31 de Outubro de 2015 às 11:17

O Dia D

"Escreva minha filha, escreva. Quando estiver entediada, nostálgica, desocupada, neutra, escreva. (...)" Assim Drummond aconselhou sua filha Maria Julieta...Aliás, faleceu,12 dias depois da morte desta filha...

“Grande poeta universal do Brasil”, na definição do também mineiro Otto Lara Resende, Drummond, que se declarava jornalista acima de tudo, não foi menor na crônica, gênero a que se dedicou ao longo de toda a sua vida de poeta. Carlos Drummond de Andrade nasceu em 31 de outubro de 1902, em Itabira do Mato Dentro (MG), região da maior reserva de minério de ferro do mundo, nono filho do fazendeiro Carlos de Paula Andrade e de Julieta Augusta Drummond de Andrade. Menino introvertido e míope, fez os primeiros estudos na cidade natal e, em 1920, quando a família se mudou para a capital Belo Horizonte, o jovem de então 18 anos logo procurou o Diário de Minas, para o qual começou a colaborar no ano seguinte. Ali conheceu seus grandes amigos do futuro: os poetas Abgar Renault e Emílio Moura, os escritores Aníbal Machado e João Alphonsus e outros.

Ainda que já sentisse o apelo da literatura, matriculou-se na Escola de Farmácia e chegou a colar grau em 1925, ano em que se casou com Dolores Dutra de Morais. Se já dera dois passos importantes nesse ano, empenhou-se em nova empreitada: juntou-se a mais três amigos e fundou A Revista, órgão oficial do modernismo mineiro que, nos seus três números, estampou os grandes nomes do movimento literário de 1922. A todas essas conquistas se somaria talvez a maior alegria da vida de Drummond: o nascimento, em 1928, de sua filha Maria Julieta Drummond de Andrade, a quem ele devotaria não só o amor de pai, mas também a admiração pela inteligência e por seu talento literário, o que fez da relação entre os dois uma troca excepcionalmente preciosa. Muito das conversas de toda uma geração no Café Estrela, de Belo Horizonte, e uma certa flânerie de Drummond pela cidade forjaram o poeta de Alguma poesia, de 1930, seu livro de estreia, quando o modernismo já estava consolidado. Depois veio Brejo das almas, de 1934, livro em que, como no primeiro, o poeta ainda se revela contido nas emoções.

No mesmo ano, Drummond transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro, onde assumiu a chefia do gabinete do ministro da Educação e Saúde Pública, seu amigo Gustavo Capanema. Dessa forma o poeta começou vida na antiga capital do país, onde ficaria até morrer. Em 1940, com o lançamento da pequena edição deSentimento do mundo, de apenas 150 exemplares, é que o poeta se mostra inteiro, liberto da censura emocional. Otto Lara Resende, no artigo intitulado “Segunda mão”, diz que “ninguém faz ideia do que significava possuir um exemplar dessas bíblias do lirismo itabirano. […] Ver, assim que ela apareceu, era um privilégio. Um deslumbramento”. Deslumbramento que se repetiria outras vezes, com outros livros, como em 1945, com a publicação de A rosa do povo. Drummond colaborava no suplemento literário dos jornais cariocas A ManhãCorreio da Manhã e Folha Carioca. Exerceu muitas outras atividades em órgãos federais, como a Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, onde trabalhou com Rodrigo Melo Franco de Andrade. Ali se tornaria chefe da Seção de História, na Divisão de Estudos e Tombamento, para só sair em 1962, aposentado.

Coerente nas suas escolhas, podia ficar pouco tempo em um cargo, como aconteceu em 1945, quando, a convite de Luís Carlos Prestes, assumiu a coeditoria do diário comunista Tribuna Popular. Na Comissão de Literatura, do Conselho Nacional de Cultura, a qual foi convidado a integrar pelo então presidente Jânio Quadros, em 1961, não ficou além das primeiras reuniões. Era, no entanto, de duradoura fidelidade quando em sintonia com o trabalho que abraçava. Desse modo, colaborou durante 15 anos, aos domingos, no Correio da Manhã, para só sair em 1969, ano em que passou a escrever no Jornal do Brasil. Só em 1984 abandonaria o JB, ao encerrar sua carreira de cronista. A produção poética de Drummond, reunida na Obra completa, de 1964, correu paralela à de cronista, publicada em livro pela primeira vez em Confissões de Minas, de 1944. Ele escreveu durante 64 anos uma prosa de altíssima qualidade literária que o coloca entre os mestres, não só pela agilidade e leveza próprias ao gênero, como pela impressionante variedade temática de que tratou. Fosse como poeta, cronista, tradutor, autor ou missivista, não deixou de organizar metódica e cuidadosamente sua produção intelectual, assim como não negligenciou cuidados com os documentos de sua vida de autor, pai ou cidadão. Arquivista nato, bibliotecário intuitivo, seu pequeno arquivo de natureza mais pessoal e sua biblioteca de cerca de 4 mil volumes, sob a guarda do Instituto Moreira Salles desde fevereiro de 2011, revelam muito da personalidade e do talento desse artista que estranhamente foi também um burocrata feroz.

Entre as incontáveis honrarias que recebeu em vida, Drummond foi exaltado até mesmo no carnaval carioca, quando em 1987 a Estação Primeira de Mangueira o homenageou com o enredo “O reino das palavras” e ganhou o campeonato. A alegria do poeta não foi integral, porque naquele momento sua filha, Maria Julieta, já sofria de doença que a levaria à morte no dia 5 de agosto de 1987.

Carlos Drummond de Andrade morreu no dia 17 de agosto de 1987, no Rio de Janeiro, 12 dias depois da morte de Maria Julieta.

 

O "Dia D – Dia Drummond" foi lançado em 2011 pelo IMS com o objetivo de fazer com que o dia 31 de outubro, data do nascimento do grande poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), seja comemorado e faça parte do calendário cultural do país.

(Com emoção a  atriz e diretora teatral Marília Pêra lê aqui  um poema de Carlos Drummond de Andrade.Arquivo IMS):