30 de Novembro de 2014 às 17:07

O Perigo da Automedicação:

“De médico e louco cada um tem um pouco”

 

Quem nunca tomou medicamentos por conta própria ou experimentou o remédio que foi bom para o amigo? Quem nunca chegou ao balcão da farmácia e escolheu comprimidos porque o vizinho disse que resolveu a gripe dele?

 

Esse é um hábito corriqueiro em nosso país, entretanto uma prática perigosa que pode colocar a saúde e a vida do paciente em risco.

 

O Sistema Nacional de Intoxicações Tóxico-Farmacológicas da Fundação Oswaldo Cruz fornece dados que mostram que no ano de 2006 foram registrados 112.760 casos de intoxicação humana com 511 óbitos. Desses 34.582 foram devidos à intoxicação por medicamentos e geraram 106 óbitos.

 

Segundo o mesmo instituto os medicamentos foram responsáveis por 28% de todas as notificações de intoxicação em 2003.

 

Os analgésicos, os antitérmicos e antiinflamatórios representam a classe que mais intoxicam.

 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem estatísticas que mostram que em todo o mundo mais de 50% dos medicamentos são receitados de forma inadequada e os mesmos 50% tomam medicamentos de forma incorreta.

 

Muitas vezes a automedicação é vista como uma solução rápida e simples frente a um sistema de saúde falho onde a maioria das pessoas necessita enfrentar filas e aguardar por horas para serem medicados de forma correta e eficaz.

 

Segundo a OMS o uso racional de Medicamentos é quando o paciente recebe medicamentos apropriados às suas necessidades clínicas, em doses e períodos adequados às particularidades individuais, com baixo custo para ele e para comunidade.

 

De acordo com a IMS Health o item mais comercializado em 2012 foi o descongestionante nasal Neosoro que pode agravar hipertensão arterial, arritmias cardíacas e disfunções cardíacas.

 

Os dez medicamentos mais comercializados sem receita médica, ou seja, por automedicação:

 

- Neosoro;

- Puran T4 (hormônio tireioidiano levotiroxina sódica),

- Salonpas (analgésico e anti-inflamatório salicilato de metila),

- Ciclo 21 (anticoncepcional, genérico etinilestradiol + levonorgestrel),

- Microvlar (anticoncepcional, etinilestradiol + levonorgestrel),

- Buscopan Composto (analgésico e antiespasmódico, escopolamina),

- Rivotril (anticonvulsivante e ansiolítico, clonazepam),

- Dorflex (analgésico, cipirona ou orfenadrina),

- Glifage (antidiabético metformina),

- Hipoglós (pomada para assaduras).

 

Ainda são bastante comercializados:

 

- Neosaldina (combinação de mucato de isometepteno, dipirona e cafeína, utilizada no alívio das dores de cabeça),

- Cialis (disfunção erétil, tadalafila),

- Dipirona sódica (analgésico e eficaz na febre) e

- Metoclopramida (náuseas e vômitos).

 

Os medicamentos para perda de peso também estão na lista dos medicamentos mais consumidos sem receitas médicas. As mulheres em geral são consumidoras em potencial desse tipo de medicamentos. Esquece-se que a obesidade está em crescimento devido à oferta de alimentos processados, ao estresse e ao sedentarismo.

 

O uso de “emagrecedores” por conta própria pode trazer efeitos colaterais como arritimias cardíacas, depressão, psicose, diarréia, flatulência e dores abdominais.

 

A medicação por conta própria é um dos exemplos de uso indevido de remédios e considerado um problema de saúde pública no Brasil e no mundo.

 

Tipos de Uso Irracional de Medicamentos:

 

  • Uso abusivo de medicamentos (polimedicação);
  • Uso inadequado de medicamentos antimicrobianos, freqüentemente em doses incorretas ou para infecções não-bacterianas;
  • Uso excessivo de injetáveis nos casos em que seriam mais adequadas formas farmacêuticas orais;
  • Prescrição em desacordo com as diretrizes clínicas;
  • Automedicação inadequada, frequentemente com medicamento que requer prescrição médica.

