7 de Janeiro de 2016 às 11:28

Perspectiva 2016: Café teve ano positivo para produtor e o tamanho da próxima safra brasileira é a grande expectativa do mercado

O dólar foi o elemento de destaque no ano no mercado internacional e brasileiro de café. Os futuros do café fecharam 2015 com um dos piores desempenhos dentre as commodities. Em Nova York, por exemplo, as cotações do arábica caíram 24%, enquanto o robusta

O dólar foi o elemento de destaque no ano no mercado internacional e brasileiro de café. Enquanto a Bolsa de Nova York para o café arábica se deteriorava, o dólar avançou forte e fez o contrabalanço positivo para as cotações no mercado físico interno.

O arábica em NY acumulou perdas no ano de 29% até esta última quarta-feira (23). O dólar, no mesmo período, somou ganhos de 49%. “A valorização externa junto à tensão política e econômica interna explicam a disparada da moeda estrangeira frente ao real”, destaca o analista de SAFRAS & Mercado, Gil Barabach. O dólar começou o ano cotado a R$ 2,66 e vai terminando 2015 em torno de R$ 3,97, atingindo pico no período de R$ 4,249.

“Lógico que esse movimento cambial abriu várias janelas de oportunidades para o vendedor, além de garantir preços mais firmes para o café na média do ano”, observou. No sul de Minas Gerais, por exemplo, o arábica duro com 15% de catação saiu de R$ 440 para terminar 2015 cotado a R$ 500 a saca de 60 kg. Alta de 14%, apesar do tombo na ICE.

Barabach comenta que o ano de 2015 também foi marcado por instabilidades climáticas, com excesso de chuva em alguns momentos e falta de umidade em outros. “O resultado foi outra safra brasileira abaixo do potencial produtivo e uma temporada com déficit na oferta global. Problemas na granação levaram a uma safra mais miúda, o que tornou mais raro as peneiras mais graúdas. Por isso, o Fine Cup no FOB exportação passou a ser negociado com prêmio (ágio sobre a cotação na ICE) e as bases de venda no porto ficaram mais firmes”, indicou o analista.

Em relação ao conilon, a quebra na safra de capixaba, junto a fortes exportações desses cafés, fizeram o preço subir bastante, ficando, inclusive, mais caro que o arábica de bebida mais fraca. “Muitas indústrias alteraram os seus blends, privilegiando a participação dos arábicas mais fracos. E isso ajudou na valorização desses cafés, especialmente a bebida rio. Bom para o produtor”, descreveu Barabach.

Para o analista, 2015 foi um ano de grande volatilidade nos preços, devido às incertezas financeiras e produtivas, com oferta mais curta e negociações compassadas. “E, no final, o saldo foi positivo para o produtor”, fez o balanço o analista.

Perspectiva 2016

O determinante para o mercado de café em 2016 é o tamanho da próxima safra brasileira. É grande a expectativa que o Brasil produza mais em 2016 do que produziu em 2015, especialmente de arábica, avalia Gil Barabach. Caso se confirme essa expectativa, isso vai permitir uma recuperação nos níveis de estoques e trazer mais tranquilidade ao abastecimento global, estima.

“Atenção aos primeiros meses de 2016. A oferta curta no ciclo 2015/16  e o elevado fluxo de vendas do Brasil na primeira metade da temporada deve reduzir a oferta nos primeiros meses de 2016. E a escassez interna tende a favorecer os diferenciais no FOB exportação e facilitar o descolamento positivo dos preços em relação a ICE. E isso pode abrir janelas de venda no disponível”, recomenda o analista.

De acordo com o analista, o movimento de alta do dólar emite alguns sinais de exaustão. A questão cambial deve continuar muito atrelada ao palco político e ao desenrolar do ajuste fiscal. Mas, o dólar, claramente, mostra dificuldade de ir muito além dos R$ 4,00, acredita. “Isso não quer dizer que vai subir mais, mas, talvez, o avanço, se ocorrer, tende a ser bem menos intenso se comparado a 2015”, pondera.

