# Milton Magalhães

Recado Aos Amigos que Vão se Candidatar

3 de Junho de 2016 às 20:28

Preliminarmente, antes de  decidir  a  se candidatar, conte mil vezes até mil. Pense e repense. E  ainda respire fundo. Consulte familiares, amigos próximos,  certifique o peso de sua decisão. Entrando na política, a partir da  campanha, você passará a ser aquele mosquitinho numa parede branca. Todos os seus movimentos serão públicos e julgados friamente, sobretudo,  por  quem nem lhe conhece.  Não “come pão com você” O jogo é duro, tenso, desleal, ingrato. Espero que você já saiba... “Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final!

 Dizia Raulzito, “Mamãe, não quero se prefeito ( ‘vereador’) pode ser que eu seja eleito e alguém pode querer me assassinar”  Pode ser exagero do “maluco beleza”, mas, considere, filiou-se  em um partido político, terá  gratuitamente,“amigos” e inimigos. Podem a qualquer momento assassinarem  a sua reputação por nada. Olha, deixe a visão romântica, meu querido (a). "A política é uma guerra sem derramamento de sangue; a guerra uma política com derramamento de sangue." (Mao Tse-Tung). Traduzindo no popularesco, em política “o bicho pega.”

Pois é, meu amigo. Não seja uma folha seca na correnteza.  Saiba que voce  vai colocar os pés numa das profissões mais distinta, nobre  e elevada  na sua essência e missão,  porém, sem dúvida,  atualmente, a mais corrompida, deturpada  e desgastada perante a opinião pública. A bem da verdade, no meio político, deveria ser ocupado por  cidadão de conduta irretocável, sobretudo,   líder  com retidão de caráter,  servidor público que honra e dignifica o cargo e, jamais  este ser maquiavélico, corrupto  e velhaco  que  se beneficia particularmente do cargo, que é público.  Por isto o  cansaço cívico é geral, lamentavelmente, em todas as esferas, ninguém confia em político. Brasília, então, ultimamente, uma fedentina geral.  Estou aqui com um recorte do Globo, no qual um leitor, comentando a atual situação, resumiu: “Mataram  pra sempre a nossa crença em político” A Situação da classe política, portanto, é calamitosa.

Você sabe que a gente está aqui neste cantinho do planeta para deixar as coisas melhores do que antes. Voce- você mesmo- vai contribuir para melhorar ou agravar este quadro sombrio?  O que a sua suposta candidatura e eleição, vai trazer de bom para a coletividade?  O termo técnico de disto é plataforma política. Ou como tantos  fantoches,  vão  se candidatar pelo salário, por vaidade,  pelo  status social, pelo sobrenome familiar, ou pela avidez do poder?  A propósito, soube que um conhecido meu, que, por sinal,  nunca gostou de política,  vai se candidatar a vereador na próxima  eleição, por que está desempregado. Tenha  esta resposta  na pontinha da língua. É vital saber: O que você vai fazer  de efetivo e concreto para deixar o cidadão patrocinense mais feliz.

Outra coisa. Voce jura de pés juntos que não mudará seu estilo quando for eleito. Olha, sei não.  Muita gente chega lá e  fica irreconhecível. Claro, gente sem personalidade, feito  uma brasa na geladeira,  um gelo no forno, uma folha seca na Rui Barbosa.  Garanto-lhe que gente que tem berço, tem princípio, tem formação moral, não muda  ao sabor das circunstâncias e conveniências. As virtudes mais importantes para ser um bom político? São as mesmas para ser um cidadão de bem: Honestidade, ética, competência, justiça, respeito, coragem, coerência, humildade, simplicidade,  compromisso, empatia, prudência, tolerância, temperança, simpatia, generosidade,  serenidade, firmeza, desprendimento , idealismo e personalidade. Tenha certeza absoluta, meu amigo, esse conjunto de virtude,  é  o maior patrimônio de um político.

È, meu amigo a realidade, porém é outra. O que prevalece, não é apenas o carisma, e a confiança  que o  sujeito inspira.   O  poderio econômico, fala alto numa campanha.  A Justiça Eleitoral, alerta, pune e sempre faz um bom trabalho, tolhendo os abusos. Mas,  camufladamente, quem tem bufunfa gorda , monta um aparato  apoteótico , e inunda o município inteiro com a   poluição sonora e visual. Cá pra nós.  Como pode um candidato a vereador em Patrocinio, gastar R$ 60, 80 mil reais,  numa  campanha política. Se eleito,  vai receber proventos de  R$ 7.600 reais ( !?)Qual o custo-benefício desta eleição? Não me explique por que,  não quero entender.

Outra cosita, meu amigo. Tenha conteúdo, saiba o que vai dizer, pelamordedeus,  não vá contribuir com o, já bem vasto, anedotário dos políticos. Mire-se nestes exemplos :  "Tenho certeza que iremos vencer, pois se juntar a minha fé e as feses de voces, vamos ganhar esta eleição". “Hei de resolver o problema de  água  do município de Patrocínio, nem que eu tenha que trazer  do  meu rego” . Em campanha para o governo do Estado, corria tudo bem para o Sr. Nilton Cardoso. Apenas um detalhe: A platéia para a qual discursava naquela tarde, não era de Patos de Minas, era de Patrocínio. A assessoria puxou-lhe o paletó,  mas, Niltão, bagre ensaboado que era, repetiu com muito mais vigor:"Povo de Patos de Minas!  (pausa que podia se ouvir o cair de uma agulha) ....Deve se orgulhar de ter Patrocínio como vizinho!". Ufa!  Esse ficou bem na fita, mas e você no lugar dele?

