A Igreja Matriz de São Domingos, cartão postal de Araxá, está em obras. A reforma que garantirá a preservação deste patrimônio é promovida pela Fundação Cultural Acia (Facia) e tem o patrocínio da CBMM, através da Lei de Incentivo à Cultura.
Mais que um prédio que tem valor cultural e religioso inegável, a Igreja também fala muito sobre a história de Araxá. Em entrevista, Glaura Teixeira, historiadora, pesquisadora, escritora e professora aposentada do Departamento de História da UFTM contextualiza o momento da construção deste bem e explica como ele retrata a fé, a urbanização e a cultura da cidade ontem e hoje.
Confira:
Em qual contexto surge a ideia da obra da Igreja Matriz de São Domingos?
A obra está inserida em um contexto amplo de modernização das nossas cidades, inspirado em modelos de outros países ocidentais. Nosso centro urbano passou, então, por intensa transformação. Igrejas menores já existentes (inclusive a antiga Matriz) foram demolidas a despeito, infelizmente, de representarem um passado colonial visto como “velho”. Deram lugar a espaços mais amplos e a uma “bela e moderna” Matriz, a de São Domingos.
Por que a obra demorou tanto para ser concluída?
Em razão da grande reforma urbana da qual a Matriz fez parte, mas obviamente também pela escassez de recursos financeiros. Nesse sentido houve grande contribuição da população católica. A construção ocorreu entre 1911 e 1948. Tempo extenso e repleto de imprevistos próprios de uma obra dessa dimensão e nessas circunstâncias. Foi um desafio gigantesco. Pe. Emílio Philippini, vigário que esteve à frente da obra por longo tempo e a inaugurou, deixou registradas na documentação inúmeras expressões de Deo Gratias!
O que as obras de arte e a própria arquitetura da Igreja nos falam sobre o momento e a nossa religiosidade?
A arquitetura seguiu padrões expressivos da época e contou com profissionais gabaritados. Alguns vindos de fora. A exemplo, o artista Alberto Paulovich, autor das belas pinturas do teto no altar principal. A arte, a arquitetura, o mobiliário, os objetos sacros e os decorativos, presentes na nossa Matriz, revelam a imensa fé católica da população de Araxá durante os séculos. A religiosidade é um marco histórico e um manancial de elementos do nosso patrimônio cultural.
Na sua opinião, qual a importância deste bem para o nosso município?
A Igreja Matriz de São Domingos de Araxá é um bem que reúne significados, os mais diversos. Do catolicismo à urbanização, da arte à cultura, dos costumes às ideias que construíram nossa sociedade. Preservá-la com todo zelo e técnica é respeitar o passado e os homens e mulheres que nos antecederam. É o mínimo que devemos fazer para proteger e manter sólido nosso patrimônio histórico-cultural.