# Milton Magalhães

Recado aos meus amigos que pretendem se candidatar

10 de Julho de 2020 às 18:21

Poisé,  meu Prezado Amigo,  o  Congresso acabou aprovando a mudança das Eleições 2020  para os dias 15 e 29 de novembro (respectivamente, primeiro e segundo turno), em vez de 4 e 25 de outubro. Eleição e  pandemia! Combinação Inédita, porreta,  histórica. Nitroglicerina pura.

   

Penso meu amigo, que os excelentíssimos senhores poderiam, ao invés de   adiar, deveriam cancelar as  Eleições desse ano, já que estamos longe de acabar com a pandema. “Ainn, tem de mexer na Constituição”. “Abre precedentes perigoso na Democracia” E dai? Bota lá na Carta Magna: “2020 foi um ano de caráter excepcional  em tudo. Teve de sê-lo também na política”  Queria muito ver  os mais de R$ 2 bilhões destinados ao Fundão Especial de Financiamento de Campanha, indo nesse momento para a assistência social e saúde. Sobretudo,  para remuneração de  médicos e enfermeiros,  heróis e guerreiros na frente dessa batalha mortal. 

 

Mas, essa gente do poder, está no mais alto pedestal. É intocável.  Pensam só na "boquinha".  O poder é tido como emprego. Para muitos é profissão. Que fique claro: Eleições Democráticas é o evento mais importante na Democracia. Por isto,  procurar candidatos e correr do corona, é votar com "um  olho no peixe outro no gato" A cabeça do povo está em outra coisa:  Na sobrevivência!

 

É, amigo! E estamos aqui falando de Eleição Municipal. Digamos que ela é a mais importante. E por ser próxima do eleitor é, também   a que mais  fervilha. A que bota bota fogo na fundanga. Nela o eleitorado, pira. É o pleito  que realmente mexe com as emoções, com os nervos, com a paciência e com a razão das pessoas. O arraial fica em pé de guerra.

 

 Quer mais um agravante, amigo? Se nos antanhos tempos dos coronéis, do voto em cédula, do voto de cabresto, do curral eleitoral, a coisa era braba, imagina agora com advento  da internet e com o estresse do isolamento social?  Multiplica  o  velho clima pesado,  por milhões.  

 

Mas, “manda quem pode, obedece quem em juízo”. E  você, nesse cenário todo,  pretende se candidatar a vereador. (Ou a prefeito) 

 

Preliminarmente, antes de  decidir  a  se candidatar, conte mil vezes até mil. Pense e repense. E  ainda respire fundo. Consulte familiares, amigos próximos, gato, cachorro, pagagaio,   certifique o peso de sua decisão. Entrando na política, a partir da  campanha, você passará a ser aquele mosquitinho numa parede branca. Todos os seus movimentos serão públicos e julgados friamente. Sobretudo,  por  quem nem lhe conhece.  Gente que não “come pão com você, vai até dizer  que voce não vale o que o gato enterra.  O jogo é duro, tenso, desleal, ingrato e injusto. O maioria ainda  é despolitizada, não sabem onde desgarregar a ira. Sofrem de cansaço cívico. (Culpa dos maus políticos.  Por conta deles a política no imaginário popular está ligada a termos como corrupção, montanha de dinheiro e vida regalada)

 

Espero que você já saiba o preço que se paga. Dizia Raulzito, “Mamãe, não quero se prefeito ( ‘vereador’) pode ser que eu seja eleito e alguém pode querer me assassinar”  Pode ser exagero do “maluco beleza”, mas, considere, filiou-se  a um partido político, terá  gratuitamente,“amigos” e "inimigos". É  Céu e inferno. Em um momento você fica bem na fita, no outro, execução sumária. Assassinam  a sua reputação, para sempre e  por nada.

 

Não se  é o seu caso. Mas deve-se deixar a  visão romântica de lado na política: "A política é uma guerra sem derramamento de sangue; a guerra uma política com derramamento de sangue." (Mao Tse-Tung). Traduzindo no popularesco, em política: “O bicho pega, pacato cidadão!.”

