# Eustáquio Amaral

Um Pouco de Patrocínio de Outrora

8 de Novembro de 2016 às 12:31

Recordar. Isso é muito gostoso. O pensamento e o tempo permitem maravilhosas viagens. Como a de agora, pelas terras rangelianas de épocas distantes.

1819: COMPORTAMENTO FEMININO – Quando o marido estava ausente, a mulher não se apresentava ao visitante. Recebia–o pelos serviçais, acolhia–o no engenho e dava–lhe comida por meio de buracos na parede, onde os pratos eram introduzidos. Nessa ocasião, as mulheres do local só andavam por detrás das casas e plantações. Palavras do alemão Eschwege (1816) e do francês Saint–Hilaire (1819), pesquisadores e escritores que visitaram Patrocínio naqueles anos.

1835: A PODEROSA – Ana Jacinta de São José, Dona Beja, era a mulher mais famosa da região. Residia em Araxá, município a qual pertencia o Distrito de N. S. do Patrocínio. A movimentação dos patrocinenses pela emancipação era grande. Padre José Ferreira Estrela era o pastor do Curato desde 1833 (também se tornou o primeiro vigário a partir de 1839).

1835: COMETA – Em outubro, surgiu nos céus da região o Cometa Halley. Excetuando o sol e a lua, era o mais brilhante corpo celeste já visto. No princípio era visível nas tardes durante o pôr do sol, do lado do poente. Em janeiro de 1936, voltou aparecer do lado do nascente, mas pela manhã e com o brilho mais fraco.

1880: PRECURSOR DE ANTÔNIO CONSELHEIRO – Surge em Salitre (hoje Salitre de Minas) um grupo de fanáticos religiosos. O líder era chamado de Padre Eterno. A fazenda do Capão se tornou a sede do movimento. O negro José Antônio de Souza era o nome verdadeiro do Padre Eterno, que foi vencido pelas lideranças políticas de Patrocínio. Esse fenômeno social e religioso repetiu–se em Canudos mais tarde, com significado para a história do Brasil, tendo o monge Antônio Conselheiro o seu personagem central.

1895: TERREMOTO – Ocorreu um tremor de terra na cidade, considerado pelos técnicos de baixa intensidade. Embora tenha causado pânico, não provocou mortes nem desabamentos. Suspeita–se que o pequeno terremoto tenha sido provocado pela acomodação de camadas de terra sob a Lagoa do Chapadão de Ferro, onde existiu um vulcão no período terciário. Portanto, o conjunto geológico de Serra Negra teria sido o epicentro das ondas terrestres. Entretanto, a causa mais provável foi o meteorito que caiu na região de Tejuco. Os moradores na ocasião chamaram–no de “Pedra de Raio”, que teria cerca de 3 metros de diâmetro. Segundo a narrativa, o corpo rochoso ao cair provocou enorme estrondo e tremores na superfície terrestre.   

COMEÇO DO SÉCULO XX: PADARIA – Em uma esquina da Rua do Cavaco (hoje, esquina das Ruas Professor Olímpio dos Santos e Paula Arantes), funcionava a primeira padaria convencional de Patrocínio: Padaria Nápoli.

AINDA NO COMEÇO DO SÉCULO XX: PROFESSORAS – Não havia escolas convencionais no município (a primeira escola foi o Grupo Escolar Honorato Borges, inaugurado em 1914). As crianças estudavam com as professoras D. Indelece (oriunda de Serra do Salitre) e D. Quita. Em suas casas, no Largo do Rosário (hoje Praça Honorato Borges), aconteciam as aulas de alfabetização. Os alunos mais carentes não pagavam.

1910: UM RETRATO ROMÂNTICO – A área central da cidade situava–se na região das hospedarias (hoje proximidades da Escola Dom Lustosa), passando pelo Largo da Matriz até o Largo do Rosário (depois Praça Honorato Borges). O final das casas já atingia o Largo de Santa Luzia, onde existia uma capela solitária no meio do campo formado de vegetação do cerrado, com destaque para os pés de gabiroba (quase três décadas depois, surgiu a capela de Santa Luzia). O cotidiano mostrava dezenas e dezenas de carneiros, bovinos e equinos pastando nas ruas e largos. Os namorados não tinham permissão para conversar com as namoradas. Os namoros eram praticamente platônicos. Isso provocava muito lirismo nas serenatas das noites de luar, quando o violão, a modinha e o romantismo se completavam. Com seus 3 mil habitantes, Patrocínio  não tinha indústrias. Vivia da agropecuária e de muita prosa.

1928: ESCOLA – Até então as moças de Patrocínio, pertencentes à classe mais favorecida, principalmente de fazendeiros, eram encaminhadas a Franca–SP para estudar. Costume que desapareceu com o surgimento da Escola Normal Nossa Senhora do Patrocínio, em 11 de outubro de 1928.

1939: MAESTRO Nº 1 – Em outubro, faleceu na Colônia de Santa Isabel, em Betim–MG, José Carlos da Piedade, o maior músico de Patrocínio. Hanseníase foi a causa mortis. Maestro José Carlos nasceu na Vila de Patrocínio em 1869 e casou–se em Sacramento. Compôs a lendária valsa “Saudades do Matão”. Residiu também em Araguari em 1904, quando era muito solicitado para exibições musicais. Depois morou ainda em Barretos, Franca, Campinas e Matão–SP (inspiração da famosa música), onde foi o regente da banda municipal. Nos últimos anos de vida morou na Colônia Santa Isabel, onde fez “Suspiros de Santa Isabel” e “Dobrados de Santa Isabel”.   

ANOS 40: ALTERAÇÃO DE NOMES – As duas principais ruas da cidade mudaram de nome. A Rua 7 de Setembro passou a ser chamada Rua Governador Valadares. E a Rua 15 de Novembro passou a ser a Rua Presidente Vargas. A mudança foi em atendimento a um decreto do ditador e presidente Getúlio Vargas, que determinou que em cada cidade deveria ter os nomes do Presidente da República e Governador do Estado (Getúlio Vargas e Benedito Valadares) em logradouros públicos.

Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 5/11/2016.

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