Conhecimento. O seu valor é imensurável. Por isso, é importante tê-lo, por exemplo, sobre o que o Município foi para entender o que ele é. E até prever alternativas do que será. Para tanto, uma visão oficial de Patrocínio na década de 50 é indispensável para descobrir onde moravam/moram a tranquilidade e a felicidade. No passado ou no presente? Ou nos dois lugares? A “Enciclopédia dos Municípios Brasileiros”, editada em maio de 1959, pelo IBGE, revela parte da história, economia, finanças e da vida de Patrocínio. Milho, o carro chefe agrícola. A energia elétrica gerada de Patrocínio para Patrocínio. E olhe lá! A riqueza mineral não explorada. Grande avião voando nos céus rangelianos! Temperatura regular e agradável. E mais coisas que colocam as atuais gerações estupefatas!
A LIDERANÇA DO MILHO – Em 1955, as culturas agrícolas no chão patrocinense eram de três produtos básicos: milho, arroz e feijão. Foram produzidos 92.300 sacos de 60kg de milho. E 33.638 sacos de feijão. Quase a mesma quantidade de arroz: 32.600 sacos de 60kg. O atual líder café teve apenas produzidos 8.600 arrobas (arroba equivale a 15 quilos), por meio de 30.400 pés. Em termos de espaço para o cultivo, o milho também liderou com 3.775 ha. Por outro lado, a tecnologia ajudou demais a produção leiteira. Passou de 14 milhões de litros em 1955 para 175 milhões em 2020.
MAIS ATIVIDADES ECONÔMICAS – Na pecuária, em 1955, havia 120.000 cabeças de bovinos, 45.000 porcos e 8.000 cavalos. Portanto, quantidade maior do que hoje: bovinos (109.000 cabeças), equinos (2.500 cabeças) e suínos (157.500 cabeças). Essa maior agora devido à Pif Paf. Já a indústria, somente empregava 433 cidadãos em 1955. Muito pouco, por sinal.
PATROCÍNIO PRODUZIA ENERGIA PARA VIZINHO – Não existia ainda a CEMIG na região. Nos anos 50, a luz era bastante fraca. À noite, o vagalume era concorrente em luminosidade. Havia quatro cachoeiras aproveitadas para pequenas usinas hidrelétricas, que geravam energia para Patrocínio, Parque Hotel de Serra Negra, São João da Serra Negra e Guimarânia. A pequena usina dessa era na cachoeira de Chapadão de Ferro. A de Patrocínio no Rio Dourados. Enfim, as ruas da cidade eram iluminadas... pelo luar. E os namorados sempre agradeciam. E os “ladrões de galinha” (de galinha mesmo, para festivas galinhadas) também agradeciam.
ENCICLOPÉDIA REGISTROU RIQUEZAS NATURAIS – Nessa década, importantes reservas de minério de ferro (será?), nióbio (será extensão de Araxá?), pirocloro, pirita, apatita, diamante (?) e ouro (?). As jazidas estariam na serra em Salitre de Minas até o Chapadão de Ferro. Isso além das águas minerais sulfurosas (tipo Araxá), radioativas e magnesianas (a melhor do Brasil). O potencial hidrográfico patrocinense era formado por volumosas e límpidas águas dos rios Quebra Anzol, Salitre, Dourados, Santo Antônio, São José dos Folhados e o Espírito Santo, juntamente com a vulcânica (enorme) lagoa do Chapadão de Ferro. Hoje, tudo isso é miragem, ou desbotados retratos na parede. Exceto, o fosfato.
PATROCÍNIO TINHA AVIÃO E TREM! – A lendária Rede Mineira da Viação (RMV) transportava passageiros para Belo Horizonte, Catiara, Ibiá, Monte Carmelo, Três Ranchos/GO e outras localidades. No final da Av. Faria Pereira, um pouco além da ferrovia, era o campo de aviação. Ou aeroporto. Ou até “aeropasto” para os folclóricos. Nele pousava o histórico DC-3, com capacidade para 30 passageiros, duas hélices e necessidade de 700 metros de pista. A empresa era a Nacional, depois Real. Ocorriam voos para Araguari, Uberaba, Patos de Minas e BH. De segunda-feira à sexta-feira. O escritório da empresa se localizava na Praça Santa Luzia (pista da Rua Presidente Vargas), onde as passagens eram adquiridas.
AUTOMÓVEIS, SETE ÔNIBUS... E POEIRA – Em 1955, a Prefeitura registrou 126 automóveis (todos importados), 57 “camionetas”, 122 caminhões e 07 ônibus. Isso para enfrentar estradas com buracos e lama. Linhas de ônibus havia apenas para Patos de Minas, Paracatu, Carmo do Paranaíba, Uberaba e Monte Carmelo. Em 2020, já são 35.000 automóveis, 6.400 caminhonetes, 649 ônibus e 2.120 caminhões emplacados em Patrocínio. Quem vive, viveu (isso)!
MAIS FRIO, MENOS CALOR – A temperatura média máxima de Patrocínio não ultrapassava 33º. E a mínima, 6º, que ocorria, realmente, em junho ou julho. Chuvas eram em torno de 1.200mm por ano. Hoje, 1.400mm de pluviosidade média anual. Sem dúvida, o tempo era mais “disciplinado”. Verão era verão, inverno era inverno...
POPULAÇÃO DIMINUIU E O PORQUÊ – Em 1950, a população de Patrocínio era de 34.061 pessoas. Maioria mulheres, quase 400 a mais do que homens. E população bem rural, trabalhadora, 75% (ou seja, 25.600 habitantes dos 34.000 no Município). Em 1955, cinco anos depois, Patrocínio contava com 26.613 pessoas. Pois, o distrito de Serra do Salitre emancipou-se levando consigo pouco mais de 7.000 habitantes (em 1953).
DISTÂNCIAS ENTRE BH E PATRÔ – Quando a viagem era pelo DC-3 da Nacional (ou Real), a distância aérea da capital era de 380km (linha reta é 338km). Pela antiga rodovia de chão, 486km. Pela “Maria Fumaça” (trem movido a vapor – combustível lenha), 596km. Portanto, 220km a mais do que a rota aérea da época. Hoje, pela rodovia pavimentada, são 416km, pelo Expresso União.
FONTES E AS MANCHETES DA PRÓXIMA EDIÇÃO – As informações básicas dos anos 50 foram coletadas pelo perene agente de Estatística, Afrânio Santos Pinto. A agência estatística do IBGE situava-se no 1° andar da Prefeitura Municipal, no maravilhoso casarão da Praça da Matriz (hoje, Casa da Cultura). Nas próximas edições, o bem mais badalado de Patrocínio (Serra Negra), as melhores escolas da região, as finanças públicas do Município (deficitárias), a imprensa e o telefone na cidade e, mais indicadores que só o IBGE tinha e tem. Tudo de 1950 a 1959.
([email protected]) *** Crônica também publicada na Gazeta de Patrocínio, edição de 05/03/2022.