Talvez seja uma pessoa sinestésica, poeticamente falando. (visão, audição, olfato, paladar e tato no melhor sentido). Isto me levou a preferir o mês de setembro, mais do que todos os meses do ano. Esperei sempre com uma doce expectativa o mês do ano em que a terra, campos e serras se revestem de cores, cantos, sabores e vida. Chegava a ouvir o tropel do mês lúdico se aproximando no horizonte. Setembro chegava me tornava outra pessoa. Meu sexto sentido- chamado coração- entrava em cena. A alma saltitava com aquela alegria de cachorrinho novo no jardim.
Amava e amo Setembro. A propósito sou de uma geração que exaltava com magia e poesia do mês de Setembro. Em 1973, (você nem sonhava em nascer, dileto leitor) Vanusa cantava: “Eu quero sair, eu quero falar, eu quero ensinar o vizinho a cantar nas manhãs de setembro”.
Ainda sou um “setembólatra”, mas estou aprendendo a amar também o mês de Agosto, de Outubro, de…
Aliás, fiz uma releitura da vida. Enquanto espero Setembro, passei a procurar sentido, beleza e encantamento em todos os meses do ano, em todas as semanas dos meses e em todas as horas do dia. Não tem aquele que só é feliz na tal “Sextô”. Eu era, “Setembrô”. Quero dizer, ainda sou. Todavia. Em vez de e ao invés de:
Tanto quanto na primavera, quero buscar o que também faz meu coração sorrir no verão, outono e inverno.
Desde então tenho o meu mantra, minhas novas percepções, minhas palavras-chaves: Janeiro me traz fé; Fevereiro, alegria; Março, determinação; Abril, saúde; Maio, amor; Junho, ânimo; Julho, reflexão; Agosto, resiliência; Setembro, poesia; Outubro, equilíbrio; Novembro, otimismo. Dezembro, esperança.
E assim, nessa manhã ao passar próximo ao balão do bairro Enéias Ferreira Aguiar, onde está em adiantado curso, a canalização do córrego Rangel, ( ao fundo, Jardim Ipiranga) me deparo, com essa árvore solitária, toda florida. ( A obra meritória, importante e necessária. Ponto)
O nome científico desta árvore é Erythrina falcata, corticeira-da-serra. Também é conhecida em todo o país por outros 19 nomes, entre os quais: bico-de-papagaio, canivete, sapatinho-de-judeu, sinhanduva, mulungu, ceibo, sananduí, suinã, sinandu e corticeira. Mas vamos chama-la aqui de um novo nome: Resiliência. Majestosa, Resiliência.
Ela não precisa- e não pode- esperar Setembro e nem a Primavera, é florece em Agosto, no Inverno, solitária em meio ao caos.
Máquinas pesadas lhe rodeiam o tronco. Árvores ao seu lado foram abatidas. Nuvens de poeira lhe cobre a florada. Sua floração dura apenas duas semanas. Ano que vem ela não sabe o seu destino... Como aprendo com essa Universidade chamada Natureza!
Reafirmo meu fascínio por Setembro, mas feliz- sem depender de nada - eu preciso ser é agora..