# Eustáquio Amaral

RELICÁRIO: PASSA NA PONTE QUEM PAGA E A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

28 de Fevereiro de 2021 às 17:05

História. A de Patrocínio causa emoções. Um capítulo praticamente desconhecido é documentado pelo bom jornal “Cidade do Patrocínio”, edição de 13 de maio de 1911, em seu número 75(segundo ano de sua existência). Portanto, esse periódico é o segundo editado no Município, sucedendo “O Patrocínio”, que deixara de circular. A sua primeira edição(fundação) ocorreu em 1909. Circulava aos sabbados (assim era a grafia da época). Os remédios fabricados na cidade, inusitado pedágio da ponte, o comércio e os editores. Enfim, como era Patrocínio em 1911. E outra edição do mesmo jornal, edição de 9 de junho de 1929, mostra um pouco Patrocínio 18 anos depois.

NÃO HAVIA CARRO NEM TREM – Na primeira página está estampado o nome do diretor/proprietário, que é Honorato Martins Borges. Grande líder político patrocinense e fazendeiro. O redator chefe, Padre Nicolau Catalan, também político e líder comunitário. Uma das primeiras notícias diz que, “há poucos dias, iniciou o serviço de terra no leito da Estrada de Ferro de Goiyaz”, onde trabalham mais de 1.000 operários (a ferrovia só foi inaugurada sete anos depois, 1918).

ÁGUAS MINERAIS EM 1911 – A chegada da ferrovia gerará muitos lucros. “Cidade de Patrocínio” destaca as duas fontes de riqueza: águas sulfurosas na Fazenda da Serra Negra e outra na Fazenda do Salitre, a um quilômetro de onde é o traçado da estrada de ferro. Essas águas foram aprovadas com eficaz “virtude para os incommodos do estomago e outros”, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e entidades da Alemanha. Assim, com a ferrovia, aumentará o fluxo de pessoas a Patrocínio.

LOJAS DA ÉPOCA – Cobertores e calçados (e “phosphoros”) era na Casa do Merico. Foguetes e chita (tecido) a 400 réis o metro na Casa Pieruccetti. A Vespertina, de Arthur Botelho, no Largo do Rosário (Praça Honorato Borges, hoje) era a moda de confecções, “chapeos” e tecidos.

O ENGRAÇADO CASO DA PONTE – O maior movimento/intercâmbio de Patrocínio em 1911 era com Araxá e Uberaba, e de lá para São Paulo. Havia uma ponte sobre o Rio Quebra-Anzol, entre Patrocínio e Araxá (provavelmente, a única). Pertencia a Balduino A. da Silva. Portanto, a ponte não era pública. Então, para utilizá-la tinha que pagar. A tabela de preços publicada no jornal Cidade do Patrocínio dizia que “pessoa a pé” pagava 500 réis. Carro de boi, carregado ou não, 5 contos de réis. Animais arreados ou soltos dependia da quantidade. De 1 a 10 animais, 500 réis, cada um. De 20 a 50, 300 réis cada. Acima de 200 animais, 200 réis cada animal. E assim por diante. Balduino era de Patrocínio.

MEDICAMENTOS – “Pharmacia Britto”, de Octavio Britto, era o grande anúncio do jornal em 1911. O farmacêutico Otávio era sergipano, formado na Bahia. Ele fabricava os remédios (os preparados) em seu laboratório. Entre os quais, Pílulas Antinevrálgicas (nevralgias) vendida a 3$000 (três contos). Brittolina era o preparado para as dores de dentes e prevenia contra cáries. “Óptimo dentifrício”, como o anúncio registrava.  É bom verificar que Brittolina vinha de Britto. Serulina era um remédio (preparado) para bronquites, tosses e enfraquecimento pulmonar. Custava 2$500 (dois contos e 500 réis). Vinho das Três Quinas Arsenical era um preparado conta febres e opilação, principalmente, para os casos de maleitas (malária). “Elxir Carminativo”, “Unguento Santa Maria” (úlceras), e tantos outros remédios eram preparados pelo Otávio de Brito, que faleceu, em Patrocínio (1947).

1929: CANDIDATO A DEPUTADO – O jornal Cidade de Patrocínio, em seu ano XX, já era órgão oficial da Câmara Municipal. E o redator chefe, Carlos Pieruccetti, pai da inesquecível professora Lirinha. Na edição de 09/6/1929, a notícia mais importante era a definição do PRM (Partido político) pela candidatura de Carlos Pieruccetti à Assembleia Legislativa, como representante do Triângulo Mineiro, conforme divulgou jornal de Araxá.

MAIS NOTÍCIAS DE 1929 – O Ypiranga E. C. solicitou revanche ao Araxá. Nessa edição do Cidade de Patrocínio, houve convocação de 22 atletas para treinar (times titulares e reserva). Em 31 de maio, o Secretário de Segurança Pública do Estado nomeou como delegado de Polícia em Patrocínio o Coronel Elmiro Alves do Nascimento (à época, o delegado sempre era da própria cidade e “coronel” era título honorífico dado pelo governo aos líderes municipais). O cinema Odeon no Largo do Rosário (hoje, Praça Honorato Borges) exibia “Terra do Paraíso”, produção da Metro (cinema era só imagem – não havia som, era mudo). João Alves do Nascimento era ao mesmo tempo presidente da Câmara Municipal e Agente Executivo (a partir de 1930, denominado prefeito).

ANÚNCIOS INTERESSANTES – Ford é o “carro supremo”. Era vendido na cidade por Boris Slywith (não havia agência de carros). Banco Comércio e Indústria da MG, a Rua 15 de Novembro, nº 27 (depois mudou para Praça Honorato Borges). Uma das páginas só tinha anúncios medicamentos, geralmente de origem do Rio de Janeiro (continha 4 página).

POR FIM – Hoje, foram focalizadas duas edições do “Cidade de Patrocínio” (1911 e 1929). Brevemente, mais pérolas históricas desse bem feito jornal patrocinense, que circulou durante vinte anos. Há um século...

Primeira Coluna  também publicada na Gazeta de Patrocínio, edição de 13/02/2021. 

([email protected])