UM PAÍS MAIS PRODUTIVO?
Nossa Blog/Coluna de hoje traz uma matéria de autoria da jornalista *Nely Caixeta, bastante elucidativa sobre o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia. Entre os produtos beneficiados no amplo acordo está, sem dúvida, o nosso Café do Cerrado com a sua origem reconhecida.
O texto foi publicado originalmente na *Revista PIB, (Presença Internacional do Brasil) aqui reproduzido com a devida autorização da autora:
“Acordo com UE pode acelerar modernização da economia
Associação do Mercosul com a União Europeia deve trazer fortes ganhos de produtividade, com mais investimentos, tecnologia e inovação
Nely Caixeta
Tereza Cristina (de blazer amarelo), Araújo e Troyjo com a equipe negociadora: rodada final em Bruxelas Divulgação Agência Brasil
Com a conclusão das negociações da parte comercial na sexta-feira 28 de julho, em Bruxelas, o Acordo de Associação entre o Mercosul e a União Europeia (EU) deixou de ser uma intenção adiada há duas décadas para se transformar num compromisso com potencial de transformação muito além do que, num primeiro momento, se esperaria de um entendimento dessa natureza.
Os ganhos econômicos decorrentes da criação daquela que pode se transformar numa das maiores áreas de livre comércio do mundo, com uma população de 780 milhões de pessoas e um PIB conjunto de 21,7 trilhões de dólares, são expressivos.
Nota do Itamaraty aponta um potencial de incremento do PIB brasileiro de 87,5 bilhões de dólares em 15 anos e de um ganho de 100 bilhões de dólares nas exportações até 2035. Tudo isso seria resultado direto da abertura das fronteiras para a circulação de mercadorias e de serviços entre os quatro países do Mercosul e os 27 da União Europeia (excluindo-se por antecedência o Reino Unido, que está se retirando do grupo)
Araújo: abertura comercial vai aumentar competitividade Divulgação Agência Brasil
Indiretamente, porém, os benefícios esperados desse acordo são bem mais amplos. “A abertura vai aumentar a competitividade em toda a cadeia, reduzir custos através de novos investimentos, criar mercados em todos os setores da economia, permitir acesso a insumos em condições mais favoráveis, reduzir o custo Brasil e abrir mercados preferenciais”, afirmou o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, numa entrevista em Bruxelas logo após o anúncio do acordo.
Acompanhado da ministra da Agricultura, Tereza Cristina da Costa Dias, e do secretário de Comércio Exterior e de Assuntos Internacionais do ministério da Economia, Marcos Troyjo, seus companheiros na rodada final de negociação, Araújo chamou a atenção para o desenho geral do acordo comercial e para as “profundas repercussões” que poderão ter sobre a vida no país.
“Um acordo com economias dessa magnitude não deve ser visto do ponto de vista estático – da mera redução de tarifas que facilita acesso a mercados”, diz. “É preciso enxergá-lo do ponto de vista dinâmico, pois gera um conjunto de iniciativas com impactos muito além daqueles que são diretos – de produtividade, de tecnologia, de inovação e de investimentos.”
Para estimar melhor esses impactos potenciais, será preciso esperar a divulgação do texto integral do acordo – prometida para o fim de semana de 29 e 30 de junho, mas ainda não concretizada. No entanto, a própria nota divulgada pelo Itamaraty alinha pontos que serão alcançados pelo acordo, muito além da simples redução de tarifas.
A nota observa que este é o acordo mais amplo e mais complexo já negociado pelo Mercosul. Cobre – além das tarifas –, assuntos de natureza regulatória, como serviços, compras governamentais, facilitação de comércio, barreiras técnicas, medidas sanitárias e fitossanitárias e propriedade intelectual.
Além dos produtos de interesse do Brasil que terão tarifas eliminadas – como suco de laranja, frutas e café solúvel – a nota prevê que os exportadores brasileiros de carnes, açúcar e etanol, entre outros, ganharão maior acesso ao mercado europeu por meio de quotas.
Finalmente, o acordo reconhecerá como distintivos do Brasil produtos, como cachaças, queijos, vinhos e cafés, segundo a nota. Garantirá ainda acesso ao mercado europeu de provedores brasileiros de serviços como comunicação, construção, distribuição, turismo, transportes e serviços profissionais e financeiros.