 

Já assistiu a uma reunião Casa de Leis Rangeliana? Hoje é transmitida onli-nemente. Tem Sessão,  que a OMS deveria  desaconselhá-la  para cardíacos. Não generalizando, mas tem vereador que incorpora um “espírito de ferrenho defensor do povo” e joga para a plateia. Péssimo orador, mas com palavras de fogo, a linha, dane-se o  decoro. Ataca a reputação de seus colegas. Fala o que não deve, escuta o que não quer ouvir. Não discutem projetos, atacam pessoas. O que eu, particularmente, faço?Antes de assistir catiripapos e supetões,  desligo o aparelho receptor.  Aqui vai uma carapuça. Se você, sendo eleito, com a desculpa de ser “ intransigente defensor do povo”, e começar com  piripaques, shows  macabros na tribuna...não conte comigo.

De onde nasceu essa ideia de se candidatar?

 Recebeu um convite de algum partido? Tem certeza de que eles não querem  é só usar e abusar da  sua influência, seu círculo de amizade, seu bom nome na comuna?Ou, vai se candidatar por que a política está no seu sangue? Teve gente de sua família nesse meio? Não é pelo salário, é?  Não por  status, é? Não é por que fala bem em público, é?... Ou é  por vocação, tipo “nasci para isto: Ser um servo do povo”

Falando na expressão “servo do povo”, a gente é brazuca do pé rachado. Aqui o poder é oneroso, pesado. Vide corte de Brasília,  fora  o  gordo salário  de R$ 33.000,00, penduricalhos. Como auxílio moradia, auxílio palitó, verbas de gabinete e muito mais. Chegam a ganhar 34 vezes mais do que um trabalhador que recebe o salário mínimo.  É legal? É. Mas, é imoral. É nabalesco!

  Sou apaixonado pela expressão “Líder Servidor”. Políticos não devem ser  tratados, como “autoridades”, mas,  como trabalhadores do povo. 

Quer um exemplo? Suécia. Lá  os políticos ganham pouco, andam de ônibus, cozinham sua própria comida, lavam e passam suas roupas e são tratados, com muito respeito,  por “você”.

 

Mas então, você vai mesmo se candidatar?

 

Isto posto. Barriga para dentro, peito para fora, olhar no horizonte. Segure o rojão e manda brasa! Solte sua campanha na rua- digo na redes sociais. Considere que não é todo mundo que tem acesso a este novo palanque eleitoral- digo, digital. E muitos que tem acesso, acham que é terra sem lei. Cuidado. Vai com tudo não. É  tudo por m triz. Pensa que vai lacrar, bombar e se dá muito mal. “Deus perdoa, a internet, não”.

Não sou consultor de candidatura, muito menos marqueteiro, ou coisa do gênero. Mas tenho alguns janeiros e anos de janela nesse  métier. Posso falar e você não precisa me ouvir.

 Tenha uma  bussola moral, inabalável.  Tenha princípios éticos e moral, firme. Tenha valores de berço. Tenha plena consciência de sua missão de servir!   

A bem da verdade, no meio político, deveria ser ocupado por  cidadão de conduta irretocável, sobretudo,   líder  com retidão de caráter,  servidor público que honra e dignifica o cargo e, jamais  este ser maquiavélico, corrupto  e velhaco  que  se beneficia particularmente do cargo, que é público.

Por isto o  cansaço cívico é geral, lamentavelmente, em todas as esferas, ninguém confia em político. Li  um recorte do Globo, no qual um leitor, ( ou eleitor) comentando a  situação, resumiu: “Mataram  pra sempre a nossa crença em político” A condição da classe política, portanto, é calamitosa.

Você sabe, meu amigo que a gente está aqui neste cantinho do planeta para deixar as coisas melhores do que antes. Vai contribuir para melhorar ou agravar o quadro sombrio?  O que a sua suposta candidatura e eleição, vai trazer de bom para a coletividade?  O termo técnico de disto é plataforma política. Ou como, já mencionei, e você sabe, tantos  fantoches,  vão  se candidatar pelo salário, por vaidade,  pelo  status social, pelo sobrenome familiar, ou pela fome do poder.

