25 de Julho de 2015 às 10:14

O Melhor Amigo do Homem...

Tenha cachorro, sim! Um, muitos! E cuide bem deles: Mas, o amigo de verdade do homem chama-se: LIVRO...

Logo que fui alfabetizado, ainda em minha Barra do Salitre, onde a montanha encontra o céu,  saí compulsivamente escrevendo o meu nome a carvão nas paredes e portais da casa. Fiquei  fissurado e não demorei  para tomar posse dos livros de meu Vô  Benedito.  Fui soletrando, lendo e relendo os clássicos da doutrina espírita, fábulas de Esopo, aritmética e gramática. Por favor,  virgula aqui, não vou passar uma imagem de que meu avô era alguma espécie de  ‘intelectual.’  Ele usava botina, morava na roça e tinha o mínino de escolaridade. Sei lá, acho que, segundo, terceiro, “de grupo”. Quando adoeceu para a morte, já morávamos na cidade, mas precisamente no “Fundão da Matriz”, era alma simples mesmo (inclusive, capinava um quintal naquela tarde fatídica, quando a carruagem  com destino a  terra azul, passou) A  imagem nítida que tenho dele, é que sempre  ao final da tarde, colocava seus óculos de aro  preto  e  grossas  lentes e mergulhava em alguma leitura. Entre uma brincadeira e outra, olhava de longe,  achando aquela  cena o  máximo. Meu vovô, lendo!  Batia-me  um orgulho gostoso!  Essa passagem , o tempo jamais varrerá de minha retina. Lembrando, aqui, Mário Quintana:" Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem". Quem lê, logo...

Herdei de meu avô, portanto, essa paixão por livros. Hoje, depois da Igreja, que é a Casa de Deus, o lugar mais adorável e encantador que  qualifico é uma Biblioteca  e/ou  Livraria. Quando viajo para qualquer cidade, logo procuro conhecer seu cartão de visita, que pra mim, é a Biblioteca Pública local, onde passo algumas horas deliciosas, até mesmo conhecendo curiosidades históricas  da cidade a qual visito. Sabe onde fica a Biblioteca Pública de Patrocínio? Uma dica: Não é no centro da cidade.(Mas, creio que  deveria ser)

O vírus do amor aos livros... Enquanto papai e sua alma zíngara, adorava “cuidar de criações”, invernadas verdes, um ‘Picasso’ bom de sela e um chapéu ramenzoni  cinza, só achei  graça  no mundo da  leitura e da escrita. E, se,”ler”- diz o pai do  Menino Maluquinho - “ é mais importante do que estudar”, levei o dito ao pé  da letra. Durante um rico período em minha juventude, usava uma bolsa  tiracolo de  couro. (pra seu governo, objeto que ainda curto) O que eu levava naquela bolsa? Alguém  olhando, não deixava por menos, dizia ser  aquilo, ‘coisa de boiola.’ Outros pilheriavam  insinuando  que portava  uns  trecos para o tal “pito de Bob Marley”. Não me Polpavam.  Eram um ou dois  exemplares - alguns alocados  na  Biblioteca Pública - para ser lidos em algum recanto  aconchegante.  E um bloco de anotações, com uma esferográfica  bico fino, s.o.l.a.m.e.n.te.  Ou...foram as melhores companhias em toda minha vida.

Bibliotecas e livrarias são mesmo lugares divinais. Que fascínio!  Como me esquecer, da última vez  em que estive na Biblioteca  Pública de Patrocínio, fui recebido pelas atendentes como se tivesse algum título de nobreza. Não que eu fosse especial,  é  de praxe receber bem ali  os visitantes. Mas, senti-me em casa como nos anos 70/80.  E, coisa de um ano, entrei numa livraria...Saraiva, (vai o mechan)... naquele momento, logo na entrada, fui tomado por uma emoção  daquelas de turvar os olhos. Era  como se adentrasse a um local paradisíaco. Gente de todas as faixas etárias, se cruzando  cadenciadamente no recinto, como  se praticassem  um ritual sagrado. (E comprar livros é um ritual sagrado)  Vislumbrei  o  espaço com  vastas opções,  livros  a perder de vistas, music hall, contação de histórias,  seção de CDs, DVs e vídeos, acesso à internet. Absorto  observei  as  pessoas saírem  do  local, com um riso no olhar, abraçadas  aos seus   tesouros  escolhidos a dedos. Mas,  convenhamos,  esta  foi  uma  mera  visão  êxtática  que tive no aconchego de uma livraria. No  dorso da rua, no chão duro da vida,  a realidade é bem outra. È por isto que, como se diz lá na comuna de uma  rede social: “ Eu quero morar numa livraria” (ou biblioteca)