Café do Cerrado: origem reconhecida pelo acordo, ao lado de cachaças, vinhos e queijos brasileiros Divulgação
Abertura interna
Um dos benefícios mais reconhecidos de acordos de comercio é o fato de que servem também como um grande estímulo a reformas internas. Esse foi um ponto destacado na entrevista em Bruxelas por Marcos Troyjo, do Ministério da Economia. “Os exemplos que vimos no mundo mostram que os acordos comerciais servem como uma espécie de acelerador do grau de institucionalização e de modernização dessas economias sob o ponto de vista das regras internas”, diz Troyjo. “Sabemos o quanto o Brasil ficou para trás por conta desse atraso.”
Neste momento, diz ele, o Brasil empenha-se em quatro frentes: as reformas previdenciária, tributária, econômica e de organização do Estado. “Agora, elas se farão acompanhar de um quinto vetor muito importante, que é o da abertura econômica”, diz. “E isso irá exigir das próprias empresas brasileiras um maior grau de organização corporativa e institucional.”
Para Troyjo, o acordo do Mercosul com a União Europeia irá resolver duas outras grandes anomalias – responsáveis, em parte, a seu ver, pelo baixo desempenho econômico do Brasil nas últimas quatro décadas. A primeira delas diz respeito à tímida presença do país nos mercados mundiais.
Troyjo: acordos comerciais estimulam a modernização interna Divulgação
“Não tem um único caso de milagre econômico no mundo nos últimos 50 anos que tenha ocorrido sem que o país em questão experimentasse uma alta na sua corrente de comércio, com um aumento do percentual de suas exportações e importações em relação ao PIB”, diz Troyjo. “É o caso dos milagres econômicos do Pós Guerra, da China em 1978, do Chile desde os anos 70, da Espanha de 1982 e dos exemplos mais recentes no Sudeste Asiático.”
O Brasil, dentre as 15 maiores economias do mundo, é a que tem a menor fatia de seu PIB representado pelo comércio exterior. “Esperamos com esse acordo um aumento significativo da nossa corrente de comércio”, diz Troyjo. “O comercio exterior vai ficar mais importante para o Brasil.”
A segunda anomalia tem a ver com a relação entre comércio e investimentos. “O Brasil foi muito afetado por ter protegido durante tanto tempo seu mercado interno”, afirma Troyjo. “Com isso, ficou muito distante das cadeias globais de produção, o que pode ser revertido a partir da abertura propiciada pelo acordo de agora, que irá atrair investimentos.”
Um terceiro ponto diz respeito à posição de desvantagem do Brasil em relação a seus competidores internacionais que já haviam assinado um acordo de livre comércio com a União Europeia. O acordo, de certa forma, ajudaria a criar igualdade de condições dos exportadores brasileiros com outros de países que já tinham acesso – como o México e o Canadá. “O Brasil estava em desvantagem e agora estamos criando um equilíbrio de condições”, declarou um dos negociadores brasileiros presentes em Bruxelas. “Essa é a grande foto.”
Troyjo chama a atenção para o fato de que os grandes acordos comerciais do futuro terão menos a ver com tarifas e cotas e mais com padrões. A seu ver, iniciativas como essa com a União Europeia e todo o esforço que o país vem empreendendo no sentido de ser aceito na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos colocam o Brasil no caminho certo. “De certa forma, estamos esquentando os tamborins para o grande jogo da economia internacional”, afirma.
Araújo acrescenta que o acordo dará impulso a parcerias em andamento com outros países, como o Canadá, Coreia do Sul e a EFTA – a European Free Trade Association, composta pela Islândia, Liechtestein, Noruega e Suíça – e propiciará a abertura de novas frentes de negociação. “Isso mostra o dinamismo da politica comercial que estamos tentando implementar em busca de maior competitividade para as empresas brasileiras”, diz.”
*SOBRE A REVISTA PIB
Dirigida pela jornalista patrocinense radicada em São Paulo, Nely Caixeta, a PIB é uma revista focada na internacionalização da economia brasileira. Possui distribuição nacional e internacional (em inglês).
Com tiragem de 25 000 exemplares, a PIB, publicação trimestral da Totum Excelência Editorial, de São Paulo, é uma revista inovadora, que trouxe para o mercado editorial o desafio de acompanhar a acelerada marcha das empresas brasileiras pelo mundo afora. Lançada em agosto de 2007, a PIB firma-se como a principal vitrine da economia brasileira cada vez mais internacionalizada e com peso crescente no cenário mundial.
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