Todos nós deveríamos visitar de vez em sempre três ambientes na vida: Cemitério… Cadeia e Hospital. Estes lugares põe a gente no lugar, tanto quanto qualquer igreja.
Nada como uma voltinha entre os túmulos ouvindo o grito ensurdecedor do silêncio. Quanta gente importante, imponente ali completamente esquecida. O milionário e o mendigo lado a lado em estado de pó…
Na cadeia, vem a reflexão que de um segundo para outro, alguém vacila, se entrega a uma fraqueza e põe a perder uma vida todinha.
Jamais esquecerei de um domingo à tarde estive na cadeia,( até então na Av. Faria Pereira) me veio uma vontade de visitar o preso mais perigoso do presídio. Sei lá que sapituca foi aquela. Nem era hora de vista, mas o guarda deve ter ido com a minha cara, pois me deixou entrar sem muita relutância.
O guarda foi me conduzindo pelo longo corredor, diante dos olhares curiosos dos presos. Muitos usavam espelhinhos para visualizar o que se passava no corredor.
De repente, o guarda parou diante de uma cela ao fundo, vi quando alguém, que retirou o espelho e se foi sentar num cantinho da cela.
-“Téia, esse moço é gente fina, quer falar com você” Disse, o guarda.
O moço, era realmente poucas ideias. Pediu que eu falasse logo e de longe. Mas eu não quis falar de longe solicitei que ele se aproximasse da grade. O guarda me chamou a atenção, disse que aquilo era um perigo. O preso poderia me fazer de refém. Mas insisti dizendo que confiava nele.
Não tenho dúvida o que fez ele se aproximar da grade para conversarmos foi uma frase que disse: "NÃO SOU MELHOR DO QUE VOCÊ. EU TENHO TUDO PARA ESTAR DE LÁ DA GRADE E VOCÊ TEM TUDO PARA ESTAR DO LADO DE CÁ” Quebrou-se o gelo e pudemos conversar longamente… Por fim, ele me prometeu mudar de vida. Não aconteceu, inclusive escapou da cadeia, mas é outra história. A propósito, Téia foi uma espécie de” Hoobin Wood Rangeliano” Vida que daria um filme…
Uma visita na cadeia, portanto tendo presente nossa nossa fragilidade humana, nos faz ser gente de verdade.
O hospital é campeão em domar cidadão chucro, metido a besta.
Minha passada por lá, me fez sentir na pele. Me deram uma camisola hospitalar e me pediram para retirar as peças debaixo. Depois de uma anestesia na coluna vertebral, você não é mais dono de sua vontade. Vozes e rostos, simplesmente desapareceram da minha frente.
Já no quarto 206-1, onde passei a noite acordado, ouvindo crianças chorarem chamando agonizadas por suas mães. Conversei a noite toda com a minha filha Melva, que manteve um posto de sentinela ao lado de minha cama. (A propósito que filha incrivelmente fabulosa que tenho. Ainda estou impactado com tanto carinho e cuidado que ela e minha esposa Solange dispensaram a mim)
Logo de manhã uma enfermeira, chega toda solícita e como se fosse a coisa mais natural deste mundo, diz: “Bom dia Sr Milton! Vim dar um banhozinho no senhor” Queria morrer de constrangimento. Mas sem a mínima condição de argumentar, fui atendendo o comando “Com licença, levanta o bracinho, Sr Milton” De “com licença em com licença”foi realizando seu trabalho profissional me deixando asseado, perfumado e, por fim, agradecido.
Assim dependente, manipulado, conduzido, ali não tem como alguém se achar o bambambã do pedaço…
Mais do que nunca prossigo defendendo a tese: Cemitério… Cadeia e Hospital, são lugares que fazem a gente virar gente. Sigamos humanos e humildes...