Mormaço de final de agosto.Vive-se tempos bicudos de eleições...Eis que no final da tarde (de 28/08) recebo uma lufada de simpatia e lindeza em forma de carta. Explico:Recentemente a Jornalista, Mônica Cunha, apresentadora do programa “Bem Viver “da TV Integração, decidiu resgatar um hábito que vai ficando esquecido em nosso tempo: A arte de escrever cartas. Para tanto, solicitou a quem interessasse em receber uma carta sua, enviasse-lhe o endereço postal. Pensei, qual o problema em tentar. Alguns dias depois... Como nos velhos e bons tempos, o carteiro cumpriu a sua doce rotina. Deixou um envelope em papel vergê creme no alpendre de casa. E não é que era a carta prometida. Na verdade um recadinho em mimoso papel de carta com letras douradas: “Milton; Tudo bem? Que ao abri-la você possa sentir bem e pronto para escrever também... As palavras aproximam, nos desafiam a pensar a brincar com as sutilezas da vida. Você é feliz? Um café e um abraço”
Modestia á parte, devo confessar que sou a pessoa mais privilegiada que conheço, pois recebo frequentemente correspondências de um patrocinense morador ilustre do Jardim Botânico (Rio). Envelopes com recortes de jornais, comentários, sugestões e elas, as cartas. Assunto? Inesgotável: Patrocínio. Seu passado, presente e futuro.
E quem não gosta de receber cartas? Quando o carteiro chega e diz: “Tem uma correspondência para você”, qual olhar não brilha.
Adorei a surpresa. Nestes tempos de correio eletrônico, WhatsApp, in Box, papo reto & outras formas de comunicação instantânea , truncadas, resumidas, secas, descartáveis, já substituíram por completo, a arte de escrever uma missiva. Aplausos a todas as modernidades que trouxeram avanços nas comunicações. Mas escreva ai. Estas novas ferramentas, jamais, substituirão a emoção, a magia, a elegância e a palpitação gostosa de receber uma carta pelo correio...
O Imortal gaúcho, Moacyr Scliar, escreveu: “Grandes cartas balizaram a história da humanidade. As cartas do sábio Sêneca. As epístolas de São Paulo. As cartas de Abelardo e Heloísa, cuja paixão foi atalhada brutalmente. A carta de Pero Vaz de Caminha falando sobre "a terra em tal maneira graciosa". A carta em que sir Walter Raleigh, prestes a ser executado, despede-se da esposa ("Mando-te o meu amor, para que o guardes quando eu esteja morto"). As cartas de Van Gogh ao irmão Theo. As Cartas a um Jovem Poeta, de Rilke. As cartas escritas dos campos de concentração. Textos pungentes, que nos galvanizam, senão pela forma literária, então pela autenticidade. Beethoven declarou-se a uma amada imortal, desconhecida até hoje." Napoleão errou a mira e escreveu cartas de amor para uma pretendente infiel. Marx trocou mensagens românticas com sua noiva para driblar as proibições dos pais da moça e Yoko Ono continuou declarando em cartas o seu amor para John Lennon 29 anos após o cantor sido assassinado.
Já repararam como têm aparecido ultimamente livros com a correspondência de pessoas famosas? As cartas trocadas entre Fernando Sabino e Clarice Lispector. Idem, entre Fernando e Mário de Andrade. A correspondência de Vinicius de Moraes. A de Elizabeth Bishop, poeta norte-americana que viveu no Brasil. Documentos importantes, que nos falam de vidas e de obras significativas; testemunhos históricos de valor. Mas a pergunta se impõe: não seria a publicação dessas coletâneas manifestação de uma antecipada nostalgia?. Perguntou, Scliar.
Soube que A Chamex enviará 20 mil cartas de internautas com texto escrito por calígrafo. A iniciativa faz parte da ação Sua Carta no Chamex, que tem como objetivo resgatar a emoção de enviar correspondências escritas à mão. A ação reforça o posicionamento da empresa, maior fabricante mundial de papéis para imprimir e escrever, que acredita na convivência do papel e da tecnologia.
Diga-se de passagem, a carta que se escreve á mão, será sempre lida com o olhar do coração. Escrever por si só já é um ato de sobrevivência : "Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida." (Clarice Lispector) como bem diz Ana Jácomo: "Escrever é o meu trabalho mais lúdico. Meu jeito preferido de prece. Minha maneira predileta de levar o coração pra pegar sol” .
Escrever á mão é resgatar a essência da elegância. Ariano Suassuna ia mais longe: "Eu só tenho prazer de escrever à mão. Eu acho uma forma meio desumana... Escrever com o computador".
É sobejamente sabido que do berço ao túmulo, dois grandes eventos acontecem.(O início e fim da lida) mas, é no intervalo (“Entre um café e outro”) que a vida explode e acontece. A ordem é: Entre o primeiro choro e o último sorriso, curtir a travessia. Viver o trajeto. Se encantar mais vezes com a paisagem. Entre uma palavra e outra; entre uma carta e outra; entre uma poesia e outra; entre uma primavera e outra. Entre um cafezinho e outro, a amizade, o viver bem... O Bem Viver!
A editora e apresentadora do programa Bem Viver, Mônica Cunha, nasceu no Bairro - bairro mais histórico e cultural de Uberlândia - Menina que sonhava ser médica, encontrou nas palavras a arte da cura. É palestrante, autora de lindas crônicas poéticas, estreou recentemente na literatura, lançando o livro “Entre um café e outro”;é apresentadora do programa de rádio “Em Pauta”, na Rádio Globo Cultura e assina um blog de variedades. Ou,seja, "Não tenho tempo" poderia ser o seu mantra, no entanto, achou tempo para surpreender, encantar, escrever cartas com toda leveza...
Pra mim, Agosto pode ir em paz. Já vislumbro Setembro. Sinto o aroma de primavera! Vou até escrever isto... numa carta á mão, naturalmente.
VIA FACE BOOK, MÔNICA CUNHA:..."estou sorrindo nesse momento! Confesso que também sinto arrepios na pele. Emoção, gratidão por suas palavras que me chegam da melhor forma! Vamos continuar esse hábito tão bacana??? Obrigada, obrigada e um grande abraço!"