# Eustáquio Amaral

VIGÁRIO PAROQUIAL É AVÔ DE ÚNICO E CONSAGRADO BISPO PATROCINENSE

3 de Novembro de 2020 às 20:37

 

 

                                            

História. Patrocínio tem a sua. E com muitos acontecimentos interessantes. Curiosos. Seja na política, seja no esporte, seja nos costumes, seja na religião. E na religião, há um personagem singular. A sua vida é composta de fatos que a torna inigualável no Brasil. Ele é fabuloso. Não são conhecidos casos similares, até hoje. Padre Modesto Marques Ferreira é o seu nome. Vigário da única paróquia do Município à época (1868-1900).

 

QUEM É – Padre Modesto nasceu em São Francisco das Chagas do Campo Grande (hoje, Rio Paranaíba), em 1843. Nessa ocasião, era distrito de Araxá. Estudou em Goiás, onde adotou a cultura jesuíta. Por volta de 1860, pela estrada Picada de Goiás, passando por Estalagem (hoje, Estrela do Sul), ia a cavalo de Patrocínio até Goiás. Tornou-se o terceiro vigário da paróquia N. S. do Patrocínio, criada em 1839. E o que permaneceu mais tempo (32 anos). Nem os padres holandeses alcançaram essa façanha. Faleceu em 22 de janeiro de 1902, aos 59 anos de idade. Foi sepultado no mesmo cemitério onde foram sepultados juiz Eloi Ottoni e Coronel Rabelo: o segundo cemitério da cidade, então localizado onde hoje é o Bairro São Vicente, área do Asilo, inaugurado em 1862.

 

PADRE MODESTO: INTELIGENTE E VERSÁTIL – Segundo depoimentos de descendentes dele, fazia e agia como sacerdote (sua vocação), advogado (rábula), médico, farmacêutico e até político. Por exemplo, no dia 07 de agosto de 1898, nove anos após proclamação da República, participou da reorganização do diretório do Partido Republicano de Patrocínio, envolvendo inclusive os distritos de São Sebastião da Serra do Salitre, Abadia dos Dourados, Cruzeiro da Fortaleza e Santana de Pouso Alegre do Coromandel.  

 

1898: OS LÍDERES DO PARTIDO REPUBLICANO PATROCINENSE – De acordo com o jornal oficial “Minas Gerais”, edição de 22 de agosto de 1898, uma segunda-feira, o presidente do partido eleito foi o tenente-coronel José Fernandes da Silva Botelho. O vice-presidente o capitão Theodoro Honorato Gonçalves. Já o 1º secretário eleito Adolpho Pieruccetti, ancestral maior da família Pieruccetti. Como 2º secretário, Olympio Carlos dos Santos, professor, músico e líder cultural. Como membros efetivos do diretório, foram eleitos o coronel Honorato Martins Borges, grande líder político, e, o vigário paroquial Modesto Marques Ferreira. Como membros suplentes o capitão Honório Botelho, tenente José Rodrigues Milagres, Carlos Dias Santeiro (sócio na fabricação de vinho), e major Antônio Fernandes da Silva Botelho. Os títulos militares eram apenas honoríficos, concedidos pelo Governo às expressivas lideranças locais.

 

PADRE MODESTO NÃO DEIXAVA POR MENOS... – No inventário do Coronel Rabelo (Joaquim Antônio de Souza Rabello) há uma cobrança (crédito), manuscrita, datada de 24 de maio de 1898, no valor de 105 mil réis, do Padre Modesto, pela celebração da missa de sétimo dia (do Coronel).

 

INCRÍVEL PADRE: TEVE FILHOS! – Conforme narrativa do lendário Sebastião Elói, Padre Modesto foi pai de alguns filhos. Apesar do celibato, a união com a sua governanta e servidora Maria Torquato, houve filhos. Uma é a Maria Etelvina Dias, mãe de Cândido Dias. Esse pai de Vanda Dias Caldeira, Mário Dias Caldeira, Roberto Dias Caldeira e do acadêmico Antônio Dias Caldeira, que felizmente sobrevivem. Daí, Padre Modesto é avô do senhor Cândido Dias (falecido) e bisavô desses quatro irmãos Dias Caldeira.  

