# Eustáquio Amaral

S a ú d e E P a z

29 de Agosto de 2017 às 00:24

Santo. Ainda não. Quase. Assim se sintetiza Padre Eustáquio. Nessa semana, mais precisamente 30 de agosto, é celebrado 74 anos de seu falecimento. Em BH, onde viveu seus dois últimos anos, há comemorações. Principalmente, na Paróquia dos Sagrados Corações. Ou seja, na bela igreja, rua e bairro que levam o seu nome. Patrocínio tem muito a ver com esse sagrado homem. Ele residiu no então Ginásio Dom Lustosa (também moradia dos padres holandeses por quase quarenta anos), do qual colaborou em sua fundação no período 1925/1926. Além de ter sido uma constante visita à cidade, no período que morou em Água Suja, hoje Romaria. Um pouco mais desse sacerdote de batina branca faz bem.

QUEM É – Padre Eustáquio nasceu em Aarle-Rixtel, Holanda, em 03 de novembro de 1890, onde aconteceu sua ordenação sacerdotal em 10 de agosto de 1919. Em 12 de junho de 1925, chegou ao Rio de Janeiro, pelo navio Orânia. Estava acompanhado pelos padres Norberto, Gil e Matias (este foi o primeiro diretor do Ginásio Dom Lustosa). No dia 15 de junho de 1925 foi recebido no Santuário de N. S. da Abadia (Romaria) como o novo vigário (paróquia de Nova Ponte e suas capelas).

DE SÃO PAULO PARA PATROCÍNIO – Em 15 de fevereiro de 1936, tomou posse como pároco de Poá (SP), para onde foi transferido. Atraindo multidões, tornou-se nacionalmente conhecido. Lá permaneceu até 13 de maio de 1941. Depois de rápidos recolhimentos em São Paulo, Campos do Jordão, Rio Claro, Araguari e Rio de Janeiro mudou-se para o Ginásio Dom Lustosa. Durante sua permanência à disposição dos superiores, foi o capelão da Igreja de Santa Luzia. Segundo depoimentos de patrocinenses com mais de 80 anos de idade, praticou caridade e alívio aos fiéis que o procuraram.

ESTADIA – Residiu no Município de 11 de outubro de 1941 a 12 de fevereiro de 1942. Nessa data, embarcou num trem da Rede Mineira de Viação (RMV) para Ibiá (na mesma estação ferroviária que hoje está abandonada e destruída). Na vizinha urbe, por pouco tempo, prestou serviços paroquiais. Pois em 7 de abril de 1942 (dia que Patrocínio completou cem anos de emancipação municipal), Padre Eustáquio desembarcou na capital mineira, assumindo de imediato, a Paróquia de São Domingos (sua atual igreja).

MARCO – Até a sua morte, no ano seguinte, contagiou multidões com bondade e esperança. No dia 31 de agosto de 1943, BH assistiu ao seu mais solene féretro, quando os restos mortais de Padre Eustáquio foram levados ao Cemitério do Bonfim. Em 1949, ocorreu o traslado para a hoje conhecida Igreja de Pe. Eustáquio.

LIGAÇÕES PATROCINENSES – Em setembro de 1925, D. Almeida Lustosa, bispo de Uberaba, em visita pastoral, à cidade, manifestou desejo de instalar educandários católicos para ambos os sexos. E para competir com as iniciativas da Igreja Presbiteriana, ligada a EUA, decidiu delegar à Congregação dos Sagrados Corações a direção das escolas. Em 11 de setembro de 1926, Padre Eustáquio van Lieshout assinava o contrato de doação de um prédio para o colégio, na presença dos padres Gil e Matias. O imóvel pertencia ao político Marciano Pires. Situado na Rua Afonso Pena, o prédio foi entregue em dezembro daquele ano. Um mês depois, estavam abertas as matrículas. A inauguração do ginásio, que Pe. Eustáquio participou da sua concepção, aconteceu em 15 de fevereiro de 1927, com 57 alunos regionais. Depois veio a Escola Normal.

SANTIDADE – O processo de beatificação de Pe. Eustáquio foi iniciado em 1956. E concluído em BH em 15 de junho de 2006. Para tanto, todas as informações da vida virtuosa resultaram em 1.600 páginas. A cura de um câncer foi reconhecida por uma equipe médica, em 2 de março de 2004. O milagre aconteceu há cinquenta anos. Até 2007, o homem recuperado estava vivo, na capital (hoje, não há notícia sobre ele). Para a provável canonização, outro milagre após a beatificação deverá ocorrer (e ser cientificamente comprovado).

O QUE É BEATIFICAÇÃO – A beatificação é um ato oficial da Igreja, no qual o Papa inscreve o nome de um cristão falecido, por sua vida e obras, no catálogo eclesiástico dos bem-aventurados. Nos locais de seu nascimento, vivência (é o caso de Patrocínio) e morte, o beato poderá receber veneração pública. Já a canonização, que é posterior, por ato solene papal, transforma o culto particular em universal. E o beato passa a ser denominado santo.

HONRA – Depois de ver a inauguração do Mineirão em 1965, com gol do quase patrocinense Bougleux (Buglê). De ver o mágico Cruzeiro de Piazza, Tostão, Dirceu Lopes e Zé Carlos. De ver o mais artístico (e injustiçado) Atlético de todos os tempos, com Reinaldo, Éder, Cerezo, Luizinho e Paulo Isidoro. De ver o Atlético Patrocinense pisando o gramado na década de 90, pela primeira vez. De ver a despedida de Ronaldo do Cruzeiro em 15 de maio de 1994, no jogo que a equipe celeste venceu o CAP por 1 a 0. De ver o Santos de Gilmar, Zito, Coutinho, Pelé e Pepe. De ver tantos fatos para a história. Este modesto escriba viu o maior evento de todos. A primeira beatificação na América do Sul.

ETERNO MOMENTO FELIZ – Padre Eustáquio tem tudo a ver com Patrocínio. Morou na cidade. Protege os patrocinenses. Por tudo isso, a Rádio Difusora (AM e Internet) transmitiu a mais histórica jornada de sua história, segundo o então diretor de jornalismo Alberto Sanarelli. José Maria Campos e este escriba amador narraram o evento (da Cabine nº 1, por 7 horas sem interrupção). Christiano Romão e Sanarelli estiveram junto aos nobres fatos, percorrendo o estádio. Benil Borges comandou a logística técnica. Um dia para jamais ser esquecido. Ave Beato Eustáquio.

OS PATROCINENSES – Quase trezentos devotos de Pe. Eustáquio de Patrocínio estiveram entre os 70 mil presentes. Pe. Vinicius Maciel (hoje Pró-reitor e vice-postulador dos Sagrados Corações em BH) e Pe. Osvânio comandaram a caravana rangeliana. TV Ouro Verde gravou diversos depoimentos (Antônio Augusto e Lena foram os repórteres). TV Web do Patrocínioonline também marcou presença.

FINAL – A maioria dos patrocinenses acredita no beato Padre Eustáquio. Outra parte não tem crença. Mas ninguém duvida da bondade, da caridade e da fé do homem Humberto van Lieshout. Uma dádiva para a humanidade. Saúde e Paz é a expressão viva dita pelo Pe. Eustáquio.

Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 26/8/2017.

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