Pesquisas realizadas por organismos internacionais sempre colocam o Brasil entre os países que menos consomem livros no mundo, atrás dos Estados Unidos, Cuba, Canadá, países europeus, asiáticos e vizinhos sul-americanos. Por essas e outras, a afirmação de que o brasileiro não gosta de ler virou lugar-comum. No entanto, o tema exige reflexão. Afinal de contas o brasileiro não lê por que não tem acesso aos livros ou por que não se sente convencido da importância da leitura para sua formação?

Particularmente, não   nutro  tanta esperança em mudanças neste quadro sombrio. Há um fenômeno social em curso, onde tudo é fragmentado e distribuído em tribos. Por exemplo, quem ama a literatura, pertencerá  estritamente  a  esta “tribo”. Os demais, olhando de longe,   trocarão murmúrios ao pé do ouvido, tipo: “Lá vai um “Nerd”.   Quando na realidade deveriam dizer “ Lá vai um ser humano que pensa, lê e usa o cérebro”.

 É  triste constatar que,  de certa forma,   o livro impresso caiu de moda. Ainda  há  pouco, uma estante na sala de estar das casas  era símbolo de status social. Era decorativo, chic - e cá pra nós, além da fonte de cultura, era mesmo a  imagem  mais linda dô  m.u.n.d.o.  È... mas  repare   você mesmo nas casas em que visitar...Os livros foram expulsos das salas. Até Veloso,  Caetaneou:  “Os livros na estante Já não tem mais tanta importância, do muito que eu li, do pouco que eu sei , nada me resta”. Hoje, essas estantes foram substituídas por racks sofisticados e os símbolos de status, são  a televisão de plasma ou LCD,  o  computador e o Home Theater . O visitante precisa ver que alí está uma  família que pode ter  produtos  típicos da “classe A”.  Expulsaram das  estantes, os livros. Em certas casas, ele foram parar no lixo.

Agora, depois de quase 600 anos de existência do livro, apareceu em nosso tempo, os mequetrefezinhos por nome  e-books,  plataformas para leituras em tablets, com a missão de desbancar o livro impresso. Nada contra, são revolucionárias técnicas experimentais de leitura,   a máxima Latina, contudo aconselha. "Abundans cautela non nocet" -Cautela e caldo de galinha nunca faz mal a ninguém -  Há bem mais de cem anos, Olavo Bilac, cismava em um texto: “O livro está morrendo, justamente porque já pouca gente pode consagrar um dia todo, ou ainda uma hora toda, à leitura de cem páginas impressas sobre o mesmo assumpto”.  Hoje estão  dizendo a meesma coisa, será se justo a minha, será a geração”livrocida”?

Trago uma certeza!  Você que  olha para o livro (impresso) com o rabo do olho, não concebeu nem de longe a sua grandeza e importância. E não é somente fonte de conhecimento, a  leitura é um tapete mágico que nos conduz a lugares inimagináveis.  Sem um puto no bolso, apenas com um livro, quanto  muito um chá/fé/vinho, para regar a leitura,  você pode ir lá no Sitio do Pica Pau Amarelo, comer os divinos  quitutes de Tia Anastásia Com um livro, você vai com o Carmelitano Mário Palmérioconhecer a lúxuria da fauna e da flora na sua “Vila dos Confins”. Pode visitar Itaguaí e ter o privilégio de ser internado  na clínica do  Dr. Simão Bacamarte; Com um livro, se apanhar o endereço com o amigo do rei, Manuel Bandeira, pode ir para Pasárgada; Com um livro, um anel  mágico e  um guarda roupa- vazio, você vai a Nárnia, conversar com os animais ferozes;  com um livro, você, vai com  um grupo de privilegiados á  Shangri-La, nas montanhas do Himalaia; Com um livro e olhos espirituais, você se vê de cabelo em pé  na cidadezinha de  Ashton, através  d/“Este Mundo Tenebroso”. Somente  via  livro você  se verá  na incrível “Macondo”,  de Gabriel Garcia Marquezou, se envolverá  nas “Mil e Uma Noites”  de Sherazade...

