(A crônica abaixo foi postada aqui no blog em 2015. Na reunião de 17/08/21 da Câmara Muncipal, a Vereadora Eliane Nunes, fez uma oportuna solicitação para que as calçadas com Pedrinhas Portuguesas, ao longo da Avenida Rui Barbosa, fossem restauradas e fossem tombadas como Patrimônio Histórico do município. Como lhe agradecer? Tudo que há muito solicitamos):
"Há um pedacinho de Portugal, com um toque Carioca em Patrocínio. Mas, em nosso andar apressado, distraído, ou viciado na rotina, nossos pés nos levam, no pra lá e pra cá do cotidiano e quase não prestamos atenção onde pisamos. Sem querer ser trágico, mas somente quando se quebra o salto ou torce o pé, se atenta para o mundo de arte, tradição e cultura que vão por baixo dos nossos pés. Dia destes, levei meu olhar para passear pelas calçadas de Patrocínio. E vai meu veredicto de antemão. Não obstante as construções de rampas de acessibilidade em todo perímetro central da cidade, acredito que se o pessoal do movimento ‘Mobilize Brasil’, que pressiona por melhorias na mobilidade urbana,desse um passadinha em Patrocínio, não dariam nota dez, para a conservação de nossas calçadas. Tem mais. Não bastasse os buracos, irregularidades, as vezes entulhos, tem as famigeradas construções sobre os passeios: "È proibido embaraçar ou impedir por qualquer meio, o livre trânsito de pedestre ou veiculo nas ruas", sentencia o código de postura do município. Então, por que a exceção? fulano pode construir, esparramar cadeiras pelas calçadas? Ou ninguém pode? Bom, não entendo, mas vamos caminhando. Se tem o aspecto da acessibilidade, da segurança, e a estética, e a beleza histórica, onde ficam? Recentemente nosso patrocinense/carioca, Rondes Machado, conferiu in loco a situação de nossas calçadas. Caçadas Portuguesas, com certeza. Não gostou nada do que viu. A propósito que tal saber um pouco mais sobre este mimo de Portugal, que em Patrocínio, chegou com um requinte do Rio de Janeiro, a cidade que celebra 450 anos de fundação:
CALÇADA PORTUGUESA
Tal como o nome indica, é originária de Portugal, tendo surgido em meados do século XIX. Esta é amplamente utilizada no calcetamento das áreas pedonais, em parques, praças, pátios, etc. No Brasil, este foi um dos mais populares materiais utilizados pelo paisagismo do século XIX, devido à sua flexibilidade de montagem e de composição plástica. A sua aplicação pode ser apreciada em projetos como o do calçadão da Praia de Copacabana (uma obra, cujos desenhos imitam as ondas do mar) ou nos espaços da antiga Avenida Central, ambos no Rio de Janeiro. Achei magnífico saber também que em comemoração aos Cem Anos de Noel Rosa,Vila Isabel, seu bairro de origem, imprimiu sobre a Calçada Portuguesa, trechos de partituras de músicas do compositor da Vila.(foto ao lado)
A calçada portuguesa rapidamente se espalhou por todo o país e colonias, subjacente a um ideal de moda e de bom gosto, tendo-se apurado o sentido artístico, que foi aliado a um conceito de funcionalidade, originando autênticas obras-primas nas zonas pedonais. Daqui, bastou somente mais um passo, para que esta arte ultrapassasse fronteiras, sendo solicitados mestres calceteiros portugueses para executar e ensinar estes trabalhos no estrangeiro.
Escavações arqueológicas comprovam a existência deste tipo de revestimento nas cidades da Mesopotâmia, no antigo Egito e nas cidades da antiguidade greco-romana, espalhando com sucesso na Europa, áfrica, América, Ásia, Ociania. Foi de fato e direito, reavivada há cerca de 18 século, durante o reinado de D. João II em Portugal, como a conhecemos. Como se nota, expostas aos rigores do tempo e espaço, sobreviveu a todas espécies de vandalismo. E por que não, uai, na capital mineira, as calçadas portuguesas, que estão presentes em vários locais, com destaque para a Praça da Liberdade, algumas ruas da Savassi e do centro, veio, timidamente parar também numa cidade mineira do Alto Paranaíba.
