(Foto: arquivo família) Já se passaram oito anos e ainda não encontrei uma palavra para descrever a estupidez da morte do perito Dr. José Rodrigues de Souza. Parece que a bala que lhe tirou vida, na fatídica manhã do dia 29/05/2007, pegou também  em algum lugar em  aqui no meu peito.  Encontrava-me no trabalho,  quando recebi o baque da trágica notícia de sua morte. Não entendi no momento, não acreditei depois, e estou até hoje estarrecido com o ato de barbaridade.

Pela manhã, cada humano pensante, sai de sua casa com um script preposto  na mente. E assim, em nosso ritual frenético, cruzamos uns pelos outros  por  ruas, calçadas e praças, como seres estranhos. Passa por nós loucos vestidos de  santos e santos vestidos de louco.Vai saber quem é quem?  Em casa, na rua, no trabalho, na escola, no lazer, não vivemos em segurança.  Seria o caso de perguntar, esse que passou por mim,  tanto poderá  ser  uma vítima  quanto  o autor de uma ato de violência.  Infelizmente não temos este poder de saber. Qual será a próxima vitima?

Dr José Rodrigues de Souza, tenho certeza, impecavelmente vestido de branco, o negro bigode, bem aparado, saiu de casa com  o seu melhor sorriso para cumprir mais uma agenda de trabalho. Era extremamente dedicado  ao  que empreendia. Seja como vereador, presidente da Câmara Municipal, ou médico pediatra bem requisitado que era.   Alguns  meses  antes, passei por ele no corredor  de um dos hospitais da cidade, e brinquei, "Ué Doutor, não lhe avisaram que hoje é domingo, não?" Era um domingo a tarde, bem na hora das transmissões de futebol na TV, ele sorriu, e respondeu que era a profissão que  escolhera e que amava.  Trocamos mais algumas amenidades, éramos companheiros de partido, nos despedimos, claro, na certeza de um novo encontro, que não sei de onde a gente a retira esta certeza em cada despedia. Penso muito nisto agora.

Por outro lado a  perversidade começa a dar os primeiros passos. O ex-funcionário da Prefeitura de Patrocínio, Manoel Rodrigues (60 anos), havia perdido  o benefício  previdenciário  pelos critérios de uma junta médica do INSS. Deixou uma profunda raiva armazenada, no peito se tornar,  ódio. Maquinou o mal e como se dá em todo este processo,  perdeu a lucidez. Tomou a decisão mais errada de sua vida. Armado com um pedaço de ferro pontiagudo, o qual escondeu por dentro da calça. Era seu ‘plano bê’ para ser usado, caso  o   velho revólver calibre 32, que levava, para  o ato trágico, falhasse. Seguiu para a agência local da Previdência Social. No trajeto, cruzou  o coração da cidade, certamente passando  por inúmeras pessoas. Ninguém imaginava o desejo obsessivo que  ia no seu íntimo. "Ia fazer justiça". “Ia se vingar”..Imagina, cometendo  uma barbaridade sem proporção...

No instante em que fora assassinado, Dr José Rodrigues, pesquisava na internet a palavra “PERVERSIDADE”...

“O INIMIGO DO TOURO, NÃO  É A CAPA”

Manoel Rodrigues,  percorria,   a realidade  de milhares de pessoas em todo o país. No caso em questão, após anos de trabalho, como gari na Prefeitura Municipal de Patrocínio, acometido por várias doenças, inclusive neurológicas e cardíacas, ele requereu o auxílio-doença, a que, supostamente teria  direito no INSS. Diz um adágio que “O INIMIGO DO TOURO, NÃO  É A CAPA SOBRE A QUAL INVESTE. È O TOUREIRO”. Dr José Rodrigues cumpria, rigorosamente a sua função de acordo com o  sistema. Ao receber a negativa de sua solicitação, de acordo com a política do INSS, o requerente, ao invés de buscar os trâmites normais, para reaver seu suposto direito, reagiu da forma  mais trágica, hedionda e reprovável...

FOGO DE PALHA

O Brasil se mobilizou no dia do ocorrido trágico. O Ministro da Previdência, da época, Luiz Marinho, deslocou-se para Patrocínio, veio para o sepultamento, tentando ‘colocar trancas na porta já arrombada’. Oito  anos depois, o que mudou? Perito do INSS em Patrocínio e no país, é hoje uma profissão com mais segurança? Pode acreditar que não. O Governo articula uma reforma na Previdência, escreva lá. Vai instituir besteiras, das quais, infelizmente,  os Médicos Peritos, serão para raios humanos. 

"POLÍCIA PRENDE, AS LEIS SOLTAM"

E para quem esperava 20,30, 40 anos de cadeia para o assassino pela gravidade do crime. Os advogados de Manoel alegaram na época que "ele agiu sobre forte emoção, depois de ter sido humilhado. " Foi condenado há 14 anos e dois meses, em regime fechado. Mas, logo noticiários na imprensa davam conta de que já se encontrava solto. Tudo dentro da maléfica rotina: "A POLÍCIA PRENDE, AS LEIS SOLTAM".Teria, inclusive voltado á mesma agência, para requerer a sua aposentodoria e fez novas ameaças...

INESQUECÍVEL DR. JOSÉ RODRIGUES DE SOUZA

Resta-nos acalentar as lembranças daquele que viveu dignamente para a família, a comunidade e o trabalho. Difícil uma criança nascida nos últimos 20 anos em Patrocínio, que não tivesse tido seus cuidados pediátricos. Político bom de votos. 1320,  votos na eleição de 1992, para o Legislativo Municipal, diz tudo. Lembro-me bem seu slogan na presidência da Câmara era: “Independência, com dignidade, harmonia sem subserviência”.Criou o projeto que elogiamos muito na época :“Câmara nos Bairros” . Sem deixar de mencionar o projeto “Grande Medalha da Ordem do Mérito Legislativo” até, hoje, uma espécie de “Nobel da Paz Rangeliano”, um evento de grande relevância na comunidade. “Perversidade” seria Patrocínio esquecer, Dr José Rodrigues. Deleito, no entanto,  em saber que sua  memória permanece viva.

HOMENAGEM JUSTA...

(Foto: Ascom- PMP) Oito anos depois do fatídico acontecimento, neste 15 de Maio de 2015,  a administração municipal  tirou do papel, uma obra relevante. Inaugurou a nova Unidade Básica de Saúde do Bairro Marciano Brandão, com uma belíssima estrutura, a qual eterniza o nome de “Dr. José Rodrigues de Souza” . A solenidade de inaugurção da obra deu-se com a presença emocionada de sua familia, (Esposa, Oneide Sucupira, os filhos Leonardo e Patrícia, o genro Matheus e os netos José Rodrigues e Antônio Rodrigues) amigos e antigos companheiros de trabalho...Justa homenagem.