27 de Dezembro de 2025 às 16:30

ENTREVISTA: Engenheiro de Patrocínio integra equipe que desenvolveu o primeiro "carro voador" do Brasil

César Abrahão, especialista em acústica e vibração, atua na Eve Air Mobility (Grupo Embraer) no desenvolvimento do inovador eVTOL, que realizou voo histórico recentemente.

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Na última semana, o Brasil e o mundo acompanharam com grande expectativa o voo de teste do primeiro protótipo em escala real do "carro voador" brasileiro. O veículo é desenvolvido pela Eve Air Mobility, empresa do Grupo Embraer, e conta com um talento local em sua equipe de engenharia: o patrocinense César Abrahão.

Raízes e Formação Acadêmica
 

Natural de Patrocínio,  é filho de Ademir e Lúcia e irmão de Daniella e Maíra.Casado com Adriana (filha de Adriano e Neusa), César Abrahão agora vê os resultados de anos de estudo e prática profissional ganharem os céus, colocando-se no mapa do desenvolvimento tecnológico que promete revolucionar a mobilidade urbana mundial.

Ele viveu na cidade até o início de sua jornada acadêmica, que começou no sul de Minas, onde se graduou em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI).

Com quase 15 anos de carreira, o engenheiro acumulou experiência em grandes montadoras, trabalhando no desenvolvimento de veículos a combustão e elétricos, além de ter atuado como docente na área. Sua busca por especialização o levou ao mestrado na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com foco em vibração, e atualmente finaliza o doutorado na USP, com ênfase em acústica. Durante o doutorado, César realizou experimentos na Penn State University, nos Estados Unidos, em um campo diretamente ligado ao seu trabalho atual.

A Chegada à Eve e o Desafio do eVTOL
 

Em 2022, César ingressou na Eve Air Mobility. Sua chegada ocorreu em um momento estratégico: a empresa tinha apenas dois anos e o projeto permitia que ele participasse das definições fundamentais do veículo desde as fases iniciais.

O veículo, tecnicamente chamado de eVTOL (aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical), utiliza oito motores elétricos com hélices para decolar e pairar como um drone ou helicóptero. Ao atingir altitude, um motor traseiro é acionado e as asas passam a garantir a sustentação, permitindo que ele voe como um avião de asa fixa. No destino, o processo se inverte para um pouso vertical preciso.

Silêncio: O Diferencial para as Cidades
 

Um dos maiores desafios para a aceitação desses veículos em grandes centros urbanos é a poluição sonora. É neste ponto que o trabalho de César Abrahão se torna vital. Atuando nas áreas de ruído e vibração, o engenheiro trabalha para que o eVTOL seja não apenas seguro e estruturalmente robusto, mas também extremamente silencioso.

A meta da equipe é que o ruído externo seja significativamente inferior ao de um helicóptero convencional, permitindo que a aeronave opere em cidades sem causar impactos negativos às comunidades.

Mobilidade Urbana sem poluição
 

O "combustível" do carro voador da Eve (Embraer) não é líquido como a gasolina ou o querosene; ele é 100% elétrico. O veículo utiliza baterias de alta densidade energética para alimentar seus oito motores rotores e o motor de propulsão traseira.

Aqui estão os principais motivos pelos quais essa tecnologia é considerada um grande ganho para o meio ambiente:

Zero Emissão de Carbono (CO?)

Ao contrário dos helicópteros convencionais, que queimam combustíveis fósseis e liberam gases de efeito estufa diretamente na atmosfera, o eVTOL não emite nenhum poluente durante o voo.

  • Se a energia usada para carregar as baterias vier de fontes limpas (como solar, eólica ou hidrelétrica, que são fortes no Brasil), o ciclo de poluição é praticamente zero.

Redução Drástica da Poluição Sonora

Um dos maiores problemas ambientais nas cidades é o barulho. O motor elétrico é naturalmente muito mais silencioso que uma turbina ou um motor a combustão.

  • O design da Eve foca especificamente em "acústica urbana", visando um ruído que se confunda com o som ambiente da cidade, sendo até 90% mais silencioso que um helicóptero comum durante o sobrevoo.

Eficiência Energética Superior

Motores elétricos são muito mais eficientes na conversão de energia em movimento do que motores a combustão (que perdem muita energia na forma de calor).

  • Além disso, o design de "asa fixa" permite que, após a decolagem, o veículo plane como um avião, consumindo o mínimo de energia possível para se manter no ar.

Menos Desperdício e Manutenção

Por possuir muito menos peças móveis e não utilizar óleos lubrificantes complexos ou sistemas de exaustão, o impacto ambiental de manutenção e descarte de resíduos químicos é significativamente menor ao longo da vida útil da aeronave.

Um Marco para a Indústria Aeronáutica
 

O voo realizado em dezembro representa um divisor de águas por três pilares fundamentais confirmados por especialistas e relatórios do setor:

  • Aeronave em Escala Real: Diferente de testes anteriores feitos com modelos reduzidos, este voo utilizou o protótipo em tamanho real. Isso prova que a engenharia brasileira dominou a complexa transição de sistemas entre o voo vertical (como helicóptero) e o voo de cruzeiro (como avião), um dos maiores desafios da engenharia aeroespacial moderna.

  • Liderança no Mercado Global: A Eve Air Mobility detém hoje a maior carteira de intenções de pedidos do mundo no setor de mobilidade aérea urbana. São quase 3.000 unidades encomendadas por operadoras de diversos países, o que coloca o Brasil na vanguarda de um mercado estimado em US$ 1,5 trilhão até 2040, segundo projeções do banco Morgan Stanley.

  • Sustentabilidade e Descarbonização: O sucesso do voo valida o uso de propulsão 100% elétrica para o transporte de passageiros. Isso alinha o Brasil às metas globais de emissão zero de carbono, criando uma alternativa viável aos combustíveis fósseis e consolidando a Embraer como a terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo, agora líder em inovação limpa.

O teste não apenas valida a máquina, mas também inicia uma nova fase: a de certificação junto à ANAC e ao FAA (EUA). Este é o passo final para que, em poucos anos, o veículo deixe de ser um protótipo e passe a integrar o cotidiano das metrópoles, transformando o tempo de deslocamento urbano de horas em poucos minutos.


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