 

  Um conhecido meu, que, por sinal,  nunca gostou de política,  se candidatar a vereador na eleição passada, por que estava desempregado. Não seria eleito, mas  estando no meio político, tinha chance de se arrumar.  Tenha  esta resposta  na pontinha da língua. É vital saber: Voce é mais do mesmo? Ou tem algum diferencial. O que separa você da manada?

 

 O que você vai fazer  de efetivo e concreto para deixar o cidadão patrocinense mais feliz.

 

Outra coisa. Voce jura de pés juntos que não mudará seu estilo de vida quando for eleito. Olha, sei não.  Muita gente chega lá e  fica irreconhecível. A “mosca azul” de Machado de Assis e Frei Beto, continua fazendo estrago.  

Claro, gente sem personalidade. Feito  uma brasa na geladeira,  ou um gelo no forno, uma folha seca na Rui Barbosa.  Garanto-lhe que gente que tem berço, tem princípio, tem formação moral, não muda com o poder, dinheiro nem fama.

 

Tenha presente.  Voce  vai colocar os pés numa das profissões mais distinta, nobre e  elevada  na sua essência e missão,  porém, sem dúvida,  a mais corrompida, deturpada  e desgastada perante a opinião pública.

 

As virtudes mais importantes para ser um bom político? São as mesmas para ser um cidadão de bem: Honestidade, ética, competência, justiça, respeito, coragem, coerência, humildade, simplicidade,  compromisso, empatia, prudência, tolerância, temperança, simpatia, generosidade,  serenidade, firmeza, desprendimento , idealismo e personalidade. Tenha certeza absoluta, meu amigo, esse conjunto de virtude,  é  o maior patrimônio de um político.

 

É, meu amigo, o que vai fazer para mudar esse quadro?

O que prevalece, não é apenas, a bagagem, o preparo,  o carisma, e a confiança  que o  sujeito inspira.   O  poderio econômico, fala alto numa campanha.

 

  A Justiça Eleitoral, alerta, pune e sempre faz um bom trabalho, tolhendo os abusos. Mas,  camufladamente, quem tem bufunfa gorda, monta um aparato  apoteótico,  e inunda o município inteiro com a   poluição sonora e visual. Claro, com a restrição da pandemia esta será uma campanha muito diferente. Ou não?

 

É aquela dúvida cruel:  Como pode um candidato a vereador em Patrocínio, gastar R$ 60, 80 mil reais,  numa  campanha política. Se eleito,  vai receber proventos de  R$ 7.853,59 reais ( !?)Qual o custo-benefício desta eleição? Não me explique por que,  não quero entender.

 

Outra cosita, meu amigo. Tenha conteúdo, saiba o que vai dizer, pelamordedeus,  não vá contribuir com o, já bem vasto, anedotário dos políticos. Não ria, mire-se nestes exemplos, que até já contei por ai: "Tenho certeza que iremos vencer, pois se juntar a minha fé e as fezes de voces, vamos ganhar esta eleição". “Hei de resolver o problema de  água  do município de Patrocínio, nem que eu tenha que trazer  do  meu rego”

 

Em campanha para o governo do Estado, corria tudo bem para o Sr. Newlton Cardoso. Apenas um detalhe: A platéia para a qual discursava naquela tarde, não era de Patos de Minas, era de Patrocínio. A assessoria puxou-lhe o paletó,  mas, Niltão, bagre ensaboado que era, repetiu com muito mais vigor:"Povo de Patos de Minas!  (pausa que podia se ouvir o cair de uma agulha) ....Deve se orgulhar de ter Patrocínio como vizinho!". Ufa!  Esse ficou bem na fita, mas e você no lugar dele?

