# Milton Magalhães

Vai ficar tudo bem, Patrocínio!

14 de Julho de 2020 às 12:49

Sentindo o peso da solidão imposta pelo isolamento fisco- social, ele chamou seu coração para passear pelas ruas de sua cidade. Ele que vivenciava a solidão interna, agora saindo ás ruas se deparou com a solidão externa, assustadoramente, palpável.

Pediu no entanto, para explicar que a solidão nunca foi um problema em sua existência. Convive bem com ela. Mas, bem entendido: A solidão ocasional, opcional, para ele, ( e ele acredita que para todo ser humano) é terapêutica, produtiva e restauradora. Mas essa solidão interna e externa imposta, é doentia, mórbida e assustadora...

Era um domingo á tarde, quando normalmente o trânsito na cidade é mais ameno, mais tranquilo, entretanto, a ausência de movimento, era quase uma ausência de vida em tudo.
“Ué, cadê todo mundo?” Quem sabe, tudo não passava de uma grande brincadeira infantil, chamada Pique Esconde... “Quem dera fosse”. Falou isso em voz alta. Não tinha ninguém nem na calçada, nem na rua para ouvi-lo.

Seu olhar percorria tudo, tinha a sensação de estar passeando em uma cidade cenográfica”. Ou dentro de um filme de Hollywood, cujo título não poderia ser outro: “ Cidade Fantasma”.

Caminhou só. Só ouvindo o som de seus passos na calçada. E a cadência de sua própria respiração, dificultada pelo uso de uma máscara. Ele se sentia uma assombração que escapara de um poema do Mário Quintana, ou algum conto de Edgar Allan Poe.

Lá estava o sol da tarde banhando a beleza natural da cidade. Lá estavam as ruas como longos tapetes negros a perder de vista. Lá estavam as Palmeiras imperiais com suas vastas cabeleiras verdes. Lá estava as casas com suas arquiteturas singulares. Até o sinal de trânsito, alternava as cores. Mas não havia carros, nem gente para atravessarem as ruas.

Aquilo era o novo anormal. Que nada tinha de novo e muito menos de normal. É contraditório. Igual quem diz “Novo Corona”. Você já leu por aí, corona significa “coroa” e coroa significa velho na boa gíria. “Velho Coronavil” e estamos conversados. É o absurdo querendo ficar comum em seu dia a dia, pensou o moço.

Se sentindo um peixe fora d'água, um fora da lei, o personagem da crônica resolveu convidar seu coração para voltar para casa. Regressar à sua prisão domiciliar era preciso.

Ele sabia. Dizimando a humanidade, tem um bichinho invisível com um monstruoso poder letal comprovadíssimo. “Não pode com ele, fuja, vaza, casca fora dele” É que o homo tecnologicus, ou o homo facebookus, ou o cidadão 4.0 do nosso tempo, tem de ter a mesma sabedoria do homo sapiens de outras eras. Eles permaneciam na caverna fugindo da manada de dinossauros. Devemos ter igual cuidado, fugindo ao máximo de um inimigo, milhares vezes mais terrível. Uma pedrada certeira era uma vacina e tanto naquele tempo, hoje, "use máscara, alquingel" ou, caso contrário, deixe uma graninha ai reservada para o caixão.

Mas o moço da narrativa em tela, tinha sido testemunha da solidão de sua cidade...

CIDADE TAMBEM PRECISA DE AFETO, CALOR HUMANO, COLO, CARINHO E COMPANHIA. A solidão da modalidade imposta, mata pessoas, qualquer megalólpe, quem dirá um cidadezinha do interior mineiro.

Tem hora que as palavra de consolação fogem todas. Como consolar minha cidade que sofre com a “síndrome de cidade das ruas vazias”?

Sempre haverá, um verso de um poema, um versículo bíblico, ou a estrofe de uma canção que nos consola e salva. Ele se lembrou de um pedacinho de uma canção de Lenine e dedicou para sua cidade em um assovio:

“...Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência”

CUIDADO E PACIÊNCIA. VAI FICAR TUDO BEM, MINHA AMADA, PATROCÍNIO!