# Eustáquio Amaral

Setembros Que Se Foram...

10 de Outubro de 2017 às 21:39

Saga. A da querida terra, Patrocínio, continua. Gente e coisas, fatos e lendas, de um tempo distante voltam por meio de recordações rangelianas. Para o bem dos atuais corações da nação patrocinense. Agora, a viagem é pelo primeiro mês da primavera. Em diversas primaveras de outrora.

1925: ESCOLA – O bispo de Uberaba, Dom Almeida Lustosa, em visita pastoral à Paróquia de Patrocínio, manifesta preocupação com a falta de educandários católicos. Sintonizados com esse pensamento e com a necessidade do Município, um grupo de patrocinenses liderados pelos coronéis João Cândido de Aguiar, Tobias Machado, Elmiro Alves, Nelson Queiroz, José Pedro de Paiva e Joaquim Cardoso Naves se comprometem a arranjar o prédio e o senhor Bispo a congregação religiosa para dirigir uma escola. Assim, está sendo concebido o Ginásio Dom Lustosa, sob a orientação dos padres holandeses dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria.

ANOS 30: ÔNIBUS – O primeiro ônibus, chamado jardineira, a fazer uma ligação intermunicipal pertence a Porfírio Silvestre Novais, filho do músico Zequinha Silvestre. A jardineira construída à base de madeira tem apenas oito lugares (assentos de pau) e explora a linha Patrocínio-Dourados-Vila Guimarães (hoje Guimarânia)-Patos. Vai em um dia, volta no outro pela estrada estreita e empoeirada.

1935: TEATRO – A Rua 7 de Setembro (hoje, Governador Valadares), atrás da Igreja Matriz, é chamada de Rua do Teatro. Pois, nesse local, existe um casarão, destinado ao teatro, onde peças, recitais e músicas de patrocinenses são apresentados. Depois de algum tempo, o teatro desaparece e o casarão é vendido para o senhor Bernadino Machado, que falece em maio de 1936. Bernadino foi delegado de polícia, fazendeiro e um dos fundadores do Asilo São Vicente de Paulo (hoje, onde foi o teatro, está o trecho da Rua Afonso Pena, que liga a Rua Governador Valadares e o Asilo). O casarão foi derrubado na década de 40 para abertura da rua. Como se vê, a mania de destruir marcos históricos é antiga.

1949 – Em 26 de setembro faleceu José Silvestre de Novais, o grande músico Zequinha Silvestre (de bandas e composições musicais). Foi também coletor (fiscal) e relojoeiro.

ANOS 50: TREM – Durante trinta anos, até meados da década de 50, tem sido possível dirigir-se a Belo Horizonte por trem. O comboio de passageiros da Rede Mineira de Viação–RMV leva 19 horas entre a capital e Patrocínio. Isso quando não ocorrem os frequentes atrasos. O movimento para Monte Carmelo, Ibiá e Três Ranchos-GO também é considerável.

1956 – No dia 15 de setembro foi fundado o Asilo São Vicente, no mesmo lugar que se encontra hoje.

1958: AVENIDA – Em solenidade em frente à Praça de Esportes (hoje PTC), numa manhã de muito sol, é inaugurada a Avenida Ministro José Maria Alkmim, pelo próprio homenageado. Participam da inauguração o vice-prefeito Amir Amaral, o prefeito Mário Alves do Nascimento, o Ginásio Dom Lustosa (esse escriba era um dos meninos da escola dos holandeses presente na festa), a Escola Normal N.S. do Patrocínio, o Colégio Professor Olímpio dos Santos e um público aproximado de 3 mil pessoas. Embora tenha sido Ministro da Fazenda, o folclórico Alkmim é o deputado majoritário de Patrocínio. Antes da obra, a avenida era chamada de Rua São João (de muita poeira e capim).

1962: VEREADORES – O presidente é Alaor Ribeiro de Paiva, da UDN. Também do mesmo partido são Gervásio Marques da Silveira, Generino de Castro, Pedro de Paula Nunes, João Cortes de Castro e José Constantino de Oliveira. Do PSD, partido de JK e Alkmim, são Casimiro de Faria Barbosa, João Alves do Nascimento, Lauro Borges de Araújo, José Fernandes Melo e João Batista de Queiroz (hoje residente em São José do Rio Preto). No total são onze vereadores e não existe nenhum tipo de remuneração. É a política por política.

1963 – No dia 22 de setembro, estreia na Rádio Difusora, José Maria Campos. Depois de ler alguns anúncios, disse: “Agora, com Nara Leão, a música de Zé Keti, “Opinião” ”. Assim foi o seu primeiro contato profissional com o microfone. Passados 54 anos, ele está no ar, na mesma Difusora. É o decano do rádio regional.

1965: DESFILE – No tradicional 7 de setembro, a cidade vê um dos melhores desfiles dos últimos anos. Abrindo a solenidade, um Jeep de capota baixada transporta a Bandeira Nacional e as autoridades, entre as quais, o prefeito Mário Alves do Nascimento e o presidente da Câmara Hélio Furtado de Oliveira. A seguir, vem o TG-145, comandado pelo subtenente Luiz Dionísio Carneiro, e a Escola Normal, tendo à frente outro Jeep, com duas crianças representando D. Pedro e a princesa Leopoldina. Logo após, desfilam o Colégio Olímpio dos Santos e a Escola Dom Lustosa. As fanfarras são as maiores atrações. Segundo pesquisa do “Jornal do Comércio” (editado pelo jornalista Leonardo Caldeira), a fanfarra do Olímpio dos Santos é a mais comentada, em termos de uniforme e número de integrantes. A do D. Lustosa destaca-se pelas evoluções.

1970: MÉDICOS – Em 1970, Patrocínio conta com nove médicos. São eles: Gustavo Machado, Michel Wadhy, Latif Wadhy, José Figueiredo, José Queiroz, José Garcia Brandão, Nalzira Marques Nader, Walter Pereira Nunes e Ocacir Siqueira.

1987: CARTA – “... de 1950 a 1962, Véio imperou no futebol patrocinense. O futebol da cidade girava em torno dele. Patrocínio não pode esquecer do futebol do tempo do Véio. Tempo de Baim, Blair, Paulo Tavares (esse o melhor beque de Minas na época, provavelmente o melhor jogador de Patrocínio de todos os tempos), Picum, Honorico, Canhão, Zé Salomão, Bazé, Catira, Joãozinho, Didi, Honorato do Zé Luiz, Getúlio, Lincoln, Ronan, Neguinho do Zé Jardineiro, Múcio, Batata, Chiquinho do Pires, Tonho do Nena, Ubaldo, Pedrinho, Soragi e outros mais jovens, como Ratinho, Peroba, Calau, Ítalo, Quebinho, Carmo, Zé do Cleto, Dilson, Ildeu e Manelico. Não me alongarei na lista, pois poderia omitir algum grande nome... Ninguém foi mais importante para o futebol de Patrocínio durante tantos anos quanto o Véio do Didino...” Este é um trecho da longa carta escrita por Rondes Machado a este viajante do tempo, em 25 de setembro de 1987. Rondes, atleta dos anos 50, é um dos maiores craques da história do futebol patrocinense (pertence à Seleção de Todos os Tempos, ranking registrado pela revista “Imagem Esportiva”, edição nº 1), reside no Rio de Janeiro.

Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 7/10/2017.

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