Cultura. Patrocínio tem grande acervo ligada a ela. Nesse acervo há registros de intelectuais que gostaram mais de sua terra natal do que a maioria nascida sob o mesmo sol e sobre o mesmo chão. Advogado, historiador, pesquisador, profundo conhecedor da língua, escritor, cofundador da Academia Patrocinense de Letras–APL em 1982, e seu presidente de 1985 a 1993, ocupante da cadeira nº 10, secretário executivo da Comissão Nacional de Bolsas de Valores (SP) a partir de 1954, grande orador, enfim, o curriculum vitae de Gerson de Oliveira é ainda mais vasto. Uma síntese sobre ele e a sua Patrocínio é uma degustação cultural.
O COMEÇO – Gerson de Oliveira nasceu em 02 de setembro de 1922. Filho e neto de famílias bem rangelianas. Entre os irmãos, Valter de Oliveira (casado com a inesquecível profª. Irma), e, o jornalista Odair de Oliveira, redator e diretor do então maior jornal dos mineiros, Estado de Minas, nas décadas de 50, 60 e 70. A Casa da Cultura leva o seu nome (Odair de Oliveira). É primo em primeiro grau do empresário Nenê Constantino. Gerson foi brilhante aluno do Grupo Escolar Honorato Borges (1929-1932), e, na década de 30, do Ginásio Dom Lustosa, dos padres holandeses, onde chegou a ministrar aulas de Português a colegas de outras séries.
TRABALHO INICIAL – Ainda muito jovem, tornou-se secretário municipal na administração de dois prefeitos: dos médicos José Garcia Brandão (1940-1945) e Amir Amaral (1945-1946), esse no seu primeiro mandato. Nessa época, a Prefeitura localizava-se no casarão, onde hoje é a Casa da Cultura, na Praça da Matriz. Em 1946, mudou-se para a capital paulista, onde cursou o colegial (hoje, ensino médio), pois Patrocínio ainda não tinha o “Científico”, e, em 1955, concluiu direito na PUC-SP. Em 1955, casou-se com a paulistana Helena Souza Oliveira, que tiveram filha única, a juíza federal Márcia Souza Oliveira (Franca-SP).
ATIVIDADE PROFISSIONAL – Como excelente técnico do mercado de capitais, participou da reorganização da Bolsa de Valores de São Paulo e da reformulação/reforma da Lei das Sociedades Anônimas. Entre 1954 e 1972, Gerson esteve em diversos congressos internacionais, representando a Bolsa de São Paulo, tais como os realizados em Milão-Itália e Montevideo-Uruguai. Também atuou como advogado de 1956 a 1976, na capital paulistana.
PRESENÇA EM PATROCÍNIO – Sempre declarou o seu interesse e incondicional amor pela cidade. Nos anos 80 e 90, colaborou em questões de cunho político, social e administrativo. Chegou a ser candidato a vereador (1982). Embora bem votado, não conseguiu se eleger. Os eleitores do Município não souberam reconhecer o seu valor, talento e ética. Em 1988, atendendo solicitação do médico José Garcia Brandão, apresentou o esboço do Estatuto da Irmandade Nossa Senhora do Patrocínio (Santa Casa). No ano seguinte, quando o provedor era José Carlos Grossi, concluiu o seu trabalho.
ATIVIDADE CULTURAL – A Fundação Casa da Cultura Odair de Oliveira foi criada pela Lei Municipal nº 1.518, de 25 de outubro de 1979, no primeiro governo do prefeito Afrânio Amaral. Gerson de Oliveira foi o seu principal idealizador e construtor. Em 1991, deu o curso de extensão “A Origens Sociológicas da Região”, promoção da Faculdade (hoje, Unicerp). Houve enorme repercussão. Isso além de sua exitosa presidência da APL.
MAIS CULTURA – Depois de sua aposentadoria na Bolsa de São Paulo e de seu trabalho marcante, como advogado na capital paulista, Gerson dedicou-se ao seu torrão. Na década de 90, estava também escrevendo uma obra literária sobre a história de Patrocínio e Região. Para tanto realizara algumas viagens a procura de informações e dados. Inclusive esteve em Goiás, e em sua antiga capital chamada Goiás, da mesma forma. O livro chegou à fase de compilação. Todavia, não o terminou devido à sua doença. Referência a esse trabalho está no livro Cafundó – A África no Brasil. Os autores Carlos Vogt e Peter Fry, catedráticos da PUC (Campinas/SP), escrevem:
“... armado de citações de vários historiadores, ele (Gerson de Oliveira) veio a Campinas e durante cinco horas registrou em fitas um extenso relato histórico, quase uma crônica historiográfica de Patrocínio...”
PESQUISA – Esses renomados pesquisadores estiveram em Patrocínio, acompanhados por Gerson de Oliveira, ouvindo os mestres do dialeto Kalunga (língua secreta dos escravos): Inácio de Souza (Inácio Verdureiro), Cabrera (pai da folclórica Denga) e outros inesquecíveis da União Operária, além de informações de Sebastião Elói. O cronista, escritor e acadêmico Cecílio de Souza em sua série “A Calunga dos Cafundós”, no Jornal de Patrocínio, ano 2003, fundamentou-se no referido livro e também relatou um pouco desse filho emérito de Patrocínio (Gerson de Oliveira).
HONRA – Pelas mãos de Gerson de Oliveira, de Sebastião Elói e do médico Jesus Santos (também da Academia Mineira de Medicina), todos patrocinenses, imortais da Academia Patrocinense de Letras, este amador cronista e escriba foi integrado à mesma, em 1990. Nesse tempo, havia somente 12 cadeiras, então doze imortais. Curiosamente, Gerson, Tião Elói, folclórico vereador Natinho, vereadora-advogada Ismene Cortes, este autor, historiador Floriano de Paula, dentre outros célebres, se reuniam sempre no emblemático Foto Universo, na Rua Governador Valadares, esquina com Marechal Floriano, nos anos 80 e 90, sob a tutela anfitriã de Antônio Caldeira (único vivo, porém enfermo).
O FINAL – Em 29 de março de 2007, ocorreu o falecimento do inesquecível Gerson de Oliveira, após ser acometido pelo Mal de Alzheimer, durante alguns anos. Para sempre, merece estar na galeria dos patrocinenses fora de série. Reverenciamo-lo.
HOMENAGEM – Em 03 de maio de 2007, Carlos Ibrahim Daura, presidente da Câmara Municipal de Patrocínio, nos comunicou, por ofício, que a Biblioteca do Legislativo patrocinense passaria a denominar-se Biblioteca Gerson de Oliveira. Isso no “intuito de homenagear esse grande homem público, historiador e jurista”, disse Ibrahim.
FONTES – Primeira Coluna de 08/5/2004, 12/5/2007 e 12/10/2013. As duas edições anteriores no Jornal de Patrocínio. A última na Gazeta, Patrocinioonline e Redehoje. Além, de registros pessoas deste cronista.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 27/06/2020.