Maravilhada é expressão para definir como me senti no congresso europeu de diabetes que aconteceu na Áustria, em Vienna do dia 15 ao dia 19 de setembro desse ano. Um dos mais impressionantes eventos que pude presenciar até o momento.
Um congresso que, como relatou um dos palestrantes S. Tesfaye, UK (aplaudido de pé) tenta unir a tecnologia e os avanços da indústria farmacêutica ao alívio do sofrimento dos pacientes diabéticos: “ O sentido de tudo é o paciente.”
Um dos pontos interessantes no congresso foram palestras sobre o avanço dos medicamentos inibidores de SGLT2: dapgliflosina (Forxiga), canagliflozina (Invokana) e empagliflozina (Jardiance).
http://www.forxiga.eu/what-is-forxiga/moa
A sigla SGLT2 refere-se ao nome inglês de uma proteína encontrada nos rins e que é responsável por reabsorver a glicose que é filtrada na urina.
As glifozinas (como são conhecidas essas drogas) são medicamentos que inibem essa proteína (SLGT2) fazendo com que a glicose não seja absorvida, mas sim eliminada pelos rins. Esse mecanismo, em pacientes diabéticos é capaz de abaixar os níveis de glicose sanguínea. E ainda prometem reduzir pressão arterial e o peso.
Os estudos mostraram a efetividade dessas drogas. São drogas eficazes na diminuição da hemoglobina glicada e redução do peso em diabéticos tipo 2. As pesquisas foram mais a fundo ao trazer associações dessas drogas com inibidores de DPP4 e metformina como estratégia promissora para diminuir os efeitos colaterais temidos como infecções urinárias e genitais.
Como são drogas novas no mercado com pouco tempo de experiência algumas ressalvas devem ser colocadas: faltam estudos em longo prazo para maior segurança e análise da efetividade da droga, não devem ser usadas em pacientes com perda moderada ou grave da função renal, não são medicamentos potentes, podem aumentar os casos de candidíase vaginal e infecções de urina e jamais devem ser usadas em pacientes que não tem diabetes. Além disso, esperava-se uma perda de peso maior com a medicação e o observado foi uma estabilização na perda de peso após um tempo de tratamento.
No que diz respeito a tecnologia acredito que um grande avanço seja o Freestyle Libre desenvolvido pela Abbott, um novo sistema de monitoramento da glicose menos invasivo do que o que temos hoje com os glucosímetros.
https://www.abbottdiabetescare.com/press-room/2014/2014-e.html
Ele consiste em um pequeno sensor (resistente a água) redondo do tamanho de uma moeda grande que fica na parte traseira superior do braço e mede a cada minuto a glicose no fluido intersticial através de um filamento de 0,4 mm de largura e 5 mm de comprimento inserido sob a pele.
Com um varrimento indolor através de um outro equipamento eletrônico que lembra um pequeno celular pode-se obter a glicemia várias vezes ao dia por cima das próprias vestimentas (com mais discrição e praticidade).
A melhor notícia é que em breve estará aprovado no Brasil e a custos acessíveis. Ainda não está presente nos Estados Unidos.
Outra pesquisa interessante mostra a necrose da mucosa intestinal produzida por um procedimento cirúrgico endoscópico levando a melhora da hemoglobina glicada em pacientes diabéticos tipo dois. A tese levantada é de que o espessamento da mucosa do intestino delgado esteja envolvido na fisiopatologia do diabetes tipo dois.
Como obesidade está intimamente relacionada com diabetes, o estudo Scale analisou o uso de Liraglutide 3mg (Victoza) versus placebo em pacientes com sobrepeso e obesidade durante 56 semanas. O uso da droga mostrou maior perda de peso (6kg a mais) do que o placebo, entretanto a perda de peso não foi sustentada após 12 semanas de interrupção. Também houve um efeito transitório na glicemia pós prandial (que voltou a subir com interrupção do medicamento) e não houve hipoglicemias ou aumento de casos de carcinoma de pâncreas ou pancreatite que são efeitos temidos pelos médicos.
Esse medicamento deve ser liberado para uso em obesos após esses estudos.
Os avanços com uso do Liraglutide, no meu ponto de vista, virão com a nova associação com uma insulina basal chamada Degludec (Tresiba) o que promete menor ganho de peso, menor dose de insulina utilizada e menor incidência de hipoglicemias. Ainda não disponível no Brasil.
O uso dos agonista de GLP1 semanal ao invés de diário também é um avanço importante. A droga se chama Dulaglutida e deve ser lançada pelo laboratório Lily. O estudo AWARD-6 mostrou eficácia similar e mesmos efeitos colaterais dos agonistas de GLP1 usados de forma diária.
As palestras sobre neuropatia diabética também impressionaram pela mudança na ótica da fisiopatologia da doença, nas conseqüências da doença e na forma de tratamento que deve estar presente em um novo consenso em breve.
O autor mostrou que ao contrário do que se acreditava a neuropatia surge de forma precoce e não atinge apenas os nervos periféricos, mas também reduz a massa cinzenta do cérebro (acometendo o sistema nervoso central).
Os mesmos fatores de risco cardiovasculares estão atrelados ao desenvolvimento da neuropatia diabética: dislipidemia, hipertensão arterial e obesidade. Ou seja, tratar os fatores de risco cardiovasculares é prevenir amputações de membros.
Novas drogas, como o pepitídeo C, estão sendo desenvolvidas e o ácido tióico será usado em breve como prevenção da neuropatia e não só tratamento. O tratamento terá sempre abordagem multifatorial como controle glicêmico, controle do peso e dos fatores de risco cardiovasculares, mas as drogas estão mudando o rumo do tratamento da neuropatia.
O diabetes gestacional teve seu lugar em um grupo dinamarquês que mostrou a relação do ganho de peso da gestante diabética e com sobrepeso ou obesidade com o peso do feto e as complicações clínicas e obstétricas gerada a partir de então. Esse grupo propõe um ganho de peso menor: gestantes de peso normal devem ganhar 100g/semana até a 20ª semana de gestação e 400g/semana na segunda metade da gestação. Gestantes com sobrepeso ganhariam 100g/semana até a 20ª semana e na segunda metade apenas 300g/semana e as obesas ganhariam apenas 100g/semana nas primeiras 20 semanas e depois 200g/semana. Ainda é necessário consenso, mas o trabalho é promissor e deve acrescentar a conduta do obstetra, nutricionista e endocrinologista.
Enfim, para fechar o congresso fizemos uma retrospectiva de todos os avanços desde a sua descoberta. É impressionante o quanto o conhecimento a respeito de diabetes desabrochou. A sensação é de estarmos longe do fim que seria a cura definitiva, mas estamos otimistas, pois muito do caminho já foi trilhado. É preciso confiar nos pesquisadores e profissionais que dedicam a vida em prol da luta e do sofrimento dos pacientes diabéticos.