 O livro tem o poder de triturar corações de pedras. Quem não se emocionou e chorou litros com os romances de  Riobaldo e Diadorim;  Bentinho e Capitu;  Clarissa e Vasco; Tristão e Isolda;  Romeu e Julieta;  Ceci e Peri; Dom Quixote e Dulcinéia; Werther e  Charlotte; José Saramago e Pilar Del Rio...Muitos destes romances foram parar no cinema, ora, mas você mesmo já ouviu a frase: "O livro  é  bem melhor do que o filme” .Sempre.

Entretanto,  nesta apologia ao livro, não aceito sobre mim a pecha de ‘intelectual.’ “Eu sigo apenas porque eu gosto de ‘escrevler’”. Gosto,  prazer, fetice. Fui um rato de biblioteca, sim,  tomado de carinho pelos  livros, mas, ainda não  li absurdamente  nada, nada do que gostaria. Sou um leitor frustrado isto, sim. Hoje tento driblar o cansaço crônico do trabalho, dividindo  o tempo parco entre ler e escrever. Ao escrever,  minha motivação vem somente  do meu senso de cidadania,  de meu  fascínio pela a literatura, minha queda pelo jornalismo literário, e a  presunção quixotesca de  que posso contribuir com a promoção da ética e da dignidade humana  neste  planeta. E por que não dizer que  meu fogo interior,  se nutre  do  amor por minha terra natal; uma  vontade indômita de que  nossos patrícios, ao invés de se aniquilarem  em rinhas, se  respeitem  e o bem coletivo triunfe...

Não sei explicar, a presença dos   livros  me acalma. Ao  pé da cama, 15 títulos selecionados me esperam. Amuleto? Totem? Há noites em  que somente, acaricio-lhes, e eles  logo ninam -me a alma.

Confesso que gostaria de ter uma "casinha de livros". Para isto, vou contando com a generosidade dos amigos. Imagine! O amigo, Rondes Machado, já me presenteou ao longos  de alguns anos com cerca  de 300 exemplares. Logo que seu irmão Lincoln, faleceu, os irmãos Lia e Rondes, generosamente se lembraram de  mim: Não tem pessoa melhor para herdar os seus livros”. E descobri que as pessoas, atualmente, ao desfazem de suas estantes,  jogam  excelentes livros  no lixo. Alguns dos catadores de papéis para reciclagem,  nna cidade, são meus amigos. Graças a eles, (ao Sr Leocádio, do Bairro Santa Terezinha, principalmente) de vez em quando, alguns exemplares destinados ao descarte, vão parar em minha parca coleção.

Amigos dos amigos. "É claro que meus filhos terão computadores, mas antes terão livros."
Palavras de quem? De quem? Não entendi. De quem?... Magnata e fundador  da Microsoft , Bill Gates. Alguém, aí tem cacife para rebatê-lo?

E, Jorge Luis Borges, Poeta Argentino, com as declarações de amor aos livros mais tocante que já se ouviu... Ele era cego:

"Continuo fingindo não ser cego; continuo comprando livros, continuo enchendo minha casa de livros. Há poucos dias fui presenteado com uma edição de 1966 (ele escreveu isso em 1978) da Enciclopédia Brockhaus. Senti a presença dessa obra em minha casa; eu a senti como uma espécie de felicidade. Aí estavam os vinte e tantos volumes, com uma letra gótica que não posso ler, com mapas e gravuras que não posso ver; e, no entanto, o livro estava aí. Eu sentia como que uma gravitação amistosa do livro. Penso que o livro é uma das possibilidades de felicidade que temos, nós, os homens".

Tenha cachorro, sim! Um, muitos! E  cuide bem deles:   Mas, o amigo de verdade do homem, chama-se: LIVRO. (texto publicado, parcialmente, na  Antologia dos Autores Patrocinense)

"Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil.."