 

PADRE MODESTO AVÔ DE RENOMADO BISPO – Outro filho do vigário de Patrocínio foi Osório Marques Ferreira, irmão de Maria Etelvina Dias. Osório casou-se com Rita Guilhermina de Mello. Desse casamento, nasceu, dentre outros filhos, Almir Marques Ferreira, o Dom Almir, em 18 de novembro de 1911, nas chácaras da família, que situavam na estrada, onde é hoje a via ligando a Av. João Alves do Nascimento com a região do Enxó Campestre. Justamente a Av. Dom Almir Marques Ferreira. Padre Modesto também tinha a sua casa no começo dessa estrada (via), hoje quase esquina com Av. João Alves do Nascimento. Isso há quase 130 anos. Sua casa era denominada a “Chácara do Vigário”.

 

DOM ALMIR – Sebastião Elói contava que Almir era seu colega e grande amigo no Grupo Escolar Horonato Borges. Mas, muito comportado e educado. Não participava das travessuras dos meninos. Principalmente, quando a “farra” se estendia até o “Bicão” de água (hoje, na avenida entre o acesso da Unicerp e o bairro Morada Nova). Aos 16 anos, ingressou no Seminário São José, em Uberaba. Depois, transferiu-se para o Seminário Maior de Belo Horizonte. Devido ao seu desempenho religioso, dedicação e simplicidade tornou-se um seminarista símbolo. Em 17 de novembro de 1935, foi ordenado sacerdote em Uberaba.

 

PRIMEIRA MISSA E SUA TRAJETÓRIA – Em seguida, na Igreja Matriz de Patrocínio, celebrou a sua primeira missa. Após, em Uberaba, foi reitor, capelão do Colégio Diocesano, e vigário geral da Diocese, a qual pertencia Patrocínio. Em 05 de agosto de 1957 foi sagrado Bispo. Foi nomeado Bispo Auxiliar de Socorocaba – SP.

 

PERTO DE PATROCÍNIO – Em 19 de novembro de 1961, a Igreja criou a terceira diocese do Triângulo (depois de Uberaba e Patos de Minas) em Uberlândia. Dom Almir Marques Ferreira foi nomeado o primeiro Bispo da nova Diocese de Uberlândia. Com o objetivo de dar maior liberdade ao Bispo Coadjutor, Dom Estevão, que lhe sucederia, transferiu residência para Araguari, no dia 15 de julho de 1970. Muito considerado pela comunidade católica de Uberaba, Uberlândia e Araguari, porém com saúde debilitada, faleceu em 1º de janeiro de 1984, sendo sepultado, no dia seguinte, na Cripta da Catedral de Santa Terezinha em Uberlândia. Por ter sido o fundador e primeiro bispo daquela diocese, recebe homenagens sempre.

 

PADRE MODESTO “DESCOBRIU” SERRA NEGRA – Em 02 de setembro de 1881, o vigário de Patrocínio escreveu uma carta ao Padre Manoel Francisco de Morais, vigário de Carmo do Paranaíba, seu amigo desde a ordenação de ambos, numa mesma época, em Goiás. Nessa missiva, disse ao vigário carmense que ele poderia celebrar o casamento de dois primos no Carmo. E que se encontrava em Serra Negra, “fazendo uso das águas minerais desta fazenda a conselho de um médico para a cura do rheumatismo. Já me acho já quase restabelecido de todo; tudo apenas feito uso das águas por 5 a 6 dias. E creio que continuando por mais alguns dias fico restabelecido, pois já não soffro dôr alguma”. O hotel de Serra Negra somente surgiu quarenta anos depois, por volta de 1920.

 

POR FIM – O fotografo Lucas José Marques (Rua Cassimiro Santos) é sobrinho de Dom Almir. Assim, Lucas também é um dos bisnetos do fantástico Padre Modesto.

 

FONTES – Jornal Minas Gerais (22/8/1898), Primeira Coluna (13/8/2010), livro “As Ruas de Patrocínio” de Júlio César Resende, jornal Lavoura e Comércio de Uberaba (18/10/2000), Vanda Dias Caldeira, Antônio Dias Caldeira (carta de 1881) e acervo do cronista.

 

([email protected])                              Crônica também publicada na Gazeta, edição 24/10/2020.