EM PATROCÍNIO
Temos atualmente, trechos descontinuado deste pavimento artesanal, misturados a outras formais de calçadas, o que mais se assemelha uma colcha de retalhos . Com um golpe de olhar sobre a história, sem dúvida, vê-se que foi Dr Olimpio Garcia Brandão, prefeito engenheiro, que administrou a cidade de 1971-75 (com planejamento e visão artística)quem mais incentivou este estilo lusitano em terras rangeliana. A propósito, foi Dr Olímpio, que entre tantos feitos, construiu o atual Centro Administrativo e foi responsável pelo Plano Diretor e Código de Postura do município. (Depois de 40 anos, somente agora no final de 2014, a cidade conseguiu editar um novo Plano Diretor)
Bem, mas onde estão os mosaicos portugueses em nossa urbe? Na Praça da Matriz, lá está estendido no coração da praça o tapete pétrio, que mescla alvinegro com arranjos curvilíneos e florais. Embora necessite de reparos, não perdeu aquela beleza clássica de encher os olhos. Não consigo imaginar o chão da Praça da Matriz, sem esta belíssima arte lusitana.
E num dos portais de entrada da cidade, a Avenida Rui Barbosa, a partir da praça Santa Luzia, subindo quarteirões e quarteirões, Praça do Tiro de Guerra , passando pelo viaduto, até as proximidades do trevo da BR 365, em toda a sua extensão , de um lado e de outro incluído o canteiro central, era para ter originalmente as calçadas em mosaico português. Apesar de tudo, lá está a arte no chão avenida afora, com desenhos, em vermelho e branco, com motivos geométrico em zigue - zague, que se remete as ondas - marca registrada do calçadão da "Princezinha do Mar". Para uma cidade que já tem um "Cristo Redentor", é mais um pedacinho do Rio de Janeiro em Patrocínio.
Falta padronização. Em frente alguns estabelecimentos , as pedras foram substituídas por cimento rústico, pisos e toda sorte de pavimentos que quebram toda harmonia original da avenida. Como, defronte ao Shopping Ouro Verde, que nem as pedrinhas portuguesa, prevaleceram ,nem cimento tosco, predominou, ficou horrível.
A arte nas calçadas portuguesa foi pouco explorada em Patrocínio, haja vista que suas possibilidades são infinitas, algumas empresas, no entanto grafaram seus nomes nas calçadas usando as pedrinhas mágica e ficaram na história. È o caso do "Armazém dos Operários LTDA" Onde atualmente funciona a Drogaria União." Móveis Faria LTDA",hoje, A Tropical Moveis e "Lojas Real". Mesmo nome até hoje.
Preocupa-me o futuro deste estilo de calçada em Patrocínio. Deveria ser tombada como patrimônio histórico municipal, ou, seria o caso de ser ter uma lei, não com função punitiva e sim, educativa, para que os moradores e proprietários de imóveis situados no calçadão da Rui Barbosa, mantenham a originalidade e a conservação do piso histórico em frente aos seus estabelecimento. Mas não é bagunçado assim, pois se trata de um trabalho artesanal/artístico. Ora, pois, estamos nos referindo á Calçada Purtguesa. A prefeitura de Patrocínio deve se encarregar de bancar cursos da arte e da técnica aplicada na construção e restauração deste patrimônio histórico. Ela mesma, dona prefeitura, DAEPA, CEMIG e TELEMIG, devem parar de dar maus exemplos, pois, não raramente finalizam suas intervenções com péssimo acabamento. (O DAEPA, realiza seu trabalho importante, porém, se retira os paralelepípedos, de uma rua, deixa uma tarja preta de pixe no lugar, vide os paralelepípedos, debaixo do viaduto da Rui Barbosa)
A cidade tem alma solidária. È preciso viver nela pensando sempre no outro. Foi com muita propriedade que um certo Profº Cristóvão Duarte, escreveu:"Uma cidade precisa ser construída e reconstruída todos os dias, pedrinha por pedrinha, tal como os mestres calceteiros nos ensinaram ao longo da História das cidades. A força de cada pedrinha decorre da força do sistema como um todo, gerado pelo fato de todas as pedrinhas compartilharem, solidárias, o mesmo projeto de cidade."
Só posso acrescentar uma coisa e é um pedido: Salvem as nossas Calçadas Portuguesas!