Véspera de mais uma eleição, ouvindo lendo e vendo a labuta e atarantação dos candidatos tentando subir no pau de sebo do poder, lembrei-me de um texto (impresso) de Maria Cristina Fernandes, guardado em minha “Universidade de Recortes”. No qual a editora de política do Valor, traz a tona um texto de Quinto Túlio Cícero: “Pequeno Manual da Campanha Eleitoral”, escrito há mais de dois mil anos.
Quinto Cícero, que nasceu 102 anos antes de Cristo, foi um político, soldado e escritor. Era irmão mais novo de um político da época muito importante – Marco Túlio Cícero. Suas peças e poemas não existem mais, apenas um ensaio e algumas cartas resistiram a corrosão do tempo e chegaram aos nossos dias.
O autor viveu na Roma antiga, cujo sistema eleitoral daquela época era bem diferente do nosso, contudo, por incrível que pareça, os princípios que regem uma campanha eleitoral, continuam os mesmos – o candidato deve assegurar o sustento de sua campanha por pessoas influentes e conciliar a massa de eleitores, manipulando-os sutilmente por maquiavélicos.
Este “Pequeno Manual de Campanha Eleitoral”, foi redigido quando da disputa de seu irmão, Marco Túlio, por um lugar no Senado, Quinto Túlio, indica o caminho que todo e qualquer candidato deve seguir de forma a atingir seu objetivo, bem como dá conselhos precisos e metódicos. Este pequeno tratado chegou até nós como sendo um esboço das linhas mestras de uma campanha eleitoral.
O marqueteiro de Cícero, Quinto, seu irmão, considerado o primeiro organizador de estratégias de marketing, enviou-lhe uma carta cheia de recomendações, tipo: “volte sua atenção para a cidade, todas as associações, os distritos e os bairros; vá ao encalço de homens de toda e qualquer região, passe a conhecê-los, cultive e fortaleça a amizade, cuidando para que eles cabalem votos para você; três são as coisas que levam as pessoas a se sentir cativadas e dispostas a dar apoio eleitoral: um favor, uma esperança ou a simpatia espontânea”.
Eis uma batelada destes “conselhos” de Quinto Túlio Cícero, a Marco Túlio:
1. Patrulhe o inimigo
– “Não há eleição sem subornos”. Mas, se mostrarmos que estamos vigiando, o temor que seus adversários terão de sofrer uma ação legal inibirá a compra de votos."
2. Esconda seus defeitos
– “Se lhe falta alguma qualidade, saiba qual ela é e finja possuí-la. Apesar de a natureza humana ser forte, a eleição é um negócio que dura poucos meses. É possível disfarçar por esse tempo ”.
3. Ataque os adversários
– “Leia e releia todas as acusações contra seus oponentes. E mostre aos eleitores que você é diferente dos seus adversários, corruptos e depravados”.
4. Fique do lado dos poderosos
– “Mostre à nobreza que você está com ela. Se em alguns discursos você parecer estar ao lado dos populares, deixe claro que foi apenas para conseguir votos”.
5. Prometa
– “Homens são mais sensíveis às palavras que a serviços verdadeiros. Ouça o que os eleitores querem e prometa cumprir. Não prometer é pior que não cumprir”.
6. Jogo de cintura
- "Outro conselho diz respeito a um pedido ao qual não seja capaz de atender. Nesse caso, negue de modo simpático ou, então, não negue de jeito nenhum; a primeira atitude é de um bom homem; a segunda de um bom candidato. (...) todas as pessoas, no íntimo, preferem uma mentira a uma recusa.
7. Vale tudo
- "Cuide para que sua campanha inteira seja repleta de pompa, que seja brilhante, esplêndida e popular, que tenha uma imagem e um prestígio insuperáveis, e que também surja, se houver alguma base que o permita, uma acusação de crime, luxúria ou corrupção coerente com o caráter de seus rivais."
8. Marcação cerrada
- "Quando entram em campo a corrupção e o suborno, ela costuma esquecer-se da moral e da dignidade, trate de se conhecer bem, isto é, perceba que você é quem pode provocar em seus concorrentes o mais intenso pavor de um processo e uma condenação. Faça com que eles saibam que os vigia e observa.”
9. Esconda seus defeitos
"Se lhe falta alguma qualidade, saiba qual ela é e finja possuí-la. Apesar de a natureza humana ser forte, a eleição é um negócio que dura poucos meses. É possível disfarçar por esse tempo."
Uma curiosidade. Para destacar-se na multidão, deveria usar sempre uma túnica bem branca, a chamada "toga candida". De tanto usar essas vestes os caçadores de voto romanos foram chamados de candidatos. Não precisa nem dizer que o Marco Túlio Cícero, venceu a eleição. E assim vem caminhando nossa política e a maioria dos políticos. Incrível! 21 séculos depois, as ideias que norteiam as campanhas eleitorais permanecem mais ou menos as mesmas...Por que? Porque os eleitores sempre aceitaram este "show business eleitoral"... Podia ser diferente...