Celebridade. Coronel Rabelo é uma das maiores na história da cidade. No Império foi o único deputado provincial, por dois mandatos, e, o único senador eleito, da região. Também foi o único cidadão do Município a obter um título de nobreza: barão. Intelectual, maior líder político de Patrocínio na era imperial, grande fazendeiro e bastante polêmico. Pois, a não menos célebre família do Índio Afonso tinha simpatia e proteção da família Rabelo, onde o coronel era o patriarca e astuto chefe. Tão controverso que há três versões literárias sobre a sua morte. Sem o Cel. Rabelo, a narrativa histórica patrocinense fica incompleta.
UM MONARQUISTA DE PRIMEIRA – Joaquim Antônio de Souza Rabelo, o Cel. Rabelo, foi amigo do imperador Pedro II. O título de “coronel”, oriundo da Guarda Nacional, no período do império, era concedido pelo Governo aos grandes latifundiários e oligarcas (em outras palavras, grandes fazendeiros e pequenos grupos de pessoas dominantes, com interesses próprios/benefícios para si). E Cel. Rabelo era grande fazendeiro no vasto novo município de Patrocínio.
E ONDE VEIO... – Nasceu em 1817, em Santa Rita de Ibitipoca, na Zona da Mata de Minas Gerais, época que era apenas um povoado. Cel. Rabelo, casado com Anna Felisbina da Fonseca, teve filhos. Entre os quais, o tenente-coronel José Rabello da Fonseca, que foi agente executivo (vereador e prefeito) de Patrocínio.
FANTÁSTICA FOTO MAIS ANTIGA DE PATROCÍNIO – Guardada na Biblioteca Nacional, há histórica imagem do casarão do, então abastado, Cel. Rabelo. O imóvel, a melhor casa de PTC na era imperial, localizava-se onde é hoje o Colégio Belaar, Praça Monsenhor Thiago (praça da Matriz), pista da Rua Governador Valadares.
QUE A MEMORÁVEL FOTO MOSTRA – Há dois casarões, onde estão alguns homens com a usual barba, de paletó. No terceiro imóvel, um casarão de dois pavimentos. A vista (o olhar), bem amarelada, em direção ao final da rua ou praça, mostra ainda diversos casebres. Os três principais casarões (um pertenceu ao Cel. Rabelo) situavam-se certamente no Largo da Matriz. O casarão de dois andares resistiu ao tempo até o começo dos anos 60, época em que foi substituído pelas quadras esportivas da Escola Normal.
EXTRAORDINÁRIO DOCUMENTO DE 1878 – O registro manuscrito (escrito à pena de tinta), que acompanha a foto, exara, “ipsis litteris” (literalmente), assim: “Vista da cidade do Patrocínio, photographica, Província de Minas Geraes, tirada em 1878, por Luiz Calcagno: a casa do Coronel Rabello. Enviada à Bibliotheca Nacional por Antonio Borges Sampaio. Uberaba, 20 de julho de 1881”. Acima do texto, alguns números de controle e o carimbo da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. O nome completo do autor da fotografia é Luiz Bartolomeu Calcagno. Portanto, nessa época (1878) a jovem cidade tinha apenas quatro anos de idade. E o município de Patrocínio, 36 anos de existência.
BARÃO RABELLO – Em 10 de agosto de 1889, poucos dias antes da Proclamação da República, Cel. Rabelo foi agraciado com o título (também) de barão de Patrocínio, por Dom Pedro II. Nessa ocasião, já era político influente do Partido Liberal, ligado à monarquia. Daí, arqui-inimigo do Partido Republicano.
CLASSIFICAÇÃO DE BARÃO – Os principais títulos de nobreza concedidos no Império, em ordem de importância e custo, foram Duque (patamar mais alto da aristocracia), Marquês, Conde, Visconde e Barão. Enquanto duque custava algo em torno de R$ 350 mil (fazendo conversões para a atualidade), barão custava R$ 80 mil. O imperador destinava o título a líderes políticos e proprietários de terras (fazendas).
A MORTE DE CEL. RABELO – Dia 25 de maio de 1897, aos 80 anos de idade, faleceu no Município, o maior líder político de Patrocínio durante o Império brasileiro, por doença do coração. A afirmativa é do pesquisador patrocinense Adeilson Batista. Já em narrativas de Cornélio Ramos (escritor que estudou no Ginásio Dom Lustosa) e de Odair de Oliveira (patrocinense celebridade do jornalismo mineiro) constam que Cel. Rabelo foi morto em uma de suas fazendas, devido intenso tiroteiro com os republicanos, que invadira a sua propriedade, após a Proclamação da República. A escritora patrocinense Lindalva Machado, sobrinha de Tobias Machado, escreveu uma terceira versão em que o Rabelo se suicidou, desgostoso com a República e a não confirmação de sua eleição para o Senado Federal. Isso é genial discussão histórica. Merece capítulo à parte.
PERSONSAGEM INDISCUTÍVEL – Além de tudo isso, Coronel Rabelo (na verdade, tenente-coronel da Guarda Nacional) foi protagonista na saga, de cunho nacional, do Índio Afonso e seus filhos, que durou quase 50 anos. Sobretudo, após 1870.
*** Crônica também publicada na Gazeta de Patrocínio, edição de 13/05/2023.