# Eustáquio Amaral

Um Retrato de Patrocínio à Véspera de sua Emancipação

23 de Maio de 2020 às 12:17

Magistral. É a história de nossa amada Patrocínio. Dia 7 de abril completou 178 anos de autonomia (soberania) administrativa. Ou seja, 178 anos de (existência como) município. Entretanto, é maravilhoso caminhar um pouco mais no tempo. Como era Patrocínio antes de 7 de abril de 1842. O ano focalizado é 1832. Portanto, 10 anos antes de se tornar Município. Quem morava, quem administrava, quantos escravos, quantas casas e nomes. É uma riqueza saber disso. Graças ao soberano Arquivo Público Mineiro, em Belo Horizonte, isso é possível.

A GEOGRAFIA DA ÉPOCA – Patrocínio era um distrito, no termo Julgado do Araxá, pertencente ao município e comarca do Paracatu do Príncipe. Império do Brasil. Província de Minas Gerais. Monarquia sob forma de regência, pois Pedro II tinha somente seis anos de idade naquele ano: 1832.

EM OUTRAS PALAVRAS – Patrocínio pertencia a Paracatu. Somente no ano seguinte (1833) passou a pertencer ao novo município de Araxá, denominado Vila de São Domingos do Araxá, quando de sua instalação. Portanto, Patrocínio pertenceu a Araxá por 9 anos apenas.

OS HABITANTES – Segundo o Mapa de População da Província, Patrocínio possuía 1.649 habitantes. Dos quais, 1.060 livres e 599 cativos (escravos). Residiam em 234 fogos (casas).

CONDIÇÕES DO LEVANTAMENTO – Esse primeiro censo de Patrocínio, assim poderia ser dito, tem o número do fogo (casa), nome dos moradores, a cor da pele de cada morador (“qualidade”), a condição social de cada morador (livre, escravo), idade, estado civil, e, profissão. Esse mapa/censo é datado de 29 de março de 1832.

PADRE NA MELHOR CASA – O sacerdote José Ferreira Estrella, 47 anos, clérigo, residia na casa nº 1. Com ele, o escravo João, 19 anos, e o menino de cor preta (assim está escrito no documento), 12 anos, Benedicto. Todos servidores da cura (paróquia). Padre José Ferreira Estrella foi o primeiro vigário da Paróaquia de Nossa Senhora do Patrocínio, criada em 9 de março de 1839 (permaneceu até 1862).

EXEMPLOS DE MORADORES – Na casa nº 6, residia Flauzina de Souza Penha, cor parda, 30 anos, costureira. Já o vizinho, na casa nº 7, era Bento José da Conceição, 28 anos, branco, carapina (carpinteiro). Como também era o morador da casa nº 177, Joaquim Gouveia, 70 anos, pardo. No geral, nas 234 casas, havia bordadeira, vendedora, negócio (comércio)... como ocupação.

JÁ NA CASA Nº 213... – Nesse fogo havia 34 pessoas, denominadas “almas”, entre brancos, pardos e pretos, adultos e crianças. Carlos José da Silva, 41 anos, e sua mulher Francisca Cândida, também 41 anos, tinha 11 filhos (Antônio, Lourival, Rita, Anna,...) e, diversos jovens e crianças, de cor negra.

MAIS 103 PESSOAS... – Três anos depois, em 1835, Patrocínio contava com 1.732 habitantes. Desses, 1.010 “brancos”, 141 “pardos”, e, 601 “pretos”.

ONDE TINHA MAIS GENTE – O Censo da Província alocou os habitantes em quatro faixas etárias. Até 15 anos, de 15 a 30 anos, de 30 a 60 anos e acima de 60 anos. Por causa da força de trabalho, a faixa de 15 a 30 anos, tinha 244 “pretos” (escravos), 257 “brancos” e 54 “pardos”, num total de 555 pessoas.

SE MORRIA CEDO... – Acima de 60 anos, dentre os 1.752 habitantes, havia somente 23 “brancos”, nenhum “pardo”, e, quatro “pretos”. Portanto, poucos nessa faixa etária. Assim, a vida era mais curta do que hoje.

TINHA “PRETO” LIVRE E “PARDO” ESCRAVO – De cor parda, o censo também registrou 7 escravos. E 31 “pretos” livres (não eram escravos), sendo 16 “machos” (termo do Censo) e 15 “fêmeas”.

POR FIM – Quem concluiu, assinou e escreveu o censo foi o Juiz de Paz Damazo José da Silva. Nessa conclusão, Patrocínio já pertencendo ao município de Araxá (1835), como distrito (antes pertencia a Paracatu).

CONCLUSÃO – Esta é mais uma amostra da desconhecida história de (nosso) Município. Na verdade, uma pérola a ser ainda mais lapidada.

Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 11/4/2020.

([email protected])