 

Posso lhe contar uma experiência pessoal? Certa feita,  me deu  um treco esquisito, saí do eixo, caí na besteira  e me candidatei a vereador. Isto, há 32 anos. (1988). Trabalhava em uma gráfica, que naquele período tinha de dobrar expediente  para  atender as coligações políticas na região com os “santinhos”. Não tive licença  no trabalho para fazer campanha. Tinha que aproveitar a hora do almoço para pedir votos. Foi o que aconteceu. Enquanto fui pagar um carnê em uma loja, vi um amigo conversando com um vendedor. Pensei, “por que não?” Abordei-o, com extrema educação, ele me ouviu todo receptivo. Tinha pouco tempo, mas me pareceu que a conversa foi boa.  Deixei com ele o meu “santinho”.  Quando me retirava veio a surpresa. Ele nem me esperou ficar mais longe,  cerca de uns cinco metros, virou para o vendedor e disse algo que arrazou a carreira política de um jovem:  “ Não voto num camarada desse aí  de jeito nenhum”. Ouvi tudo. O chão me fugiu dos pés.  Quase voltei, para perguntar, por que, “não votaria num camarada desse”, se era meu amigo e nunca lhe fiz mal. E por que na minha frente me tratou  bem e na minhas costas acabou comigo. Com um nó na garganta continuei  andando,  claudicante e com aquele punhal cravado nas  costas. Que balde d’água fria! Convenci- me  ali mesmo que aquele era o mundo perverso que havia entrado. Parece que muita gente tem até inveja de quem se candidata. Mas teve, gente que me emocionou. “Voce não me pediu, mas soube de sua candidatira,  votamos e trabalhamos para você lá em casa”.

 

Outra coisa. Quantidade de amigos, jamais  será  quantidade de votos. Voce tem 5.000, amigos no Face? 5.000 no Insta, 5.000 no Twitter?  Anote aí, 10 votos. Trabalhe duro. Nivele por baixo. Quanta gente, que comemora, antes, vibra, abre a urna,  que decepção”

 

Tenha presente que as urnas sempre cometeram lá suas injustiças. Há pessoas que depois de longo e expressivo trabalho prestado a sociedade, dá um blecaute, resolvem   se candidatar a algum cargo público. Ao final,  as urnas lhes  pagam com aquela homérica ingratidão. Penso em tres nomes para ilustrar.  Um deles, o escritor Carmelitano/Uberabense, Mário Palmério. Imortal da ABL. Cadeira que foi de Guimarães Rosa.  Autor dos livros célebres, "Vilas dos Confins" e "Chapadão do Bugre", fundou a Universidade de Uberaba. Recandidatou-se aos oitenta anos a Deputado Federal. Pensava que contava com o apoio da gente de Uberaba.  O homem que era um mito/ícone da terra do Zebu. Mas,  perdeu feio para o  "Fuscão Preto", Wagner do Nascimento. O outro, nosso conterrâneo, saudoso, Gerson de Oliveira. Jamais vi alguém discursar em um palanque com tanta propriedade e eloquência. Tinha o dom da palavra. Que vereador teria sido! O outro é Joaquim Machado Filho. Decano do nosso jornalismo rangeliano; exemplo de cidadania e agente do bem em nossa comunidade. Caboclo reconhecido por “pegar as coisas e fazer bem feito”. Católico praticante, humanitário, confrade vicentino, cursilista,  Ministro da Eucaristia por mais de 20 anos. Iria trazer, com certeza, “um novo jeito de fazer política”.

Como sempre diz nosso amigo, Rondes Machado, pessoas deste naipe  deveriam ser aclamadas com louvor  para qualquer cargo que desejassem. Perderam eles? De jeito nenhum! Perdemos nós, não os elegendo.

 

Se contou  mil vezes até mil, e vai mesmo se candidatar ao cargo de vereador (ou  prefeito)  longe, longe de querer lançar uma ducha fria nos seus planos, meu amigo. Apesar do cenário inóspito, diria até, apocalíptico, minha visão não é pessimista, meu voto está ai para ser conquistado.  Não estou lhe prometendo o  meu voto. Entenda bem. Já falei que essa eleição é a mais próxima, mas diria que é também a mais constrangedora.