 

É muito comum o paciente diante de uma infecção de garganta solicitar ao balconista da farmácia vários tipos de anti gripal, medicamentos que contém na maioria das vezes as mesmas substâncias. Isso pode acarretar uma dose excessiva acima da dose de segurança e conseqüentemente uma intoxicação.

 

A polimedicação, ou seja, o uso de vários medicamentos distintos pode gerar combinações inadequadas e um medicamento pode anular o efeito de outro ou mesmo potencializar causando sérios danos à saúde.

 

Também é muito comum a solicitação de antibióticos como Amoxacilina em quadros de infecção de garganta. Paciente informa que todas as vezes ele toma o mesmo remédio e funciona. Porém, a maioria dessas infecções são virais e não requerem uso de antimicrobianos. Outras vezes a dose do remédio usado por conta própria é inadequada e promove apenas uma resistência bacteriana, ou seja, quando houver real necessidade do antibiótico o mesmo não terá eficácia esperada.

 

Outro problema gerado aqui é que muitas vezes o medicamento prescrito antes pode já não surtir o mesmo efeito em uma nova situação que é apenas semelhante a anterior. Sintomas iguais podem ter causas diferentes.

 

Outra “lenda urbana” está no fato de que medicamentos injetáveis funcionam melhor do que os por via oral, assim o paciente adentra a farmácia logo solicitando um “coquetel injetável” para aliviar seus sintomas. Essa conduta é muito perigosa e pode causar reações alérgicas intensas com anafilaxia e morte ou mesmo inflamações como as flebites e celulites. Existem diretrizes clínicas para uso de medicamentos injetáveis e por via oral, por isso um médico deve ser consultado.

 

A automedicação também pode levar a erros diagnósticos quando o paciente faz uso de um medicamento que alivia um sintoma ou sinal importante para que o médico saiba qual doença que está se instalando. Isso retarda o uso de terapêutica adequada e compromete de forma importante a vida do paciente. Ou seja, a automedicação mascara a verdadeira doença.

 

Outro ponto de vista importante é que automedicação pode causar dependência química quando o paciente se utiliza de medicamentos tarja preta por conta própria.

 

Assim, é importante que se tenha a consciência de que os medicamentos são a principal causa de intoxicação no Brasil. Estão à frente de produtos de limpeza, agrotóxicos e alimentos estragados.

 

Boa parte desses acidentes acontecem pela automedicação sem avaliação adequada e prévia de um médico.

 

O uso irracional de medicamentos pode agravar doenças, comprometer eficácia de tratamentos, esconder sintomas e gerar resistência bacteriana.

 

A orientação do Minsitério da Saúde é que sempre procure um médico ao desconfiar de qualquer problema de saúde. Evite recomendações de vizinhos, amigos, parentes ou mesmo balconistas de farmácias e drogarias.

 

Os medicamentos devem ser guardados longe do alcance das crianças e dos animais domésticos para evitar ingestão acidental de medicamentos.

 

Se for detectado algum problema com o uso de medicamentos o paciente pode entrar em contato com Disque Intoxicação da Anvisa pelo telefone 08007226001 e buscar ajuda médica o mais rápido possível, levando sempre o medicamento usado e sua bula.

 

A automedicação, na maioria das vezes, é perigosa, mesmo em se tratando de medicamentos considerados de pouco risco e vendidos do lado de fora do balcão da farmácia. É preciso que se tenha cautela.  Há uma falsa sensação de segurança na disposição desses medicamentos, mas fármacos são drogas e agem em vários sistemas do organismo.

 

Muitas vezes é necessário abandonar a máxima: de médico e louco cada um tem um pouco. E conscientizar-se de que com saúde e vida na maioria das vezes não temos uma segunda chance. A máxima será então não abusar da automedicação.

 

Obs: todas as fotos são ilustrativas e retiradas de sites da internet.