Se vai mesmo se candidatar, fique preparado para os espinhos da  lida. Certa feita,  me deu  um treco, saí do eixo, caí na besteira  e me candidatei a vereador, isto, há 28 anos. (1988) Naquilo que pedia voto todo entusiasmado a um amigo em um salão, depois que lhe pedi, me retirava e  ele mal  me deixou afastar, cinco metros, virou-se para o cabeleireiro e disse: “ Não voto num tipo deste aí  de jeito nenhum”. Ouvi tudo,  quase voltei, para perguntar ,por que, “não votaria num tipo deste” ,se era meu amigo e nunca lhe fiz mal.  Com um nó na garganta continuei  andando claudicante com aquele punhal cravado nas  costas. Que balde d’água fria! Convenci –me  ali mesmo que aquele era o mundo perverso que havia entrado. Quantidade de amigos, jamais  será  quantidade de votos. Tem 5.000, amigos no Face? Anote aí , 05 votos. “Amigos, amigos; política à parte”

Tenha presente que as urnas sempre cometem lá suas injustiças. Há pessoas que depois de longo e expressivo trabalho prestado a sociedade, dá um blecaute, resolvem a  se candidatar a algum cargo público. Ao final as urnas lhes  pagam com aquela homérica ingratidão. Penso em dois nomes, para ilustrar, relembro.  Um deles, o escritor Carmelitano/Uberabense, Mário Palmério. Imortal da ABL. Autor dos livros célebres, "Vilas dos Confins" e Chapadão do Bugre". Candidatou-se aos oitenta anos a Deputado Federal.Contava com o apoio da gente de Uberaba. Perdeu feio para um populista da época, o  "Fuscão Preto"Wagner do Nascimento. Outro, nosso conterrâneo, saudoso, Gerson de Oliveira. Jamais vi alguém discursar em um palanque com tanta propriedade e eloquência. Tinha o dom da palavra. Que vereador teria sido!Como sempre diz nosso amigo, Rondes Machado, pessoas deste naipe  deveriam ser aclamadas com louvor  para qualquer cargo que desejassem. Perderam eles? De jeito nenhum! Perdemos nós, não os elegendo.

Se contou  mil vezes até mil, e vai mesmo se candidatar ao cargo de vereador ou  prefeito,  longe, longe de querer lançar uma ducha fria nos seus planos, meu amigo. Apesar do cenário inóspito, diria até, apocalíptico, minha visão não é pessimista. Estou, sim, como todo brasileiro, desencantado e enojado com   a nossa realidade.  Contudo,  meu voto está ai para ser conquistado.  Não estou lhe prometendo meu voto. Entenda. Tem sempre outro  amigo especial , um parente, um vizinho , que se candidata.Alguns, Dios del cielo! Sem a mínima condição, nos mete numa  saia justa. “Contam com  você e sua familia” Dá vontade de dizer “Deu o nome na convenção de seu partido, agora, se vira nos trinta”... Mas, é amigo, não pode passar vergonha nas urnas.

Voce nem imagina como precisamos de novos e bons políticos, líderes do bem. Se, você meu amigo (amiga) tem o seu chamado para ser um agente público, vá nesta força. Faça isto com  alegria, leveza, dinamismo  e cabeça erguida.  Desafio-lhe a escrever numa  camiseta: “Tenho orgulho de ser político” (claro - do bem) e saia por ai olhando nos olhos das pessoas. Pedindo voto com dignidade. Se disserem, com ironia: “ Não voto num tipo deste de jeito nenhum”.  Não faça como  eu há 28 anos. Volte-se  e mostre as suas  mãos limpas.Pede prova . Solicite explicação.  Exija respeito. Não vá mendigar votos. Conquiste as pessoas com ousadia, confiança  e doçura.

Desculpe-me se ensino o “padre nosso ao vigário”. Sei lá, quem sabe há um jardineiro adormecido dentro de você, sobre isto escreveu, Rubem Alves:

“Política’ vem de polis, cidade. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político seria aquele que cuidaria desse espaço. A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade.

Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades: sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oases. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu ‘o que é política?’, ele nos responderia, ‘a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas’.

O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.

Amo a minha vocação, que é escrever. Literatura é uma vocação bela e fraca. O escritor tem amor mas não tem poder. Mas o político tem. Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastar-lhes-ia o grande jardim para todos. Seria indigno que o jardineiro tivesse um espaço privilegiado, melhor e diferente do espaço ocupado por todos. Conheci e conheço muitos políticos por vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança.” Boa sorte!

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“MILTON,

você está sempre inspirado quando escreve sua coluna. Mas na última voce está ótimo. Todos os textos muito bons, o espaço do Humberto sobre o roubo do voto ,a matéria sobre o MS Terra e sobre a tocha estão especiais. Parabéns. Fausto Amaral”