Por outro lado, se a situação política melhorar e a economia der alguns sinais positivos, há boas chances de correção, adverte o analista. E, nesse caso, o espaço para queda seria mais amplo, principalmente em um primeiro momento. “Então, cuidado com as apostas no dólar”, comenta.

Os futuros do café fecharam 2015 com um dos piores desempenhos dentre as commodities. Em Nova York, por exemplo, as cotações do arábica caíram 24%, enquanto o robusta teve declínio de 21% em Londres no período.

A queda no mercado, em grande parte, refletiu o declínio no valor da moeda das principais origens produtoras em relação ao dólar, como o Brasil e a Colômbia que abastecem grande parte da demanda mundial.

No entanto, o clima mais favorável ao desenvolvimento das lavouras em Minas Gerais – depois de um 2014 de forte seca –, e a recuperação contínua na produção colombiana após um programa de replantio no início da década, também influenciaram na desvalorização dos preços.

As exportações de café do Brasil continuam fortes, o que coloca à prova ideias baixistas para os investidores do país.

Mas será que os estoques do Brasil e outras fontes exportadoras serão, finalmente, mais baixos em 2016, dando suporte aos preços? Comentaristas de bancos especializados dão suas opiniões:


ABN Amro

"Nos próximos meses, novos dados sobre a safra brasileira irão determinar a direção dos preços".

"A demanda global por grãos de café subiu mais de 40% nos últimos 15 anos, enquanto a produção cresceu apenas 25%, de acordo com estatísticas da Organização Internacional do Café".

"O declínio nos níveis dos estoques significa que as oscilações na produção anual estão tendo um grande impacto sobre os preços".

"Além das expectativas nos embarques de café brasileiro, as atenções também se concentram na produção no Vietnã, Indonésia e Colômbia ".

"As exportações da Colômbia, o segundo maior produtor de arábica, na verdade, vem crescendo há vários anos, colhendo as recompensas de um programa de regeneração".

"Tendo em conta as condições climáticas, juntamente com os níveis de estoque apertado, prevemos um ligeiro aumento nos preços nos próximos meses".

"O potencial de crescimento, no entanto, é limitado, como qualquer rally é provável que seja apenas mais uma cobertura de posições vendidas. As commodities como um todo permanecem fora de moda e suprimidas pela força do dólar".

Citigroup

"A moeda dos países produtores latino-americanos mais fracas podem influenciar nos preços do café de várias formas: reforçando as margens dos produtores; impactando o plantio de rotação; e aumentando os volumes de exportação da cultura".

"Isso reflete bastante na relação inversa ano a ano com as alterações nas taxas de câmbio do dólar para o real, o peso colombiano e os futuros do arábica na ICE".

"Com essa certeza, nós antecipamos uma modesta fraqueza para os preços do café em relação aos níveis atuais, dada a já acentuada liquidação em 2015. Embora se espere uma força ainda maior do dólar, é improvável que se tenha uma desvalorização do peso colombiano e do real na mesma escala vista em 2015".

"Com potencial de moderação na moeda, os preços do café podem começar 2016 estabilizados".

"O mercado poderia ter ainda mais suporte com preços mais baixos para os produtores na América Central, o que reduz a margem de lucro, além de uma forte exportação em 2014 e 2015".

Previsão de preços do café arábica - Citigroup

1º trimestre de 2016: 130,00 centavos de dólar por libra-peso

2º trimestre de 2016: 130,00 centavos de dólar por libra-peso

3º trimestre de 2016: 135,00 centavos de dólar por libra-peso

4º trimestre de 2016: 135,00 centavos a libra-peso



Commerzbank

"Ao todo, a oferta de café é de certa forma abundante. Mas outro déficit no mercado está previsto para 2015/16. Os números, no entanto, são bem variados. Cerca de 2,5 milhões de sacas, em média".

"A temporada 2014/15 foi provavelmente fechada com um déficit, estimado em cerca de 7 milhões de sacas. O fato de as exportações mundiais de café caíram 3%, o primeiro declínio em cinco anos, deve ser atribuído à menor quantidade disponível após fortes exportações dos estoques no ano anterior".

