Personagens. Sejam políticos, sejam intelectuais, sejam populares toda cidade têm os seus. E o Município os teve ou os têm. Hoje, apenas os personagens de outrora, mas eternizados na memória das gerações recentes, voltam à passarela do tempo.
POLIDORO – Em 13 de dezembro de 1892, nascia em Patrocínio, Polidoro Alves de Souza, que, ao longo de sua vida, se tornou uma das pessoas mais conhecidas da cidade. Vicentino dedicado, teve oito filhos e criou outros tantos. Foi boiadeiro, açougueiro e finalmente, comerciante. Sempre muito divertido, caridoso e solidário. Nos anos 40 e 50, comercializava leite de vaca para a região da Rua Cassimiro Santos (antes Rua São Miguel) e fundou a Padaria N. S. Auxiliadora na Rua Marechal Floriano, próximo ao então futuro Mercado Municipal, localizado em terreno que fora seu. Nessa época, os pães eram entregues pelos padeiros nas casas em três carroças de alumínio (tipo latão) fechadas, puxadas por um cavalo. Muitas vezes, ao amanhecer, o pão também era deixado nas janelas ou alpendres das residências. Polidoro, então dono da mais importante padaria de Patrocínio, era um coração bom, como diziam seus conterrâneos. Faleceu em 1964.
ANOS 30: DISFARCE – Era Promotor de Justiça no Município, um paulista adepto da fina moda. Com terno de última geração, sapato de camurça e barba bem tratada. Era muito rigoroso com os fora–da–lei. Tinha o hábito de ir à cadeia fazer severas repreensões aos marginais. Entre os quais estava Filogônio, um temido valentão e matador. Em uma noite de inverno, Filogônio fugiu da cadeia. Logo de manhã, o Promotor foi avisado da ocorrência no Hotel do Antônio Lino do Amaral, na Praça da Matriz (sobrado do Cardoso, depois Escola Normal), onde residia. Mesmo antes de tomar café, o Promotor procurou a Barbearia do Abner (folclórico mudo da cidade) para raspar a barba e alterar o penteado. Por medo, muito medo, mudou a fisionomia e até o traje.
ANOS 40: COQUELUCHE – O Bar Rio Branco, no Edifício Rosário, na Praça Honorato Borges, era a coqueluche da cidade. Sob o comando de Abel Alves Machado (residente na Rua Cesário Alvim), foram fabricados os primeiros picolés de Patrocínio. Além do majestoso bar, Abel era marcador de quadrilhas, muito requisitado para as festas juninas patrocinenses.
COMEÇO DOS ANOS 60: FUTEBOL – A equipe do Flamengo (o maior celeiro de craques que Patrocínio já viu) estava tão harmônica e jogando “por música”, sob o comando do lendário Véio do Didino. Certo domingo, Bougleux, júnior do Atlético Mineiro, teve que se contentar com a reserva em jogo com o tradicional Clube dos Cem, em Monte Carmelo. No segundo tempo, ele entrou e jogou entre os titulares. Bougleux jogou ainda na Seleção Mineira, Galo, Santos e Vasco da Gama. Foi o autor do primeiro gol do Mineirão, em 1965.
ANOS DOURADOS: FOLCLORE – Em 1963, um jovem de quase 16 anos fez testes na Rádio Difusora para locutor comercial. No final dos anos 60, apresentou os raros noticiosos da emissora, que poderiam ser chamados de “O Estado de Minas no Ar”. Não havia noticiário da cidade e o jornal de BH era do dia anterior, pois o ônibus do Expresso União que o trazia chegava, quando chegava, por volta de 16h (havia somente um horário diário). Não se fazia edição de noticiosos; o “Estado” era lido de improviso. Certo dia, no “Correspondente Difusora”, o locutor leu uma notícia na primeira página do jornal, sobre o governador Israel Pinheiro, que autorizava a fusão do Banco Mineiro da Produção e o Banco Hipotecário para surgir o Bemge: “– A autorização do governador aconteceu ontem no Palácio da Liberdade, conforme mostra a foto ao lado...” O ontem era anteontem. A foto impossível de ver no rádio. E o locutor era e é a mais longeva patente do rádio rangeliano, José Maria Campos.
