# Milton Magalhães

Serendipindade! (Uma Crônica da Drª Vanusa)

14 de Janeiro de 2020 às 20:11

( Este post foi publicado em janeiro de 2015, de vez em quando piçaremos alguma preciosidade soterada no antigo blog, como a que se segue) 

Alguém aí, por favor me abana! Abro o meu Face e em meio a tanta ”sofrência”, me deparo com uma belíssima crônica de autoria da Drª Vanusa. E Serendipidade! (Eita eu que adoro esta palavra!Que, mais ou menos, é você tropeçar em um diamante  sem estar procurando) Lendo descobri, surpreso, que a autora dedicou a  crônica para mim e meu companheiro de letras e lida, Cecílio de Souza. Quando você tiver um tempinho, leitor, me pergunte se gostei. Adorei! Ainda bem que era apenas uma crônica, um sonho, ela permanece conosco, mas prova que até no céu, figuras lendárias e emblemáticas como Adoniram Barbosa, Ariano Suassuna, Vinícius de Morais, Niemayer e Plínio de Arruda Sampaio, quer um naquinho de prosa com a nossa carismática Doutora Vanusa e quem sabe uma self.

Em suma: Ela é querida no céu e querida na terra. Enquanto ela não escreve para nós  o seu livro, compartilho mais um belo texto de sua lavra:

“O DIA QUE EU MORRI

Era janeiro, e eu, em um dia de sol que mais parecia o fogo do inferno, ao atravessar a rua lendo meu whatzap, veio um carro e me pinchou no chão, morri. O motorista não teve culpa...paciência, paciência, nasci desprovida desta virtude, me lembra Adoniram Barbosa. Fui desta direto para a melhor, sem escalas e sem bate-papo. 

Minha alma acompanhou o movimento e eu fui em direção àquele túnel de sempre com a luzinha no arremate. Tudo apropriado e sem inovações. Até ai, tudo adequado. O que mais me empolgou foi descobrir na fila para a entrada do Paraíso - ainda remanescentes de 2014 - Ariano Suassuna e Plínio de Arruda Sampaio. Os dois que, apesar dos pesares, não tinham a última morada como algo muito distante, não me pareciam estar infelizes com a fatalidade da partida, não tão prematura, posto que mantinham conversas animadas com todos que chegavam ou que lá já estavam há mais tempo como Vinícius de Morais, Niemayer ( que viveu mais de 100 anos e dizia que "a vida é um sopro e por isso não pode haver motivo para tanto ódio”. E mais, arremata o arquiteto que se lixava para o cliente “Depois dos 70 a gente começa a se despedir dos amigos. O que vale é a vida inteira, cada minuto também, e acho que passei bem por ela.). Lá também estava meu amado Saramago e tantos outros adorados...

Pois bem. Quatro ídolos de minha ex vida, agora ali, na minha frente em meu começo de morte. Estreei bem...Dei sorte! Eu, mineiríssima como vocação, adoro uma prosa, fui logo lá para iniciar um bate-papo e criar uma familiaridade celeste, precipitada para ouvir de meus semideuses suas primeira imagens do além túmulo. Fui logo no Ariano, o mais sorridente. Depois do meu “oi sou sua fã” veio a eloquência do escritor divertido: “E ai? Vc também encontrou-se com o único mal irremediável? Aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre.” Respondi, meio sem jeito, um mísero “é”. Ele sorriu e revelou-me: “ a gente tem a tendência em acreditar que não morre, mas a gente morre viu?” Eu respondi “pode ser mas o sr se dizia um mentiroso, então, não sei se posso acreditar nisso agora”. E ele o “cangaceiro matreiro e palhaço” me responde com essa: “não tenho certeza de nada, mas a visão dessas estrelas ainda me faz sonhar...” O céu parou neste momento.

Alguns segundos depois me chega o Plínio de Arruda Sampaio, com aquela ansiedade que lhe é peculiar, e me tasca de cara: “Me diz uma coisa, é verdade que a Dilma ganhou de novo? “
Sem comentários. Nem a morte nos salva mais...
Acordei. ( Vanusa Melo Costa Santos)

- Esta minha nova crônica é uma homenagem a dois grandes escritores que me dão a honra de partilhar uma amizade cheia de arte e talento: Milton Magalhães e Cecílio de Souza. Um grande beijo meus amigo! 

( Esta crônica foi postada em janeiro de 2015, de vez em quando piçaremos alguma preciosidade soterada no antigo blog)