"Esperamos que os déficits no mercado de café e os baixos estoques de arábica serão fortemente refletidos na evolução dos preços nos próximos trimestres".

"É esperada uma boa safra brasileira, isso se materializando, os preços vão recuar novamente".

"Dito isto, a depreciação do real maior que o esperado ao longo do ano deve pesar sobre o preço do arábica, segundo nossos analistas de câmbio".

Previsão de preços do café arábica - Commerzbank

1º trimestre de 2016: 130,00 centavos de dólar por libra-peso

2º trimestre de 2016: 120,00 centavos de dólar por libra-peso

3º trimestre de 2016: 110,00 centavos de dólar por libra-peso

4º trimestre de 2016: 110,00 centavos a libra-peso



Goldman Sachs

"Depois dos preços ficarem perto de 135 centavos de dólar por libra-peso em meados de outubro. Após a previsão da Conab de 42,15 milhões de sacas em 2015/16, os preços caíram para o menor patamar em dois anos".

"Nós vemos três fatores-chave por trás deste movimento: A Colômbia revisou as normas mínimas de qualidade de exportação em resposta às preocupações de menor produção por conta do El Niño; depois de preocupações sobre a falta de umidade no Brasil, as chuvas voltaram; e com o aumento da taxa de juros dos EUA, os principais produtores são suscetíveis de ver renovada a pressão sobre as taxas de câmbio".

"Ainda há grande divergência nas estimativas de produção para 2015/16. Com a possibilidade de condições de El Niño mais visíveis ao longo do próximo inverno de 2016/17, os rendimentos permanecem incertos".

"Dessa forma, acreditamos que os preços tendem a permanecer voláteis por algum tempo. No entanto, sob as condições meteorológicas atuais nós continuamos a ver preocupações de rendimento e tendência de custos mais altos [estimulados pela fraqueza das moedas dos países produtores]"



Rabobank

"Os futuros do café em 2016 permaneceram sobre pressão por conta da fraqueza da moeda dos países produtores".

"As economias dependentes das exportações de commodities, incluindo entre outros, a Colômbia, Brasil, América Central, Burundi e Indonésia, vão ter problemas decorrentes da fraqueza de suas moedas em 2016, de uma forma ou outra".

"No entanto, com base nas questões fundamentais, nós ainda acreditamos em um cenário otimista – sustentado em um déficit acentuado de 6,1 milhões de sacas em 2014/15 e 2,7 milhões de sacas em 2015/16 – uma vez que as exportações brasileiras estão a todo vapor".

"Além disso, o sentimento de alta pode aumentar se as visitas ao redor das regiões cafeeiras do Brasil em janeiro e fevereiro mostrar que a produção de 60 milhões de sacas não será alcançada em 2016/17, o que acreditamos ser o cenário mais provável".

Previsão de preços do café arábica - Rabobank

1º trimestre de 2016: 131,00 centavos de dólar por libra-peso

2º trimestre de 2016: 128,00 centavos de dólar por libra-peso

3º trimestre de 2016: 123,00 centavos de dólar por libra-peso

4º trimestre de 2016: 122,00 centavos a libra-peso



Societe Generale

"Esperamos que a demanda continue melhorando e ajude a remover o café de estoques globais no curto e médio prazo, ajudando a sustentar os preços, assumindo que não há novos choques econômicos significativos atingindo os mercados globais".

"Os preços do café local no Brasil estão agora se aproximando do custo de produção. O incentivo econômico para seguir práticas adequadas e expandir a produção em muitas áreas também está diminuindo".

"As condições de El Niño podem levar à diminuição da produção e preços mais elevados serem registrados nos próximos meses, e este rally poderia continuar em 2017".

Previsão de preços do café arábica - Societe Generale

1º trimestre de 2016: 128,58 centavos de dólar por libra-peso

2º trimestre de 2016: 128,59 centavos de dólar por libra-peso

3º trimestre de 2016: 131,17 centavos de dólar por libra-peso

4º trimestre de 2016: 129,67 centavos a libra-peso