 

Tem sempre outro  amigo especial , um parente, um vizinho , que se candidata. Alguns, Dios del cielo! Sem a mínima condição para a coisa, nos mete numa tremenda  saia justa. “Contam com  você e sua familia” Dá vontade de dizer Deu o nome na convenção de seu partido, agora, se vira nos trinta”... Mas, é amigo, não pode passar vergonha nas urnas.

 

Como vai ser sua atuação. Sua plataforma. Sua diretriz parlamentar:  "Vou repesentar o agro, ou, o  comércio, ou a  indústria, ou, os católicos, ou, os evangélicos, ou, os espirítas, ou, os ateus, ou, os gays, ou, os negros, ou, os índios" Está errado. Soa clientelismo.  Voce pode até ser eleito, por qualquer seguimento, mas, o trabalho é vasto, amplo, universal.  Voce será vereador do municipio de Patrocínio. "Vou ajudar muita gente, a se aposentar, arrumar casa, arrumar emprego, remédio, passagem, cadeira de rodas." Assim, como vereador voce vai fazer é o trabalho de assistente social, contador, corretor, advogado etc.   

 

O papel do vereador é importantíssimo na socicedade. Na realidade, além de fazer leis, o principal papel do vereador é ser o fiscal do dinheiro público, é ver se os recursos estão sendo bem aplicados O vereador é o vizinho, melhor amigo do cidadão. É  o elo entre o governo e o povo,  tem o poder de ouvir o que os eleitores querem, propor e aprovar esses pedidos na Câmara.  

Aliá, vereador vem do latim "veredus", que significa “cavalo de viagem”. Este animal, o “veredus”, usado para o serviço de entrega de correio, acabou dando o seu nome ao caminho que percorria, a vereda. Havia uma função pública que implicava em cuidar das veredas de uma cidade, daí o nome “vereador”. Modernamente, esse sentido modificou-se, passando a significar "membro da Câmara Municipal, o que legisla para o Município".

 Outro nome para vereador, já em desuso, é edil, que na antiga Roma era o funcionário ou magistrado cuja função era observar e garantir o bom estado de edifícios, obras e serviços públicos.

Voce nem imagina como precisamos de novos e bons políticos, líderes do bem. Se, você meu amigo (amiga) tem o seu chamado para ser um agente público, vá nesta força. Sirva com  alegria, leveza, dinamismo  e cabeça erguida.  Desafio-lhe a escrever numa  camiseta“Tenho orgulho de ser político” (claro - do bem) e saia por ai olhando nos olhos das pessoas. Pedindo voto com dignidade. Se disserem, com ironia: “ Não voto num camarada  deste de jeito nenhum”.  Não faça como  eu há 32 anos. Volte-se  e mostre para ele as suas  mãos limpas. Peça prova. Solicite explicação.  Exija respeito. Não vá mendigar votos. Conquiste as pessoas com ousadia, confiança,  doçura e  entusiasmo.

 

Desculpe-me se estive aqui  ensinando  o “padre nosso ao vigário”. Sei lá, quem sabe, masdo que um politica, há um jardineiro adormecido dentro de você, sobre isto escreveu, Rubem Alves:

“Política’ vem de polis, cidade. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político seria aquele que cuidaria desse espaço. A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade.

Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades: sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oases. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu ‘o que é política?’, ele nos responderia, ‘a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas’.

O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.

Amo a minha vocação, que é escrever. Literatura é uma vocação bela e fraca. O escritor tem amor mas não tem poder. Mas o político tem. Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastar-lhes-ia o grande jardim para todos. Seria indigno que o jardineiro tivesse um espaço privilegiado, melhor e diferente do espaço ocupado por todos. Conheci e conheço muitos políticos por vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança.”

 VAI MESMO SE CANDIDATAR? TEM TODO O MEU RESPEITO... E QUEM SABE O MEU VOTO!