11 de Agosto de 2018 às 16:52

Cadeirante da cidade de Patos de Minas diz ter sido vítima de constrangimento durante viagem interestadual de ônibus

Segundo Hyaggo de Aquino Araújo, o motorista teria o tratado com descaso após pedir para ir ao banheiro durante uma parada.

 

O jogador de basquete e cadeirante patense Hyaggo de Aquino Araújo, de 26 anos, passou por um momento constrangedor na madruga do último dia 31 de julho, após o motorista do ônibus em que viajava recusar auxílio para leva-lo até o banheiro durante uma parada.

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O incidente ocorreu durante uma viagem que fazia de Campinas em sentido à Patos de Minas, pela empresa Continental. Durante uma parada de 15 minutos em Ribeirão Preto, sentiu necessidade de descer para utilizar a sonda uretral no banheiro e pediu ajuda ao motorista.

Segundo Hyaggo, o condutor respondeu-lhe com má vontade e incerto, disse que verificaria se poderia ajudá-lo. A passageira que se sentava ao lado de Hyaggo havia ido até o banheiro durante a parada e ao voltar, deparou-se com ele comentando o fato com outros passageiros.

Na ocasião, os motoristas efetuavam a troca de turnos, e tanto o primeiro motorista, quanto o segundo, não retornaram para auxiliar. A passageira se solidarizou e o deixou sozinho para que ele utilizasse a sonda dentro do veículo de forma mais privativa.

Ao descer do ônibus, a passageira explicou a situação aos motoristas e aguardou por alguns instantes antes de retornar. Constrangido, Hyaggo utilizou a sonda uretral no interior do ônibus e relatou que chegou a ser visto por outros passageiros enquanto fazia as necessidades.

Hyaggo viaja desde fevereiro para participar de competições de basquete de cadeiras de rodas e disse que nunca havia passado por isto antes. Foi a primeira vez que um motorista lhe recusou auxílio para suas necessidades pessoais.

Posicionamento da empresa sobre o caso

Em contato com a empresa Continental, o Patos Notícias foi encaminhado à assessoria de comunicação da Empresa Gontijo, proprietária da viação, e depois de fornecer dados do acontecimento, foi solicitado o histórico da viagem.

De acordo com o relato feito pelo motorista, após o cadeirante pedir ajuda, ele afirmou que iria auxilia-lo depois de efetuar a troca de turno e demais procedimentos da parada. Como foi informado pela passageira que ele havia feito a sonda no interior do ônibus, não retornou.

Para a assessoria de imprensa da Gontijo, o motorista teria agido de forma correta levando-se em conta que ele teria realizado os procedimentos básicos que visam a segurança da viagem e dos passageiros em primeiro lugar.

 “O ideal seria que o motorista tivesse disponibilidade imediata para ajuda-lo, porém devido a afazeres como verificação de passagens e números de passageiros, checagem do automóvel, dentre outros, o tempo fica corrido”, afirmou a porta-voz da empresa.

Uma questão de acessibilidade

Cadeirante desde 2009, ano em que foi atropelado por um carro enquanto andava de bicicleta, Hyaggo encontra refúgio no esporte, que pratica desde 2013. Portador de necessidades especiais desfruta da lei do passe livre, que lhe garante viagens gratuitas por todo o país.

O benefício possibilita que ele tenha um acompanhante, caso seja comprovada a necessidade. Devido à idade elevada e indisponibilidade da mãe, Hyaggo preferiu por realizar as viagens país afora, sozinho para praticar o basquete em cadeira de rodas.

O decreto Nº 3.691, de 19 de dezembro de 2000, faz com que as companhias de transporte disponibilizem dois assentos para pessoas com deficiência e idosos. Na ocasião, eles foram ocupados por Hyaggo e pela senhora que cedeu espaço para que ele realizasse a sonda.

A lei, entretanto, não especifica como os cadeirantes e portadores de necessidades especiais irão embarcar nos veículos. Durante as viagens, os motoristas guardam a cadeira de rodas de Hyaggo no bagageiro e quando não recebe ajuda dos mesmos, entra no veículo se arrastando.

Para Sílvio Ribeiro, 40, cadeirante e presidente da Associação dos Deficientes Físicos de Patos de Minas, a solução de problemas como estes não é apenas caracterizada pela falta de solidariedade das pessoas e sim pela insuficiência de acessibilidade.

O manual das normas brasileiras de número 14022 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) especifica como deve ser realizada a acessibilidade em veículos de características urbanas para o transporte coletivo de passageiros.

Segundo o órgão, que também especifica como os terminais rodoviários devem se adequar por meio da ABNT NBR 9050, não deve existir no veículo nenhum tipo de obstáculo que impossibilite a saída de pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida.

Para ser considerado acessível, o veículo deve possuir piso baixo, piso alto com acesso realizado por uma plataforma de embarque ou piso alto equipado com plataforma elevatória veicular. O ônibus que Hyaggo viajou não seguia nenhum destes três requisitos.

“Se todos os ônibus de transporte coletivo fossem adaptados de acordo com a lei vigente e se os terminais rodoviários disponibilizassem plataformas elevatórias a vida dos portadores de necessidades especiais seria bastante facilitada”, pontuou Silvio.

Caio machado e Igor Nunes parceiros do Patrocínio Online


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