Linguagem. A de uma região é interessante. Se adicionar o fator tempo torna-se mais interessante ainda. Combinando região e tempo, um passeio pelos anos dourados (décadas de 50, 60 e 70), a esse lado de Minas, identifica gírias e dialeto singulares. Nesse contexto, destaca-se Patrocínio. Muitas palavras e expressões daquela época (Anos Dourados) não são usadas mais. Outras, às vezes, pouco utilizadas. Algumas, a velha guarda ainda fala e comenta. Qual será o significado de “bufunfa”, “gamar”, “pão”, “chá de cadeira”, “boa pinta”, “pelota”, “supimpa”, “chato de galocha” e “catira”. É divertido, é recordação, conferir essas e muito mais desse inesquecível modus viventi.
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NOMES DO DINHEIRO – Tutu, grana, dindin, faz-me-rir (este é homenagem a um sucesso musical, com esse nome, na voz de Edith Veiga, gravado em 1961). Prata (tanto para nota ou pratinha) também era utilizado. Embora “cruzeiro” fosse a moeda daquele tempo, para um mil cruzeiros a maioria da população dizia “um conto” ou “um conto de réis” (moeda anterior). “Bufunfa”, também muito usado por aquelas gerações.
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MULHER E HOMEM BONITOS – Rapaz de boa aparência, belo, era chamado de “pão” ou “boa pinta”. A moça bonita era “broto”, “brotinho”. Homem ou mulher com charme era “um borogodó”, ou seja, um encanto, um charme.
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ALIMENTOS FALADOS DE OUTRA MANEIRA – Desde os anos 50, é dito que no almoço hoje tem “pelota”, que é almôndega (carne). No pão passa “manteiga de leite”. À época se dizia “de leite” porque a banha de porco usada na cozinha (não existia óleo de soja) também era denominada manteiga de porco. Bolacha Maria e Bolacha Champanhe (hoje, chamados de biscoitos). Pão de sal é o pão francês hoje. Pão doce, muito comum. No açougue apenas existiam filé, alcatra e carne de 2ª (hoje, há dezenas de cortes). No armazém (não se conhecia supermercado) o açúcar era só açúcar (não era “cristal”, pois não tinha o “refinado”). E tudo era na balança (de pesos): arroz, feijão, sal, açúcar, fubá e milho (não havia pacotes desses produtos). Leite somente, pela manhã, nas carroças puxadas a cavalo, cujo litro era medido tirando o leite dos latões com uma caneca de alumínio de um litro!
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PALAVRAS DE ONTEM, INTERPRETAÇÃO DE HOJE – Bidú (pessoa esperta, adivinhador). Tempo do onça (tempo antigo). Peleja (trabalho, luta). Papo furado (conversa fiada, mentira). Bulufas (nada, sem entendimento). Cafona (feio). Carango (carro). Bafafá (confusão). Chato de Galocha (insuportável, intolerável). Gamar (apaixonar). Chacrinha (conversa sem objetivo, papinho). Uma brasa, mora! (coisa boa, ótima, criada na Jovem Guarda). Careta (pessoa tradicional, conservadora). Oi, Bicho! (Oi, Amigo!). Bocomoco (brega). Supimpa (algo bom, bacana), nome do guaraná Supimpa, anos 50, em Patrocínio. Antes, do Guaraná Banho de Lua (anos 60). Barango (não atraente, vulgar).
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TEM MAIS PALAVRAS, “TEM BASE” – Aliás, “Tem Base?!” é falada desde os anos 60, na região de Patrocínio, com o sentido interrogativo se tem fundamento ou se tem sentido. Carapina (hoje, carpinteiro). Mascate (vendedor ambulante, principalmente de roupas). Guarda-livros (contador, técnico em Contabilidade). Catira (troca de mercadorias diferentes, sem envolvimento de dinheiro). Por exemplo, anos 50/60/70, os maiores “catireiros” da cidade eram José Mendes (pai da Maria do Gulinha) e Vicente Caldeira (“dono” de venda, à Rua Cassimiro Santos, esquina com Rua Bernardino Machado). Sebo nas canelas (fugir rápido de algo). Matusquela (meio doido). “Pagar Mico” (vexame, dizer algo errado). Chapa (amigo). Calça Far-West (calça Jeans). Chofer de Praça (taxista). Carro de Praça (táxi). Chá de cadeira (esperando alguém assentado; em bailes, ninguém chama a moça para dançar, que tomou “chá de cadeira”).
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FUTEBOL COM OUTRAS PALAVRAS... – O goleiro era chamado de “arqueiro” ou goal-keeper, o zagueiro era beque (do inglês, back), o zagueiro direito e/ou esquerdo era o “half” (hoje, ala). E ainda tinha o meia-direita, meia-esquerda, pontas/ponteiro. O escanteio de hoje era o corner (também do inglês) de antigamente. Nos anos 60/70, os torcedores que ficavam nas arquibancadas (Mineirão, Maracanã, etc.) eram os “arquibaldos”. E os que ficavam na geral, chamados de “geraldinos”.
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MULHERES E TECIDOS: ESTRANHO! – Mulher não usava calça comprida, todavia quando começou a usar, a calça era denominada “eslaque” (slack). Camisas ban-lon (não precisava passar), calças de brim ou tergal (homens), ternos de casimira, vestido de seda ou chita. Mulher fácil sem ser prostituta (geralmente, moças), namoradeira, era chamada de biscate. E o “namorador” eventual, de “biscateiro”.
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MAIS TERMOS E COSTUMES, HOJE DESCONHECIDOS – Disco 78 rotações tinha duas músicas gravadas (uma de cada lado do disco de vinil). Compacto era de quatro músicas (duas de cada lado – era um disco de vinil menor). LP ou Long Play, na maioria das vezes, tinham 16 músicas gravadas (oito de cada lado desse grande disco de vinil). Os discos eram tocados em vitrolas, radiolas (com rádio) e emissoras de rádio, como a Rádio Difusora, onda média, que possuía uma grande discoteca (arquivo organizado de discos). As maiores rádios do Brasil possuíam ondas curtas, em 25, 31 e 49 metros (na frequência). Pessoa denominada “dorada” ou “dourada” era pessoa clara, olhos claros e aloiradas. Nos anos 50/60 diversas pessoas andavam quase em fila indiana pelas ruas da cidade. Gostavam de rosca (das padarias) e a origem delas predominantemente era a região de Dourados (há versões que seus antepassados vieram da Europa – os antigos censos indicam pequena presença europeia no Município).
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POR FIM – “Chuchu Beleza” (tudo OK). “Será o Benedito” (significa será quem? A expressão é oriunda do tempo do governador Benedito Valadares–“PSD”, que esteve em Patrocínio, anos 40. “No fim das contas” (finalmente). “De lascar o cano” (coisa ruim). “Fogo na roupa” (alguém, inclusive mulher, que ultrapassa limites; desafiador). “Lelé da cuca” (louco). Com dor na “cacunda” (costas) do escritor, esta crônica termina.
([email protected]) *** Crônica também publicada na Gazeta de Patrocínio, edição de 24/08/2024.