prefeito e prefeito sendo vice. Triunvirato. Troca de prefeito em somente um ano, algumas vezes. E muito prefeito nomeado.
PRIMEIRO TROCA-TROCA ANUAL – O primeiro prefeito, Francisco Matos, administrou o Município por apenas um ano. No segundo ano (1931), piorou. Houve dois prefeitos indicados pelo governador Olegário Maciel. Frederico Coelho Duarte no começo do ano e o empresário Oscar Barreira no segundo semestre.
REPETECO DE TROCA-TROCA – Em 1932, de novo, Patrocínio teve dois prefeitos, nomeados pelo governador Maciel, em um mesmo ano: Teodorico Andrade Lima e Honório de Paiva Abreu. Esse o criador do sistema de água da cidade (futuro Daepa). Honório permaneceu até julho de 1935.
TRÊS EM UM – Depois, nos meados de 1935, o Município foi administrado por um triunvirato. João Barbosa (um dos fundadores da UDN patrocinense), comerciante muito correto, historiador Joaquim Carlos dos Santos e Secundino de Faria Tavares, pai de quatro deputados, que naquela ocasião eram estudantes do Ginásio Dom Lustosa. José de Faria Tavares (chegou a senador; único de Patrocínio), Expedito de Faria Tavares (vereador e presidente da Assembleia Legislativa), Dario de Faria Tavares (Secretário de Estado de Saúde) e Carlos de Faria Tavares (deputado em 1955/1959). Todos ligados à UDN.
PREFEITO CASSADO! – Todavia, o Triunvirato ficou apenas alguns meses. Já no final de 1935, o médico Vicente Soares tornou-se prefeito. Em abril de 1938, as atividades da Santa Casa foram iniciadas. A inauguração oficial, entretanto, ocorreu em 7 de setembro do mesmo ano, pelo prefeito Dr. Vicente Soares, responsável maior pela (antiga) construção desse sagrado primeiro hospital da cidade. A Irmandade Nossa Senhora do Patrocínio foi fundada quatro anos antes (1934).
PREFEITO ERA PROFESSOR – Vicente Soares foi médico do internato (alunos de outras cidades) do Ginásio Dom Lustosa, dos padres holandeses, onde também dava aula de Química. Pertencia ao poderoso Conselho Consultivo Municipal.
QUEM CASSOU O PREFEITO – Por volta de 1939-1940, houve um episódio obscuro e ímpar na história política patrocinense. O prefeito Dr. Vicente Soares foi deposto. Segundo o intelectual Rondes Machado, a cassação teria ocorrido por pressão irresistível, com ameaças à vida e sem processo legal. Supostamente, o prefeito teria praticado atos que desagradaram bastante as duas correntes políticas da cidade? É a pergunta que dominou o cotidiano há 80 anos. Ainda não está esclarecido pela história qual o motivo, e, o poder que determinou o afastamento do prefeito.
AS CORRENTES – À época, as duas maiores facções políticas eram o nascedouro dos futuros partidos UDN e PSD. Fizeram parte da UDN as famílias Aguiar, Faria Tavares, Borges, Arantes e Paiva. Do outro lado, PSD, eram as famílias Alves do Nascimento, Queiroz, Amaral, Silva, Machado e Nunes.
SOBROU TAMBÉM PARA A POLÍCIA – O delegado teria sido expulso da cidade pelas forças políticas locais. A causa foi devido ele ter dado garantia de vida (e de mandato) ao prefeito cassado Vicente Soares. Mais tarde, o ex-prefeito faleceu em Belo Horizonte.
TRIUNVIRATO NOVAMENTE – Em 1947, Patrocínio teve o seu segundo mandato a três, nomeado pelo governador Milton Campos (UDN). José Francisco Queiroz (PSD), Péricles Borges de Paiva (UDN) e João Alves do Nascimento (PSD) formaram o trio. Pouco depois, o triunvirato virou um. Ou seja, o irmão do futuro prefeito Mário Alves do Nascimento, João Alves do Nascimento comandou sozinho a municipalidade até 1950.
VICE QUE NÃO FOI VICE – De 1951 a 1955, o prefeito desta vez eleito, foi Amir Amaral. Inovador, progressista e correto. Por isso, era denominado o JK patrocinense pelos seus correligionários. Nas eleições de 1955, o PSD teria que lançar outro nome pois não havia reeleição. A história contada diz que teria havido um entendimento político entre PSD e UDN. Nesse eventual acordo, a UDN não lançaria candidato com uma condição. Dr. Amir Amaral seria candidato a vice-prefeito (assim a legislação permitia e, a eleição de prefeito e vice era separada; não havia chapa). Entretanto, o vice-prefeito Amir teria que ser o real executivo municipal (o prefeito de fato). Nesse contexto, foram eleitos Mário Alves do Nascimento (prefeito) e Amir Amaral (vice-prefeito). Lenda ou não, Amir Amaral governou o município em seu “terceiro” mandato.
METADE DOS PREFEITOS: NOMEAÇÃO – De 1930 até hoje, que corresponde a 90 anos, durante 40 anos o prefeito patrocinense foi escolhido pelo governador do Estado. Nos anos 30 e 40, e, de 1967 a 1986, no período do governo militar. Nessa ocasião, Patrocínio considerada estância hidromineral (das águas minerais) teve prefeitos nomeados: João Alves de Queiroz, Valdemar Lemos, Olímpio Garcia Brandão, Afrânio Amaral (duas nomeações e uma eleição) e Amâncio Silva.
FONTES – Livro “As Ruas de Patrocínio” de Júlio César Resende, Primeira Coluna de 17/2/2001, carta de Rondes Machado, Wikipédia e acervo do cronista.