1965: CENAS – Você já viu os últimos modelos do Renault Dauphine e o Gordini? Era o que dizia o anúncio da Autocar, revendedor Willys, de propriedade de Humberto Queiroz, nos jornais da cidade. Você já comprou seu bilhete da rifa de um Gordini do CAP, de Nazir Félix? Era o que estava nas páginas do “Jornal do Comércio”, de Leonardo Cadeira, em 19 de setembro. E no dia 2 de outubro, o Cine Patrocínio (Praça Santa Luzia), dos irmãos João e Jorge Elias, exibia o grande filme espanhol “La Violetera”, com Sarita Montiel, às 16:30, 18:30 e 20:30 horas. Já no Cine Rosário (Praça Honorato Borges) as sessões aconteciam às 19:00 e 21:00 horas. Sucesso total de público.
1976: PICUN – Morreu, no dia 1º de janeiro, em Almenara–MG. Embora tenha nascido em Carmo do Paranaíba, em 1920, Picun pertenceu à vida patrocinense. Nos áureos tempos do Ypiranga E. C., foi um vigoroso craque de sua defesa. Como seu irmão Custódio Matias (criador da Corrida da Fogueira), foi um bom alfaiate. Voz muito pausada, amante dos jogos de baralho, trabalhou ainda no Fórum e, na sua simplicidade, tornou–se um servidor íntimo e de confiança do então vice–presidente da República, José Maria de Alkmim, em Belo Horizonte, a partir de 1964. Conheceu de perto os bastidores da Revolução Militar de 1964 e as “tiradas” do mais folclórico dos políticos brasileiros (Alkmim).
CONCORDANDO SE GANHA ELEIÇÃO – José Maria Alkmim foi deputado federal majoritário em Patrocínio por diversos mandatos. Em 1945, ajudou a fundar o legendário PSD. Na cidade sempre participava de solenidades cívicas ao lado dos imortais Amir Amaral, Abdias Alves Nunes e João Alves do Nascimento. Certa vez, numa delas, um vereador do PSD atacou um vereador da UDN, dizendo coisas do “arco da velha”, ao que Alkmim concordou: “– Você tem toda razão, caro amigo.” Pouco depois o vereador do PSD se afastou e um vereador da UDN se aproximou, dizendo “mil coisas” desabonáveis de seu colega e adversário. Alkmim concordou de novo: “– Você em toda razão.” Quando os dois vereadores se distanciaram, Picun, seu grande amigo e pessoa popular em Patrocínio disse: “ – Dr. Alkmim, o senhor deu razão ao vereador do PSD e, em seguida, ao da UDN. “– Você em toda razão, prezado Picun.”
PALAVRA FINAL
CURIOSIDADES: LINHAS DE ÔNIBUS – Em 1941, havia quatro linhas de ônibus (jardineiras) ligando Patrocínio às principais cidades da região. A Auto Viação Patrocínio–Coromandel–Paracatu partia as segundas, quartas e sextas–feiras, às 14h. A passagem até Paracatu custava Cr$ 65,00 (sessenta e cinco cruzeiros velhos). A empresa Irmãos Ribeiro fazia a linha Patrocínio–Perdizes–Uberaba, também as segundas, quartas e sextas–feiras, todavia às 6h da manhã. Até Uberaba a passagem custava Cr$ 60,00 (sessenta cruzeiros da época). A Auto Viação Patrocínio–Patos de Minas tinha jardineiras as quartas e sextas–feiras e a passagem até Patos era Cr$ 20,00. E a Empresa Condor era responsável pela linha Patrocínio–Carmo do Paranaíba com saídas as terças, quintas e sábados às 14h. A passagem custava Cr$ 25,00 (vinte e cinco cruzeiros velhos).
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 26/11/2016.