# Eustáquio Amaral

Reminiscências de uma Geração

22 de Agosto de 2019 às 21:39

Turismo. Sempre é agradável fazê-lo. Um “tour” que é propiciado apenas pela máquina do pensamento ainda é mais emocionante. Os anos dourados são novamente o destino, em poucas palavras.

O MELHOR VEÍCULO – A música é o melhor meio de transporte para viajar pelo tempo. Voltar ao passado. Voltar aos anos de 1958 a 1964. Voltar no tempo das camisas “Volta ao Mundo”, das camisas ban-lon, das bicicletas Gulliver, das calças Far-West, do carro Simca, das sopas de galinhas “roubadas”, da brilhantina Glostora, do sapato Vulcabrás, da bebida Cuba Libre, dos amores platônicos, do pente Flamengo, do sabonete Lever, das horas dançantes, das “brincadeiras”, do vaivém, do flerte, da sessão das moças às terças-feiras no Cine Patrocínio, dos grandes filmes condenados pela Igreja, dos deuses do futebol (Pelé, Garrincha, Didi, Djalma Santos, Nilton Santos, Gilmar e Cia.), de JK, de Alkmim (principalmente em Patrocínio), do PSD e da UDN, do programa “Hoje é dia de Rock”, às 18 horas, na Rádio Mayrink Veiga, do programa “Uma Voz na Tarde”, 17h30min, na Rádio Difusora, dos narradores Édson Leite (“O tempo passa... placar no Pacaembu...”) e Pedro Luís transmitindo futebol na Rádio Bandeirantes, das novelas na Rádio Nacional, do Repórter Esso, dos programas radiofônicos de auditório, de “paquerar” as meninas da Escola Normal, das expressões “É uma brasa, mora!”, “Juventude Transviada”, “Bárbaro”, “Eles já estão namorando de mãos dadas”, do alimento saudável, farto e barato, enfim, o tempo dos anos de ouro. Bons tempos que não voltam mais. Mas, que é possível ir até a eles, principalmente pela música.

VIAGEM – Dia 24 de novembro de 1986, tivemos a satisfação de partir para fazer esta encantadora viagem. Fomos assistir o show de Trini Lopez, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. O americano Trini Lopez, filho de pai espanhol e mãe mexicana, denominado chicano, nesse ano ele estava com 49 anos de idade. Foi um dos maiores fenômenos musicais da década de 60. Liderou por diversas vezes as paradas de sucesso à frente dos Beatles, Elvis Presley, Paul Anka, Billy Vaughn, Ray Conniff, Neil Sedaka, Nico Fidenco, Chubby Cheker, Connie Francis, Sérgio Endrigo, Brenda Lee, Cely Campello, Carlos Gonzaga, The Platters, Little Richard (aquele que canta a legendária Tutti Frutti), Ray Charles e tantos outros astros que marcaram e fizeram uma geração feliz.

COMO FOI – O passeio começou, na realidade, quando Trini Lopez, acompanhado por sua excelente banda de 15 músicos, cantou ao seu ritmo peculiar, as melodias imortais “Perfídia”, “Besame Mucho”, “La Malagueña”, “Cuando Calienta El Sol”, “Cu-Cu-rru-Cu Paloma”, “Michael” (talvez a mais linda), “Piel Canela”, “Cielito Lindo” (cantada hoje, ainda, até pelas crianças: “... está chegando a hora... o dia já vem raiando, meu bem, e eu tenho que ir embora...”). A viagem chegou ao seu ápice, com a plateia em pleno delírio, composta de gente de idade entre 25 e 70 anos, com Trini Lopez apresentando seus sucessos inesquecíveis: “América”, “If I had a Hammer” (Se eu tivesse um martelo), esta música “estourou” também com Rita Pavona com o nome de “Datemi um Martello”, “Corazon de Melon” e “La Bamba”, seu maior sucesso. No final do show, parte da plateia subiu no palco para dançar junto a esse astro da época. Trini Lopez, hoje com 82 anos, vivi nos Estados Unidos. Durante 90 minutos percorremos aquele mundo dos anos 60. Assim, o que é bom, marca e fica. Por isto, voltaremos à essa gostosa e inesquecível era, mais vezes.

Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 17/8/2019.

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